terça-feira, 12 de junho de 2012

HISTÓRIA DO BRASIL: o "Descobrimento"



HISTÓRIA DO BRASIL:
o "Descobrimento"
Viagem: de Pedro Álvares Cabral


Pedro Álvares Cabral
O descobrimento do Brasil

A chegada dos portugueses a terras do Brasil em 1500 colocou em confronto culturas notadamente diversas. A européia que tinha em sua base cultural a nobreza, as relações mercantis e o cristianismo. A indígena valorizava a vida comunitária, a relação com a natureza e a pajelança e o xamanismo. 

Logo vieram também os africanos sob a condição de escravos.
Nesses mais de 500 anos de história, formou-se no Brasil uma sociedade original. Para os europeus portugueses e seus descendentes, reproduziu-se no Brasil seus valores e a cristandade.

 Para os ameríndios, a destruição quase completa de sua cultura original e o extermínio de povos inteiros.

 Para os africanos e afro-brasileiros, a escravidão, o racismo e a discriminação.
Valeu a pena? Comodiria o poeta Fernando Pessoa: "tudo vale a pena, se a alma não é pequena."
1500: a chegada dos portugueses.

No final da Idade Média, a partir de 1415, Portugal iniciou uma experiência fundamental para os tempos modernos: as Grandes Navegações. Singrou mares e oceanos desconhecidos dos europeus, até chegar, em 1543, ao outro extremo da Terra, ao Japão.

No inicio dos tempos modernos, a Europa ocidental passava por mudanças internas profundas e importantes. Nas cidades, cresciam as atividades artesanais, comerciais e financeiras. Surgiram novos personagens sociais, como os mercadores, artesãos, funcionários públicos, cambistas e banqueiros, cujos                                                                                                                                          interesses entravam em choque com a nobreza feudal. No âmbito da vida política, alguns reis começavam a impor sua autoridade aos senhores feudais.

Essas mudanças levaram, entre o final do século XV e o começo do século XVI, a uma forte expansão marítima e comercial fomentada pela burguesia e pelas monarquias nacionais européias. Começava a época das grandes navegações.

Nesse processo de transformação do mundo ocidental, destacaram-se a burguesia mercantil e as monarquias nacionais, além de setores da própria nobreza, que lançaram os europeus à conquista do mundo através das grandes navegações.

Para boa parte da burguesia, a expansão marítima era uma necessidade econômica e política. As monarquias nacionais absolutas foram promotoras das Grandes Navegações – das cobranças de impostos à imposição da justiça e ao recrutamento militar foi fundamental para a expansão do capitalismo mercantil e das conquistas marítimas.

A centralização e o fortalecimento do Estado mostraram-se importantes para o desenvolvimento da economia capitalista mercantil. Do século XII ao século XVIII, o capitalismo baseou-se na atividade comercial. Foi a aplicação de investimentos de capitais no comércio de produtos entre mercados regionais, nacionais e internacionais que possibilitava a obtenção do lucro e a acumulação de capital.

Os produtos mais cobiçados eram metais preciosos, ouro ou prata, o chamado Metalismo, com a finalidade de se acumular metais preciosos, chamado de Entesouramento.

Coube aos portugueses iniciar a procura de novas rotas comerciais, atraídos pelo comércio de especiarias e pelas fabulosas riquezas que, segundo as lendas, existiriam nos continentes africano e asiático.

Tais lendas povoavam o imaginário dos europeus desde a época dos relatos de viagens de Marco Pólo à China, no século XIII.

Portugal possuía algumas vantagens que possibilitaram o seu pioneirismo: foi o primeiro país europeu a constituir um Estado nacional, território autônomo cujos súditos se submetiam ao mesmo rei; possuía um único exército e falavam a mesma língua, seguiam a mesma religião e obedeciam às mesmas leis; tinha uma localização geográfica favorável á navegação; tinha experiência na indústria pesqueira no alto mar.

O comércio constituiu o principal estímulo para os portugueses se lançarem aos mar. Buscavam, sobretudo, os produtos asiáticos de luxo, inexistentes na Europa, como especiarias, sedas, jóias, porcelanas.

As especiarias ou “drogas das Índias” eram aromas, perfumes, remédios, bálsamos, temperos, incensos, como a pimenta da Índia, a canela do Ceilão, o cravo das ilhas Molucas, a noz-moscada das ilhas de Banda e o gengibre de Madagascar e da Índia. Eram grandes riquezas, cujo alto lucro comercial instigava a cobiça e a ambição.


                                                                             
                                                                 
Joao de Castro, 1500-1548, explorador portugues, vice-rei da India. Retrato do Codex Lisuarte de Abreu, 1558. Biblioteca Pierpont Morgan, Nova York.

Além das razões de ordem material, havia um componente ideológico entre as nações européias que deram início às Grandes Navegações – Portugal primeiro, depois a Espanha – era o sentimento de que era preciso difundir com urgência a fé católica entre os povos não cristianizados.


 Basta lembrar que Portugal e Espanha se formaram e expandiram seus territórios durante a Guerra de Reconquista (séculos VII ao XV), uma série de conflitos entre cristãos e muçulmanos, na península Ibérica, que, apoiada pela Igreja Católica, reforçou a estreita ligação entre Portugal e Espanha e o Cristianismo.

Fundiam-se assim, num único corpo ideológico, o novo interesse mercantil com a velha mística cruzadista – a procura do lucro com a defesa da fé.


 A partir de então, as expedições portuguesas seriam organizadas como empreendimentos comerciais, militares e religiosos enviadas em nome da “missão” ou “destino” do império luso de expandir a cristandade em outras terras.

As grandes navegações portuguesas consolidou-se como um projeto claramente definido pelo Estado, a partir de 1385 com o triunfo da Revolução de Avis, que pôs no poder em Portugal a dinastia de Avis que influenciou diretamente a expansão marítima portuguesa.


 Combinando a busca de conhecimento com interesses comerciais e políticos, os Avis traçaram uma estratégia de inicialmente conquistar algumas posições no norte da África.


 Mais tarde, passou a ser a descoberta de uma rota marítima para as Índias que contornasse a costa africana.

Para o empreendimento, foram atraídos no exterior, sobretudo nas cidades da península Itálica, pilotos, técnicos especialistas, físicos, geógrafos, cosmógrafos e cartógrafos. Reunidos pelo príncipe dom Henrique no Algarves, a partir de 1415, esses homens constituiriam a suposta Escola de Sagres.
                                                                                 

Instrumento de navegação. Agulha de Marear,Museu da Marinha, Rio de Janeiro.

Astrolábio Nautico. Museu da Marinha, Rio de Janeiro.

Marco inicial nesse movimento expansionista foi a expedição a Ceuta, em 1415, na costa do Marrocos atual, junto ao estreito de Gibraltar, que visava tomar esse entreposto comercial e militar árabe e, por meio dele, fixar uma boa posição portuguesa no norte da áfrica.

Na década de 1420, os portugueses deram inicio à ocupação das ilhas da Madeira e dos Açores, onde introduziriam o trigo, a vinha e a cana-de-açúcar. Em 1434, a expedição de Gil Eanes ultrapassou o temido cabo Borjador, intensificando a exploração da costa africana. Escravos, ouro e marfim eram os alvos dos exploradores, apoiados nas feitorias, entrepostos comerciais fortificados, que eram instalados na costa.

Com a presença espanhola no oceano Atlântico, os portugueses logo passaram a negociar a divisão das futuras conquistas com os espanhóis.


 Depois de recusar proposta do papa Alexandre VI – divisão das terras a serem encontradas por um meridianos traçado a 100 léguas a oeste do Cabo Verde –, Portugal assinou com a Espanha em 1494 o Tratado de Tordesilhas.


 O acordo assegurava aos portugueses a posse das terras existentes a ocidente até 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde.


                                                                                     
                                                                               

Portugal insistiu no “périplo africano”, isto é, no contorno da áfrica rumo ao Oriente. Em 1498, no reinado de dom Manuel, o Venturoso (1495-1521), Vasco da Gama partiu de Lisboa e finalmente chegou a Calicute, na Índia atual.





                                                                                    
A Caravela. Academia das Ciências de Lisboa, Portugal.

Texto e Contexto

Em Os Lusíadas, Luís de Camões toma como assunto central a viagem de Vasco da Gama, exaltando a glória das conquistas realizadas pelo navegador e o ideal de expansão da fé católica:
“As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca d’antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana [ilha do Índico]
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas [não-católicas]
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.”
(CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1931.)

Para consolidar o comércio das especiarias, uma nova expedição foi enviada dois anos depois. Era a frota de Pedro Álvares Cabral.

Até Cabo Verde, a rota foi fielmente seguida. Após o arquipélago, a frota desviou-se para ocidente, no rumo sudoeste. 


Em 22 de abril, os portugueses avistaram um monte, que chamaram Pascoal, e a linha da costa, no sul da atual Bahia. 


O desvio, provavelmente deliberado e não casual, faz supor que, além do roteiro conhecido, a esquadra tivesse a missão não divulgada de comprovar a existência de terras no Atlântico Sul dentro da área prevista em Tordesilhas.

Cabral e seus homens batizaram as novas terras de
 Ilha de Vera Cruz, logo depois o nome foi modificado para Terra de Santa Cruz.


 Para comunicar o feito ao rei dom Manuel, foi enviado a Portugal uma carta de Pero Vaz de Caminha.

Em Portugal na Europa, o feito de Cabral foi considerado um “descobrimento”, ou “achamento”, no vocabulário da época.


 Mas recentemente, a expressão Descobrimento vem sendo criticada, pois ela revela apenas a visão portuguesa e européia – ou visão eurocêntrica – do acontecimento.

Texto e Contexto
A Carta de Caminha

“Esta terra, Senhor (...) nela, até agora não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém, a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados...
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
E que aí não houvesse mais que ter esta pousada para esta navegação de Calicute, isso bastaria. Quanto mais disposição para nela se cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, o acrescentamento da nossa anta fé.”
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, seta-feira, 1° de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.

Antes de Cabral, as terras que hoje fazem parte do Brasil já haviam sido visitadas por navegantes europeus. Já em 1325 lendas e mapas europeus falam da ilha Brasil, associada ao pau-brasil e a virtudes paradisíacas. 

Portugal pode ter chegado ao Brasil no fim do século XV em expedições de arcano (sigilosas), entre elas a de João Coelho da Porta da Cruz (1493). É certo que o espanhol Vicent Pinzón, a 26 de janeiro de 1500, desembarcou na ponta de Mucuripe, no litoral do atual estado do Ceará. 

Colombo no Atlantico rodeado por monstros. Gravura de Theodore de Bry, século XVI. 


    
   
Conquista de Ceuta, 1415, pelo infante português D. Henrique. Azulejo do século XIX.

Até o início das Grandes Navegações, o oceano Atlântico era praticamente desconhecido pelos europeus. Muitos acreditavam tratar-se de um mar povoado por monstros diabólicos. 

Por isso, era chamado de Mar Tenebroso. Muitos eram os medos dos europeus em relação ao desconhecido (tanto o vasto oceano Atlântico quanto o continente americano). 

Com as Grandes Navegações, novos continentes, assim como o oceano Atlântico, passaram a ser conhecidos, tendo aos poucos seus segredos desvendados. Enfrentar todos esses desafios reais e os imaginários foi tarefa pioneira dos portugueses.

Contudo, além do gosto pela aventura, os portugueses estavam à procura de riquezas e de possibilidades comerciais.

Em relação ao Brasil, as novas terras permaneceriam inexploradas por muitos anos, já que os esforços dos portugueses na época se concentravam nas feitorias africanas e no comércio de seus domínios no Oriente.

                                                                                     
Desembarque de Cabral. Tela de Oscar da Silva, século XIX. Museu Paulista, São Paulo.

As primeiras expedições portuguesas percorreram a costa da foz do Amazonas até o estuário do rio da Prata, no extremo sul. De imediato, a principal riqueza encontrada para explorar e comercializar foram as toras de uma árvore, o pau-brasil, madeira já conhecida na Europa, da qual se extraía um pigmento para tinturas em tecido e papel.

A exploração do pau-brasil foi arrendada, em 1502, a Fernão de Noronha, chefe de um grupo de cristãos-novos que se dedicavam ao comércio. 

Sua exploração, feita com base no trabalho dos indígenas, constituiu a primeira atividade econômica da nova colônia portuguesa na América, o Brasil. 

O pau-brasil, assim chamado pelos europeus, crescia naturalmente em quase todo o litoral brasileiro, na mata Atlântica. Com sua exploração, a Mata Atlântico do litoral foi destruída já no primeiro século de conquista.   
                             
                                                                                  
A chegada dos europeus à América. A cruz, a espada e as trocas comerciais presentes na conquista. Theodore de Bry, 1594.
Mapa Terra Brasilis, imagem bela e bucólica do Brasil no primeiro século, onde se observa a fauna, a flora e os indígenas sendo explorados para extração do pau-brasil. Atlas Miller de Lopo Homem, 1515-1519.

A ameaça estrangeira à posse da terra chegou a tal ponto na década de 1520 que o governo português se viu obrigado a enviar para cá expedições militares, chamadas de guarda-costas. Contudo, a solução foi a defesa permanente da costa, com vilas e povoados para iniciar a ocupação das terras e que pudessem impedir a atividades comerciais dos estrangeiros.

Grandes Navegações e Descobrimentos

1255 – No documento Foral de Gaia, faz-se referência a um navio chamado caravela, utilizado em atividades de pesca. É a mais antiga menção conhecida ao navio dos descobrimentos.

1336 – Marinheiros genoveses, a serviço de Portugal, teriam chegado às ilhas Canárias. Lanzarotto Malocello seria um deles.

1415 – Sob o comando do rei D. João I, e com a participação de seus filhos mais velhos, Portugal conquista Ceuta, fato que marca o início da expansão ultramarina.

1435 – Gil Eanes avança pelo litoral africano e ultrapassa o cabo Bojador.

1445 – Seis caravelas desembarcam na “Terra dos Negros” (Senegal).

1445-1448 – Construção da primeira fortificação portuguesa na África (Ilha de Aguim).

1487-1488 – Sob o comando de Bartolomeu Dias, expedição portuguesa atinge os limites austrais da África, ultrapassando o cabo das Tormentas.

1492-1493 – Viagem de Cristovão Colombo à América.

1494 – Tratado de Tordesilhas.

1497-1498 – Viagem de Vasco da Gama, com a qual se inaugura a carreira da Índia.

1499-1500 – Preparativos para a segunda expedição às Índias, sob o comando de Pedro Álvares de Gouveia, que depois da viagem adota o patronímico Cabral.

1507 – O nome América é registrado, pela primeira vez, no mapa de Martin Waldssemüller, para designar – em homenagem a Américo Vespúcio – o continente descoberto por Colombo.

1516-1519 – Expedições guarda-costas portuguesas, para combater espanhóis e franceses.

1519-1521 – Viagem de circunavegação, sob o comando do português Fernão de Magalhães, então a serviço de Castela.

1530-1533 – Expedição de Martim Afonso de Souza, com o objetivo de dar combate aos franceses e iniciar a colonização sistemática do Brasil, tomando posse definitiva do território, desde o Amazonas até o rio da Prata.

domingo, 10 de junho de 2012

Hominização


A hominização é o processo evolutivo que conduziu, a partir de um primata ainda desconhecido, à forma atual do homem, quer física quer intelectualmente. A paleontologia é a ciência que evidenciou as leis gerais segundo as quais esta evolução se parece ter efetuado. Vejam o próximo vídeo:

                                                                      A evolução do Homem


                                                                Os primeiros seres Humanos



Foram necessários milhões de anos para que o homem aparecesse como um ser distinto do mundo animal.

Essa transformação iniciou-se na sequência de alterações climáticas registadas em África, e quando afloresta dá lugar à savana. Assim, as espécies de primatas que viviam nesses locais vão ter de adaptar-se a este novo habitat e meio ambiente.

Vivendo num ambiente desprotegido e por razões de sobrevivência, estes hominídeos (primatas em transformação) vão ter de progressivamente passar a deslocar–se sobre os dois membros inferiores, até adquirirem completamente a verticalidade.

A adaptação a este novo meio ambiente está na origem do surgimento das características que definem a espécie humana:
§         Bípede / erecto
§         Mãos hábeis
§         Cérebro complexo

A aquisição da verticalidade (bipedia), a libertação das mãos da sua função locomotora, assim como o desenvolvimento do cérebro e da linguagem são reveladores da progressiva evolução da espécie humana.

Os hominídeos sobreviveram e adaptaram–se às diferentes regiões e climas  porque descobriram técnicas e processos de dominar a  natureza . Neste processo foi importante a vida em grupo.

 O homem foi o único animal capaz de criar meios técnicos e culturais para sobreviver. Assim oaperfeiçoamento a diversificação e a especialização dos instrumentos, bem como o domínio do fogoforam factores essenciais para o controle progressivo da natureza por parte do homem.

O domínio do fogo teria compreendido 3 fases distintas:
1.     Conseguir vencer o medo instintivo (observação de fenómenos naturais como a trovoada, raios, incêndio)
2.     Compreender os benefícios da sua utilização
3.     Conservação do fogo natural e a aprendizagem da sua produção

O domínio do fogo possibilitou ao homem:
§         Cozinhar os alimentos (qualidade e quantidade de alimentos)
§         A sobrevivência em locais frios (aquecimento e iluminação)
§         Afastar os animais ferozes (segurança)
§         Transformação dos instrumentos
§         Socialização (convívio)

O homem do paleolítico foi essencialmente um recolector e caçador. A caça foi uma actividade que intensificou a socialização e o desenvolvimento das capacidades de comunicação.

O fim das glaciações e a consequente melhoria climática tiveram como consequências o aumento da população, o que originou a migração do homem para outras regiões do globo e o alargamento das áreas habitadas.

A Educação no Japão - um desafio à cosmovisão teísta cristã no Brasil



Sempre ouvi as comparações entre a Educação Brasileira e a Educação Japonesa. Ouvia, desde pequeno, que o Japão investira na figura do professor, daí eles terem se superado após a tragédia do fim da 2ª Guerra Mundial (como se já não houvesse  a cultura japonesa antes da destruição de Hiroshima e Nagasaki). 


Bem, quanto à educação brasileira, guardarei para mim as severas críticas que tenho colecionado nos últimos anos sobre esse nosso sistema de ensino.

 Agora, quanto ao Japão e a sua tão propalada ênfase na educação, gostaria de compartilhar algumas reflexões.

Quando somos instados a olhar para uma cultura sob o manto que a cobre, para baixo do que é visto por todos, chegando à raiz da sua cosmovisão, passamos a entender e compreender muito mais do que julgamos apenas pelo olhar preguiçoso e, muitas vezes , etnocêntrico.

Para baixo do manto do que se vê, há a cosmovisão, que é aquilo que integra e legitima nossa cultura.

 Por que fazemos o que fazemos? Por que somos do jeito que somos? Por que pensamos assim e não de outra maneira?


Nas palavras de Paul Hiebert (O evangelho e a diversidade das culturas), a "nossa cosmovisão fortalece nossas crenças fundamentais com um reforço emocional para que elas não sejam facilmente destruídas".


 Hiebert esclarece mais ainda quando nos diz que "nossa cosmovisão nos dá fundamentos cognitivos sobre os quais construir nossos sistemas de explicação, fornecendo uma justificativa racional para crença nesses sistemas". 


Aplicando essas definições ao assunto da educação japonesa, pergunto: 


"Por que o japonês valorizou e valoriza o professor no sistema de sua sociedade"? Por muitos anos, sempre ouvi como resposta que tudo se devia a uma simples escolha:


 o Brasil escolhera investir em estradas, o Japão em educação.

 Simples assim? Claro que não! As escolhas políticas, econômicas e até mesmo ideológicas são apenas o manto da cultura. 

Lá no fundo, bem no fundo, existem os pressupostos:


 as regras do jogo que aceitamos e que sequer as questionamos. Os pressupostos nos levam ao raciocínio, este, por sua vez, analisa os dados de nossas experiências para, finalmente, tirarmos nossas conclusões. 

O professor japonês ser uma peça de máxima importância é a conclusão, é o resultado de pressupostos. 

Mas quais pressupostos sustentam a conclusão japonesa? A cosmovisão animista é o que dá subsídio para a conclusão final, para a reverência ao professor no Japão.

 O Xintoísmo e o Zen-Budismo fornecem mais elementos que findam por destruir o mito de uma simplista escolha japonesa pela educação. 

Uma escolha com consequências sociais, políticas, morais, econômicas indubitavelmente, todavia, antes de tudo, a cosmovisão animista foi a base de pressupostos que conseguiu gerar uma moral da educação (o que, sinceramente, não encontro no Brasil).

 Por quê? Veja abaixo:


"Diferentemente do ocidente, no oriente o budismo ensinou o caminho da salvação pela razão (iluminação). Na cultura desse povo, tudo ligado ao conhecimento e ao aprimoramento da alma, é respeitado e venerado: as escolas, os professores, os livros, os santuários, os templos, os monges, os artistas, as obras de arte.

 Na hierarquia social, o professor terá sempre ascendência sobre seus ex-alunos indiferentemente da posição social que ocupem no futuro, pois na gênese cultural do xintoísmo – religião primitiva do Japão – está a perfeição do lado divino do ser humano e cabe ao educador apenas saber extraí-lo – como a escultura Pietá de Michelangelo, cuja extrema perfeição, ao ser elogiada, ouviu-se do artista que a perfeição já estava lá.

 Ele retirara apenas os excessos. A gratidão a esse trabalho do professor é eterna.

 Os japoneses têm um nome para a tarefa educacional, quer seja do professor ou dos pais: “shin-sei kaihatsu” (shin = Deus, sei = natureza, kaihatsu = desenvolver, manifestar), fazer manifestar o lado divino e perfeito de cada um.

 A grande vergonha de um professor é o fracasso do aluno"



Para finalizar, fica a indagação: o que a cosmovisão teísta cristã conseguiu fazer no Brasil em prol do professor e da Educação? Para não soar muito pessimista, reformulo a pergunta: O que a cosmovisão teísta cristã construirá culturalmente em favor da Educação Brasileira? Aqui, vou dar a mão à palmatória quando se alegar que o Japão é uma tradição milenar, matura milenarmente sua cosmovisão animista. 


Verdade. No Brasil, ainda recém-nascidos em berço esplêndido,  já rejeitamos as tradições de vulto que ergueram as culturas americana e européia.

 O Brasil  moderno nasceu da decadência da modernidade européia, assim, sequer poderemos falar em maturar tradições (mas, aqui, já é assunto para outro post).

Passei anos ouvindo outro mito destrutivo também: "Professor é um sacerdócio"! Será que foi apenas isso o que a nossa cosmovisão teísta cristã conseguiu produzir? Se foi, é uma lástima, pois a máxima popular que acabei de citar tem sido usada por décadas apenas para reduzir salários, criar uma cultura de vitimismo no meio dos professores e justificar o sofrimento masoquista dos mesmos em sala de aula. 

Da minha parte, pelo menos, creio: professor, definitivamente, não é padre! 

PS - Como ilustração de tudo o que escrevi acima, incentivo a leitura de todo o artigo cujo trecho extraí para este post e, também, indico o ótimo filme Madadayo 
 fizemos a comparação da filosofia da educação no Japão e no Brasil. 


Sobre o genial diretor de Madadayo, Akira Kurosawa, assista ao vídeo abaixo também:





                                                     
Título original: "A Educação Japonesa em Madadayo (ou "A


 cosmovisão sob o olhar de Akira Kurosawa")