domingo, 10 de junho de 2012

A Educação no Japão - um desafio à cosmovisão teísta cristã no Brasil



Sempre ouvi as comparações entre a Educação Brasileira e a Educação Japonesa. Ouvia, desde pequeno, que o Japão investira na figura do professor, daí eles terem se superado após a tragédia do fim da 2ª Guerra Mundial (como se já não houvesse  a cultura japonesa antes da destruição de Hiroshima e Nagasaki). 


Bem, quanto à educação brasileira, guardarei para mim as severas críticas que tenho colecionado nos últimos anos sobre esse nosso sistema de ensino.

 Agora, quanto ao Japão e a sua tão propalada ênfase na educação, gostaria de compartilhar algumas reflexões.

Quando somos instados a olhar para uma cultura sob o manto que a cobre, para baixo do que é visto por todos, chegando à raiz da sua cosmovisão, passamos a entender e compreender muito mais do que julgamos apenas pelo olhar preguiçoso e, muitas vezes , etnocêntrico.

Para baixo do manto do que se vê, há a cosmovisão, que é aquilo que integra e legitima nossa cultura.

 Por que fazemos o que fazemos? Por que somos do jeito que somos? Por que pensamos assim e não de outra maneira?


Nas palavras de Paul Hiebert (O evangelho e a diversidade das culturas), a "nossa cosmovisão fortalece nossas crenças fundamentais com um reforço emocional para que elas não sejam facilmente destruídas".


 Hiebert esclarece mais ainda quando nos diz que "nossa cosmovisão nos dá fundamentos cognitivos sobre os quais construir nossos sistemas de explicação, fornecendo uma justificativa racional para crença nesses sistemas". 


Aplicando essas definições ao assunto da educação japonesa, pergunto: 


"Por que o japonês valorizou e valoriza o professor no sistema de sua sociedade"? Por muitos anos, sempre ouvi como resposta que tudo se devia a uma simples escolha:


 o Brasil escolhera investir em estradas, o Japão em educação.

 Simples assim? Claro que não! As escolhas políticas, econômicas e até mesmo ideológicas são apenas o manto da cultura. 

Lá no fundo, bem no fundo, existem os pressupostos:


 as regras do jogo que aceitamos e que sequer as questionamos. Os pressupostos nos levam ao raciocínio, este, por sua vez, analisa os dados de nossas experiências para, finalmente, tirarmos nossas conclusões. 

O professor japonês ser uma peça de máxima importância é a conclusão, é o resultado de pressupostos. 

Mas quais pressupostos sustentam a conclusão japonesa? A cosmovisão animista é o que dá subsídio para a conclusão final, para a reverência ao professor no Japão.

 O Xintoísmo e o Zen-Budismo fornecem mais elementos que findam por destruir o mito de uma simplista escolha japonesa pela educação. 

Uma escolha com consequências sociais, políticas, morais, econômicas indubitavelmente, todavia, antes de tudo, a cosmovisão animista foi a base de pressupostos que conseguiu gerar uma moral da educação (o que, sinceramente, não encontro no Brasil).

 Por quê? Veja abaixo:


"Diferentemente do ocidente, no oriente o budismo ensinou o caminho da salvação pela razão (iluminação). Na cultura desse povo, tudo ligado ao conhecimento e ao aprimoramento da alma, é respeitado e venerado: as escolas, os professores, os livros, os santuários, os templos, os monges, os artistas, as obras de arte.

 Na hierarquia social, o professor terá sempre ascendência sobre seus ex-alunos indiferentemente da posição social que ocupem no futuro, pois na gênese cultural do xintoísmo – religião primitiva do Japão – está a perfeição do lado divino do ser humano e cabe ao educador apenas saber extraí-lo – como a escultura Pietá de Michelangelo, cuja extrema perfeição, ao ser elogiada, ouviu-se do artista que a perfeição já estava lá.

 Ele retirara apenas os excessos. A gratidão a esse trabalho do professor é eterna.

 Os japoneses têm um nome para a tarefa educacional, quer seja do professor ou dos pais: “shin-sei kaihatsu” (shin = Deus, sei = natureza, kaihatsu = desenvolver, manifestar), fazer manifestar o lado divino e perfeito de cada um.

 A grande vergonha de um professor é o fracasso do aluno"



Para finalizar, fica a indagação: o que a cosmovisão teísta cristã conseguiu fazer no Brasil em prol do professor e da Educação? Para não soar muito pessimista, reformulo a pergunta: O que a cosmovisão teísta cristã construirá culturalmente em favor da Educação Brasileira? Aqui, vou dar a mão à palmatória quando se alegar que o Japão é uma tradição milenar, matura milenarmente sua cosmovisão animista. 


Verdade. No Brasil, ainda recém-nascidos em berço esplêndido,  já rejeitamos as tradições de vulto que ergueram as culturas americana e européia.

 O Brasil  moderno nasceu da decadência da modernidade européia, assim, sequer poderemos falar em maturar tradições (mas, aqui, já é assunto para outro post).

Passei anos ouvindo outro mito destrutivo também: "Professor é um sacerdócio"! Será que foi apenas isso o que a nossa cosmovisão teísta cristã conseguiu produzir? Se foi, é uma lástima, pois a máxima popular que acabei de citar tem sido usada por décadas apenas para reduzir salários, criar uma cultura de vitimismo no meio dos professores e justificar o sofrimento masoquista dos mesmos em sala de aula. 

Da minha parte, pelo menos, creio: professor, definitivamente, não é padre! 

PS - Como ilustração de tudo o que escrevi acima, incentivo a leitura de todo o artigo cujo trecho extraí para este post e, também, indico o ótimo filme Madadayo 
 fizemos a comparação da filosofia da educação no Japão e no Brasil. 


Sobre o genial diretor de Madadayo, Akira Kurosawa, assista ao vídeo abaixo também:





                                                     
Título original: "A Educação Japonesa em Madadayo (ou "A


 cosmovisão sob o olhar de Akira Kurosawa")

                                                      

                                                    

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