domingo, 15 de julho de 2012

A Estátua da Liberdade é americana. FALSO!

Erguendo-se na entrada do porto de Nova York, este cartão-postal foi projetado e esculpido nos Estados Unidos para comemorar o centenário da independência do país, certo? Errado!

por Olivier Tosseri
 
Wikimedia Commons

A Estátua da Liberdade, monumento cujo nome oficial é “A Liberdade Iluminando o Mundo”, na verdade é uma obra francesa. A ideia de sua construção partiu de Édouard Lefèbvre de Laboulaye, historiador e político francês que era grande admirador dos Estados Unidos. Depois do fim da Guerra de Secessão, em 1865, ele propôs ao governo de seu país enviar aos americanos um presente para celebrar o centenário da independência da ex-colônia inglesa, comemorado em 1876. O projeto, confiado ao escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi, deveria simbolizar a amizade entre os dois países.

No entanto, em 1870 eclodiu a Guerra Franco-Prussiana, e a construção da estátua precisou ser interrompida. Mesmo com a volta da paz, novos obstáculos continuaram surgindo. A simpatia que os americanos demonstravam pelos alemães, por exemplo, decepcionava os franceses. Além disso, o futuro da recém-fundada III República francesa ainda era uma incógnita, e muitos deputados achavam inoportuno oferecer um presente daqueles aos Estados Unidos. Mesmo assim, Bartholdi cruzou o oceano Atlântico em 1871 para se encontrar com o presidente Ulysses Grant e checar a ilha de Bedloe, na baía de Nova York, onde a estátua deveria ser erguida.

Em 1875, com uma relativa estabilidade política na França, finalmente ficou decidido que o monumento seria construído, e os americanos deveriam se encarregar somente da base. Bartholdi precisou da ajuda de um engenheiro para elaborar a estrutura interna da obra e escolheu justamente Gustave Eiffel, autor da famosa torre de Paris. A estátua ficou pronta em 1884 e recebeu a visita do presidente francês Jules Grévy e do escritor Victor Hugo. No entanto, seu idealizador, Édouard Lefèbvre, morreu um ano antes de o projeto ser concluído.
 Em 1885, as 350 peças que compõem a estátua foram de trem até a cidade de Rouen, de onde desceram o rio Sena em um barco até o porto de Havre. O navio que carregava o monumento entrou no porto de Nova York em 17 de junho de 1885. Os americanos, porém, tiveram de esperar ainda mais um ano para ver o monumento de pé, já que os trabalhos de construção da base estavam atrasados por falta de financiamento.

Finalmente, em 28 de outubro 1886, foi inaugurada a escultura da mulher vestida com uma toga, empunhando as tábuas que fazem menção à Declaração de Independência de 1776. Somada à altura do pedestal, a estátua mede mais de 90 metros, e durante duas décadas sua tocha foi acesa para guiar as embarcações no porto de Nova York. Com o tempo, a oxidação fez a tonalidade castanho-avermelhada do cobre dar lugar à cor esverdeada que o monumento ostenta hoje.

Com dez anos de atraso, o presente de amizade tinha finalmente chegado ao destino para ali se transformar no mais francês dos símbolos americanos.

fonte: História viva

Não havia higiene na Idade Média?

Os homens cheiravam mal e não trocavam de roupa, e os camponeses viviam com animais. Não existiam banhos, mesmo porque lavar-se não era coisa bem vista. Certo? Errado!


 por Olivier Tosseri
Coleção Waldburg-Wolfegg, Castelo de Wolfegg
Banho público na Alemanha. Ilustração de manuscrito do século XV

Muita gente aprende nos bancos escolares ou em referências no cinema e em livros que os tempos medievais foram um zero à esquerda em matéria de asseio. Não é bem assim. Havia higiene na Idade Média, quando também se usava a água por prazer. Esse só não era um valor tão disseminado como hoje nas sociedades carentes, como em todos os períodos passados, de meios de educação abrangentes e democráticos.

Acervos preciosos de arte e objetos do período incluem itens usados na toalete de homens e mulheres, assim como iluminuras que representam pessoas se lavando. Os tratados de medicina e educação de Bartholomeus Anglicus, Vicente de Beauvais ou Aldobrandino de Siena, monges que viveram no século XIII, mostram uma preocupação real em valorizar a limpeza, principalmente a infantil.

A água era um elemento terapêutico e servia tanto para prevenir quanto para curar as doenças. Desenvolveram-se as estâncias termais e era recomendado e estimulado lavar-se regularmente. Como as casas não tinham água corrente, os grandes locais de higiene eram os banhos. Certamente herdados da Antiguidade, é provável que tenham voltado à moda graças aos cruzados retornados do Oriente, onde se havia conservado a tradição.

Nas cidades, a maioria dos bairros tinha banhos públicos, chamados de “estufas”, cuja abertura os pregoeiros anunciavam de manhã. Em 1292, Paris, por exemplo, contava com 27 estabelecimentos. Alguns deles pertenciam ao clero. O preço da entrada era elevado, e nem todos podiam visitá-los com assiduidade.

Na origem, os frequentadores se contentavam com a imersão em grandes banheiras de água quente. O procedimento se aperfeiçoou com o surgimento de banhos saturados de vapor de água. Utilizava-se o sabonete ou a saponária, planta que fazia a água espumar, para um melhor resultado. Para branquear os dentes, recorria-se a abrasivos à base de conchas e corais.

Tal era o sucesso desses locais que a corporação dos estufeiros foi regulamentada. Eles tinham direito a preços predeterminados e o dever de manter água própria e impedir a entrada de doentes e prostitutas. A verdade, porém, é que as estufas foram se transformando cada vez mais em lugar de encontros galantes: os banhos em comum e os quartos colocados à disposição dos clientes favoreciam a prostituição.

No século XIV, recorreu-se a éditos para separar os homens das mulheres, mas foi durante o século XV que se verificou uma mudança de mentalidade. A Igreja endureceu suas regras morais, pois passou a ver com maus olhos tudo quanto se relacionasse com o corpo. E os médicos já não consideravam a água benéfica, mas sim responsável e vetor de enfermidades e epidemias. Segundo eles, os poros dilatados facilitavam a entrada de miasmas e impurezas.

A grande peste de 1348 recrudesceu esse entendimento. Desde então, passou-se a desconfiar da água, que devia ser usada com moderação. Os banhos declinaram e, pouco a pouco, desapareceram. Foi preciso aguardar o século XIX e o movimento higienista para que se produzisse uma nova mudança de mentalidade.


fonte: História viva