sábado, 14 de julho de 2012

Pequeno histórico sobre o Papel Higiênico.

Você sabia que o papel higiênico produto indispensável para a higiene pessoal tal qual a pasta de dente, ao longo da história era substituído por folhas de alface, trapos, couro, grama, folhas de árvores? Eu ouvi falar que nossos antepassados usavam sabugos de milho.
 Os primeiros a conceber a ideia do uso tal como é hoje, foram os chineses, no século II aC. Não em forma de rolos, mas em folhas únicas que mediam dois metros de largura por 90 cm de altura. Porém, de uso restrito aos imperadores e seus cortesões.

 Na Roma antiga eram utilizados pedaços de lã embebidos em água de rosas. E como gente fina é outra coisa, a realeza francesa usava pedaços de renda ou seda. No mundo nobre de Reis e Rainhas, era comum o uso pelos mais ricos e poderosos de folhas de Cânhamo. Segundo o "Aurélio" uma planta canabínea que fornece uma espécie de fibra têxtil, e um fruto de onde se retira um tipo de óleo.

 Por volta de 1857, um homem chamado Joseph C. Gayetty, lançou o primeiro papel higiênico no mercado. Extremamente caro, o produto consistia em camadas de papel umedecidos com aloe vera. Como slogam de marketing, Gayetty, usou a frase: "a maior necessidade da nossa era, o papel Gayetty, banho medicinal. Convenhamos, tão estranho como o comercial de uma famosa marca atual, que mostra personagens gritando o nome do "mordomo" Alfredo. Naquele tempo, como diria o "outro", já se produziam comerciais "Nadavê".

 O papel higiênico em rolos, tal como conhecemos hoje, começou a ser comercializado em 1880, pelos irmãos Edward e Clarence Scott. No princípio a ideia enfrentou vários obstáculos. Criaram-se tabus em torno do novo produto. Considerou-se imoral e pernicioso, expor os rolos em lojas diante do público em geral.

Até 1935, o papel higiênico que se usava era considerado de baixa qualidade, podiam conter impurezas e eram ásperos. Só a partir deste ano que apareceu o papel absorvente.

Em 1944, ao final da segunda guerra mundial uma grande industria ganhou o reconhecimento do governo dos Estados Unidos, ao fornecer às tropas do exército grande quantidade do produto. Foi uma contribuição enorme para consolidar a sua importância diante do público e fomentar a produção em larga escala.

 Durante a guerra do Golfo, o papel higiênico foi utilizado como estratégia ao enfrentamento das tempestades no deserto. Como os tanques americanos eram pintados de verde contrastavam com a areia branca oferecendo maior exposição ao inimigo. Foi então que os soldados envolveram os tanques com papel higiênico, resultando em uma técnica perfeita de camuflagem.

E quem diria que um produto que no passado tinha que ser vendido com a maior discrição possível, se tornaria estrela em desfiles de moda e astro em produtos de arte. Artistas de renome criaram até vestidos de papel higiênico. E o que dizer do talento de Anastassia Elias, que aproveitou até os tubinhos do rolo para demonstrar sua criatividade?

São quase 140 anos de história e recriação. Passando por 1942 quando se criou a versão dupla camada, até os dias atuais onde o encontramos, ilustrados, coloridos, perfumados, etc.

Segundo a empresa Kimberly-Clark, uma das maiores do ramo, espera-se uma inovação para o produto. Seria a incorporação de loção de Karité,  produzida através do fruto de mesmo nome, e muito conhecida na linha de cosméticos

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Escravo na zona rural no século XIX

A vida do escravo na fazenda era bem mais difícil do que a do escravo urbano, mesmo no período do processo de abolição. Segundo Emília Viotti da Costa, em sua obra Da Senzala à Colônia, o escravo rural era submetido à uma dominação ainda mais repressora que o escravo urbano. 



“O escravo urbano gozava inegavelmente de uma situação superior a do parceiro do campo. As possibilidades que tinha de conseguir a alforria eram maiores, melhores em geral suas condições de saúde, e mais suave o tratamento que recebia, pois os olhos da lei andavam mais perto” (1982: 289)

A vida do escravo na zona rural era bem diferente. No campo o senhor tinha plena autoridade, este que representava a Igreja, a justiça, a força política e militar.

Nas atividades da fazenda o escravo trabalhava uma média de 15 a 18 horas diária. A rotina dos escravos era esta: as 4 ou 5 horas, antes mesmo do sol nascer, se apresentavam ao feitor. Divididos em grupos iam para os cafezais. As 09 ou às 10 horas passavam para almoço, as cozinheiras preparavam a refeição no próprio local, em grandes caldeirões. Meia hora depois recomeçava o serviço.

À uma hora interrompiam o serviço para o café com rapadura. Às 4 horas jantavam e o trabalho prosseguia até o escurecer, quando novamente se apresentavam ao feitor. De volta do campo, dedicavam aos serviços no terreiro nas casas de engenho, no paiol e no preparo dos alimentos para o dia seguinte. As 10 ou 11 horas após uma ceia, recolhiam às senzalas.

Geralmente as senzalas eram construções de pau-a-pique, cobertas de sabe, sem janelas, apenas aberturas de 30 e 40 centímetros junto à cobertura com uma única porta, localizadas próximas à residência dos fazendeiros para poder se fiscalizar melhor os escravos. No corredor das senzalas tinham fogões primitivos onde os negros preparavam alguns pratos simples. Atrás da senzala, ficavam as privadas ou barricas com água que eram diariamente esvaziadas e limpas. Homens e mulheres dormiam em casas separadas, as crianças juntamente com as mães. Em algumas fazendas tinham pequenas cabanas ao lado das senzalas, destinadas aos casais.

Apenas nos domingos e feriados a rotina era alterada. Os escravos trabalhavam pela manhã cortando lenha, limpando córregos, concertando cercas, repassando estradas. À tarde tinham folga. Em certas fazendas alguns escravos recebiam um lote de terra para cultivar. Acreditava o senhor que isto seria uma forma de manter a segurança, pois assim mantinha o escravo ocupado, evitando concentrações. Para evitar tais concentrações, muitos fazendeiros substituíam a folga do domingo por um dia da semana.

Existiam senhores muito devotos que impediam qualquer trabalho aos domingos e dias santificados. Dia de repouso era dia de festa, recebiam roupas limpas, o vestuário era simples. Os homens usavam calça e camisa de algodão grosseiro. Na maioria das fazendas, as roupas eram renovadas apenas uma vez por ano. Geralmente eram trocadas aos domingos e lavadas uma vez por semana. Expostas ao sol e a chuva, as lavagens semanais estragavam as roupas. Negros esfarrapados, mesmo nas melhores fazendas, escandalizavam os viajantes. As escravas utilizadas nos serviços domésticos eram mais bem vestidas.

O pouco dinheiro que o escravo conseguia acumular em horas de trabalho domingueiro gastava em fumo, bebida, bugigangas e roupas. Nas vendas de beira de estrada, a pretexto de se vender cachaça às populações rurais, acobertavam o roubo e o contrabando. Os vendedores agiam muitas vezes como receptores. Galinhas, porcos, objetos de prata, café eram desviados das fazendas.

As posturas municipais tentavam em vão acabar com estes abusos. Uma das leis dizia que, todo aquele que comprasse de escravos café, objetos de prata, ouro brilhantes, ou qualquer objeto de casa, sem ordem por escrito do seu senhor, seria multado em 30$000 e encarcerado oito dias. Autorizava-se qualquer pessoa do povo a prender o escravo que encontrasse vendendo qualquer dos objetos mencionados, desde que testemunhado por duas pessoas.

As leis se repetiam, o que demonstrava sua ineficiência. A prática persistia. Um dos recursos utilizados pelos senhores para conter a população escrava era a religião, ela aparecia como mediadora entre senhor e escravo, o consolo do aflito, a esperança do desgraçado, obediência ao senhor, caracterizado como um pai a ser temido e respeitado. Alguns senhores exigiam que os escravos confessassem uma vez por ano. O pensamento da Igreja aconselhava moderação aos proprietários, e aos escravos aconselhava resignação e esperança na vida eterna, humildade e obediência, eis o catecismo do negro.

As fazendas dificilmente tinham um padre permanente. A maioria possuía oratórios e capelas, mas raramente recebiam a visita do capelão da paróquia. Em algumas fazendas, a prática limitava-se a uma reza vespertina. Em outras havia curtas preces de manhã e a noite. Em alguns casos reservava-se as orações para os domingos e dias santificados. Na obscura compreensão do cristianismo os escravos embrulhavam o latim como embrulhavam as práticas religiosas, e de tudo isso resultava um sincretismo muito complexo.

Haviam senhores que permitiam aos sábados e aos domingos e dias de festa, como casamentos e batizados, que escravos promovessem no terreiro os seus batuques. Muitas vezes, as autoridades viam nessas reuniões inofensivas uma séria ameaça à segurança pública e proibiram sua realização

A devoção aos santos, comum à população branca, encontrava-se também difundida entre os escravos.
Na senzala e na casa grande, religião materializava-se. Religião e superstição confundiam-se. A criança adoecia e diziam que era mal olhado, se a enxada quebrava diziam ser obra do saci, responsável também pela louça que quebrava ou pelas coisas que desapareciam.

O feiticeiro tinha muito prestígio entre os escravos, por ser capaz de controlar as forças hostis e prestar benefícios à coletividade. Mas ao mesmo tempo aparecia como uma pessoa perigosa, vivia freqüentemente afastado dos demais, seus medicamentos eram feitos à base de ervas, pedras, excrementos, etc.

Nas fazendas raramente havia assistência médica, nos primeiros tempos, o isolamento em que viviam, a dificuldade dos meios de transportes, o escasso número de médicos disponíveis obrigaram o fazendeiro a transformar-se em médico prático. Os manuais de medicina gozavam de grande prestígio. Eram escritos livros com este propósito, como: “Tratamento das doenças dos negros”, “Dicionário de medicina doméstica popular”, “Guia médico do fazendeiro”.

As más condições higiênicas das senzalas, as penosas condições de trabalho sob o sol e a chuva, a precariedade do vestuário e da alimentação, os estragos causados pela cachaça minavam o corpo do escravo, contribuindo para o alto índice de mortalidade entre eles. A duração média da força de trabalho era de 15 anos e, nas fazendas sempre haviam escravos momentaneamente incapacitados, numa cifra de 10% a 15%. A mortalidade infantil chegava a atingir 88%. A Falta de higiene alimentar também consumia grande número de crianças. As mães eram obrigadas a iniciar cedo a desmama.

Os índices de mortalidade referentes à população negra permaneceram muito altos mesmo depois de abolida a escravidão. A grande mortalidade era provocada principalmente pela febre amarela e a malária. Durante o período da escravidão os maiores índices caíram sobre a população infantil. Durante a campanha abolicionista deram força de argumento aos altos índices de mortalidade.

A população escrava em vez de crescer, diminuiu no decurso do século XIX, como prova de alta mortalidade. As epidemias eram facilitadas pelas más condições higiênicas e pela promiscuidade em que viviam. As mais graves eram a cólera, a febre amarela e a varíola.

A partir de 1885, houve numerosos casos da cólera-morbo. Nesse ano, assumiu tais proporções que, o governo preocupado, tomou medidas para sufocá-la, aconselhando aos fazendeiros o maior desvelo quanto à habitação, vestuário e tratamentos. As epidemias de varíola sucediam-se nas fazendas e nas cidades. No Rio de Janeiro foram numerosos os surtos de varíola e também na província de São Paulo. O “banzo” foi considerado o mal da escravidão, nascia das manifestações de nostalgia que suscitava o regime de escravidão, comparado à liberdade antiga se caracterizava entre os negros pela apatia e por mortal tristeza. Esses sintomas eram o da moléstia do sono.

Causa freqüente da mortalidade eram as picadas de animais venenosos, como aranhas e cobras. Descalços, na lida da lavoura, ficavam sujeitos a serem atacados por elas. Diversas verminoses diminuíam a capacidade de trabalho, produzindo cansaço e apatia. Mas também eram graves os numerosos casos de tétano. Trabalhando nas zonas rurais, os escravo, muitas vezes, contaminavam-se com micróbio do tétano e morriam entre convulsões e enrijecimentos.

Numerosos eram os casos de lepra e retite gangrenosa. A maioria dos senhores alforriava os leprosos, assim como outros cuja moléstia não tinha cura. As queixas contra lázaros que vagavam pelas estradas e acampavam juntos às cidades, pondo em pânico a população, multiplicavam-se. De vários lugares, solicitavam-se da administração medidas que obrigassem os senhores a interná-los, bem como a construção de hospitais com essa finalidade.

A condição do escravo na zona rural foi consideravelmente inferior à condição dos negros na zona urbana, mesmo que na cidade também existissem abusos fora da lei, lei que já era perversa. Na fazenda a lei podia ser ainda mais desrespeitada uma que estava extremamente distante, quando não inexistente.

Referência Bibliográfica
COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. (2ª ed.) São Paulo, Ciências Humanas, 1982.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Instituto Ricardo Brennand


O Instituto Ricardo Brennand é um complexo formado pelo Castelo, Pinacoteca e Biblioteca - edificações em estilo medieval gótico. Voltado à preservação da arte e da cultura, com ênfase no período "Brasil Holandês. O instituto, que nasceu em 2002 com o objetivo de levar oportunidades inéditas de contemplação da arte e aprendizado a grandes parcelas da população, já se destaca no cenário nacional como importante centro de cultura do nordeste brasileiro.

                                                                            


O julgamento de Fouquet                                                                                 
Exposição " O julgamento de Fouquet" na pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand



  Ascensão e queda de Nicolas Fouquet          

A França estava sob o reinado do Rei Luís XIV, eternizado na história mundial como Rei Sol, por sua regência suntuosa e pela frase “O Estado sou Eu!”. Por indicação do Cardeal Mazarino, (primeiro-ministro da corte), Luís XIV nomeou Fouquet para ocupar o cargo mais cobiçado da época, o de Superintendente das Finanças do Reino, o qual ocupou de 1648 a 1661. Durante este período, Fouquet restabeleceu a credibilidade das finanças do Reino e, gozando de privilégios econômicos, multiplicou sua fortuna tornando-se um dos homens mais ricos da França.

A cobiça pelo seu cargo levou Jean-Baptiste Colbert a acusá-lo de peculato e tentativa de sedição junto ao Rei. No dia 17 de agosto de 1661, uma grande festa foi preparada para receber os 600 convidados da corte do Rei Sol. Todos ficaram instalados nas dependências do Castelo de Fouquet, o Vaux-le-Vicomte. Durante os dias da festividade, foram sorteadas armas para os cavalheiros e jóias para as damas. Diante da riqueza e suntuosidade da festa, Luís XIV acaba por se convencer que as acusações de Colbert são verdadeiras, decide decretar a prisão de Fouquet, que só não ocorre durante a festa por Ana da Áustria, mãe do Rei, intervém e dissuade o filho. Mas em 05 de setembro de 1661, Nicolas Fouquet foi submetido a uma corte especial. 

Seu julgamento se arrastou por 3 anos, ao fim dos quais Fouquet foi condenado ao banimento da França e ao confisco de todos seus bens pessoais. Insatisfeito com a sentença, Luís XIV transforma o banimento em prisão perpétua. Nicolas Fouquet foi aprisionado no Castelo de Pignerol, onde faleceu no dia 23 de março de 1680. 

                                                        


                      
Instituto Ricardo Brennand


                                              HISTÓRIA

                                            
Ricardo Brennand nasceu no dia 27 de maio de 1927, na Usina Santo Inácio, no município do Cabo, em Pernambuco, sendo originário de uma família inglesa. Aos quatro anos de idade, porém, veio morar no engenho São João, no bairro da Várzea, na cidade do Recife.

Durante cinco anos – de 1937 a 1942 – o jovem estudou no Colégio Marista, tendo sido aluno também do Colégio Oswaldo Cruz. Toda a sua educação, cabe salientar, foi sempre acompanhada por uma preceptora que, entre outras coisas, lhe ensinou a falar fluentemente as línguas inglesa e alemã.

Em 1949, Ricardo concluiria os cursos de engenharia civil e engenharia mecânica, ambos na Universidade Federal de Pernambuco. Naquele mesmo ano, ele casava com Graça Maria Monteiro. O casal teve oito filhos: Ricardo Filho, Antônio Luís (falecido há 5 anos), Catarina Maria, os gêmeos José Jaime e Maria de Lourdes, Renata, Patrícia e Paula.

Durante muitos anos, Ricardo Brennand se dedicou ao ramo de negócios que a sua família desenvolvera: as indústrias de vidro, aço, cimento, porcelana e açúcar. Mas, como hobby, ele colecionava uma grande quantidade de armas, adquirindo-as sempre em todos os lugares viajados (na Europa e na Ásia), através de leilões, museus, ou mesmo de coleções particulares.

Em 1990, o empresário venderia as fábricas de cimentoAtolParaíba PortlandCimepar Goiás e, com o consentimento dos seus familiares, utilizaria parte dos recursos para fundar o Instituto Ricardo Brennand (IRB), uma sociedade sem fins lucrativos, presidida pelo próprio empresário. O seu Conselho Deliberativo é formado por Nélida Piñon, Joaquim Falcão, Edson Nery da Fonseca, Affonso Emílio Massot e outros.

         Através de um projeto pessoal que associou muita coragem, competência e generosidade, o empresário pôde inaugurar, no segundo semestre de 2002, em terras que no passado pertenceram a João Fernandes Vieira, um empreendimento que representava o seu grande sonho. O Instituto é uma bela homenagem prestada pelo empresário ao seu saudoso tio homônimo. Com isto, Ricardo Brennand criava um pólo turístico cultural local, nacional e global de valor inestimável.

Situado na Alameda Antônio Brennand, s/n, no bairro da Várzea, e todo edificado em estilo medieval gótico, o complexo é formado por três construções distintas – o castelo, a pinacoteca e a biblioteca – nas mesmas terras onde o empresário vivera desde sempre. Contém, também, um auditório para 100 pessoas, com uma área de 1.200 m2.

          O Governo da Holanda reconhecendo que o IRB utilizava uma tecnologia de ponta, no tocante aos controles de umidade e temperatura, entre outros aspectos, colocou o Estado de Pernambuco na rota das grandes mostras internacionais, e permitiu que a exposição itinerante “Albert Eckhout volta ao Brasil (1644 -2002)” fosse transportada para o Recife, dando ensejo à inauguração da pinacoteca.

O IRB trouxe ao Recife, do dia 12 de setembro a 24 de novembro de 2002, a megaexposição do pintor holandês Albert Eckhout (1610 - 1680). Vale salientar que a liberação das 24 obras do acervo do artista só ocorreu após uma década de negociações com o Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. Eckhout veio ao Novo Mundo acompanhando a comitiva do conde Maurício de Nassau, um holandês que governou Pernambuco durante sete anos (1637 - 1644), durante a época da invasão dos flamengos (1630 - 1654). Eckhout foi o primeiro olhar estrangeiro a registrar as riquezas botânica e humana do Brasil colônia.

Na pinacoteca do IRB (cuja área tem 1.200 m2), há uma exposição permanente de paisagens do artista holandês Frans Post (1612 – 1680), permitindo que o visitante faça um passeio histórico pelo Brasil holandês.

Frans Post representou um dos integrantes da comitiva holandesa em Pernambuco, assim como Georg Marcgraff (astrônomo e cartógrafo), Zacarias Wagner (desenhista), e Peter Post (arquiteto), entre tantas outras personalidades competentes. Atuando como a memória visual do conde Maurício de Nassau, Frans Post o acompanhava em todas as campanhas e viagens. 

Na pinacoteca, pode-se apreciar um livro virtual, editado em 1647, cujas páginas são folheadas mediante a colocação das mãos do usuário sobre os sensores existentes. IntituladoRerum octenium in Brasilia, o livro foi elaborado por Gaspar Barleus, englobando 340 páginas, 57 gravuras, 24 mapas e ilustrações de Frans Post. Além disso, estão expostas algumas obras do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

Do acervo da pinacoteca constam, ainda, mapas, moedas, cachimbos, documentos originais do século XVII, e um quadro bastante raro da coleção de Post, intitulado Forte Frederik Hendrik, que retrata a Ilha de Antônio Vaz, em Pernambuco. Essa obra faz parte da chamada primeira fase do artista, época em que ele viveu no Brasil, e representa as primeiras visões de um europeu sobre o Novo Mundo. Sabe-se que, naquele período, ele pintou um total de 18 telas, mas, destas, só restaram 7, estando as demais desaparecidas. 

Somente a título de informação, ressalte-se que um quadro de Frans Post, daquela mesma fase, foi arrematado em 1997, em um leilão em Nova York, por US$ 4,1 milhões, o que representa o valor mais alto já pago por um quadro desse pintor, até o presente.

         Na exposição permanente da pinacoteca é possível se apreciar, inclusive, a maior coleção particular do Brasil de pinturas e paisagens daquele artista holandês. Encontram-se, por outro lado, as obras dos viajantes que vieram ao Brasil depois da abertura dos portos, além de outros expoentes da Academia Imperial. Através daqueles desenhos e gravuras, é possível se conhecer, hoje, como era o Recife no século XVII, incluindo-se as suas flora e fauna.

Em setembro de 2003, por sua vez, inaugurou-se o Museu Castelo São João, uma construção em estilo Tudor, cujo projeto arquitetônico foi inspirado nos castelos da região toscana, na Itália. Esse castelo possui um calabouço, vitrais antigos (originários de igrejas e castelos europeus), portas secretas e um altar em estilo gótico.

O local está repleto de armas brancas e armaduras medievais completas, representando o acervo adquirido por Ricardo Brennand durante meio século de vida. São pinturas, esculturas, vitrais, tapeçarias, desenhos, gravuras, canivetes, estiletes, clavas, adagas, espadas, lanças, armaduras medievais (inclusive para cavalos e cães) e uma série de outras armas para a caça e para a guerra, provenientes de vários séculos e de origens distintas, além de um mobiliário gótico.

No castelo, destaca-se um raríssimo conjunto do século XV, em estilo Maximiniano, de origem germânica, constando de cavalo-cavaleiro-com-armadura, bem como conjuntos de combate, clavas, esferas com pontas e outras peças.

Advindo do século XVI, há uma curiosa armadura para cachorro e vários objetos interessantes, a exemplo de uma adaga indiana do ano de 1700, uma caneca de prata com o brasão da Companhia das Índias Ocidentais, além de espadas-pistola e facas-pistola (lâminas acopladas com armas de fogo). 

Pode-se apreciar, também, valiosas tapeçarias e uma coleção de telas de artistas renomados, tais como Jean Baptiste Debret, Eliseu Visconti, Emil Bauch, Eugène Lassaily e Antonio Facchinetti.

Integrando o grande acervo, estão presentes algumas telas pintadas a óleo - O comércio de escravas brancas (de Domenico Russo), O modelo do artista (de Eliseu Visconti) eDançarina do Harém (de Gaston Guedy) - e a peça Anjo Querubim - uma obra em madeira policromada e dourada, que foi entalhada pelo Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1750 - 1813). Esse trabalho fazia parte, originalmente, da nave central da Igreja dos Clérigos, no Rio de Janeiro. 

O IRB conta, inclusive, com inúmeros trabalhos em mármore, réplicas de estátuas elaboradas por famosos escultores europeus (As Três Graças, O Rapto das Sabinas,Fuga de Vesúvio), outras estátuas italianas e esculturas mineiras do século XIX.

Vale salientar que, um dos pilares mais importante do IRB é a realização de programas educacionais voltados para os alunos das redes municipal e estadual de ensino, e para crianças e adolescentes deficientes. Esses programas visam complementar o ensino regular de História, aproximando o conhecimento desta disciplina e das artes junto às escolas e à comunidade, e ensinando os jovens a melhor conhecer e valorizar a cultura.

Nesse processo, encontram-se envolvidos os seguintes parceiros: a Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco; as Secretarias Municipais de Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista e Camaragibe; a Universidade Federal de Pernambuco; e a Empresa Municipal de Transportes Urbanos (EMTU).

Dentro do programa de visitas ao IRB, os estabelecimentos de ensino são agendadas em grupos de 50 alunos (acompanhados por alguns professores) que, além de desfrutarem da visita ao local, recebem kits de jogos educativos, baseados na vida e obra de Frans Post. Cabe registrar que os docentes recebem um kit distinto daqueles dos alunos, já que necessitam de instruções para poder orientá-los em seus jogos.

A biblioteca do IRB vem sendo organizada no primeiro andar da pinacoteca, com enfoque para o período do Brasil-holandês. Ela contém dezenas de milhares de títulos, muitos dos quais verdadeiras preciosidades, bem como uma seção de gravuras e cartografia. O acervo teve o privilégio de incorporar três outras coleções particulares relevantes: a de um historiador (José Antônio Gonsalves de Mello), a de um documentalista (Edson Nery da Fonseca) e a de um escritor musicólogo (Padre Jaime Cavalcanti Dinis).

Para compor a fauna existente em jardins de castelos europeus, o IRB teve o cuidado de importar várias espécies de aves exóticas, incluindo cisnes negros e brancos, patos, flamingos, gansos e outros. Todas as espécies perambulam livremente pelos espaços que lhes foram destinados nas imediações da localidade.

         Três grandes esculturas de rinocerontes, em cor negra, podem ser apreciadas nos jardins do IRB E estes estão rodeados por trechos da Mata Atlântica, preservada graças ao enorme carinho do empresário para com a flora nativa. Os bairros da Cidade Universitária e da Várzea contêm a sinalização para o acesso ao I.R.B., cuja entrada se dá através da imponente Alameda Antônio Brennand, que contém dezenas de palmeiras imperiais.

        A obra de Ricardo Brennand representa um gesto de crença e amor, e um sopro de vida e esperança para o Brasil. Por tanto querer bem à população brasileira, à sua família, aos seus amigos, à terra que pertenceu a João Fernandes Vieira, e por tanto desejar que os seus descendentes nasçam, cresçam e vivam na região, se orgulhando de serem nordestinos, o empresário disponibilizou e financiou, em vida, uma obra que protege um precioso patrimônio artístico e cultural. 




FONTES CONSULTADAS:


BURCKHARDT, Eduardo. Paisagens do tempo de Nassau. Revista Época, São Paulo, Edição especial 70 -71, p. 1- 2, 23 out. 2003.

DISCRIÇÃO ao estilo inglês: descendência da família remonta à Liverpool de 1820. Diário de Pernambuco, Recife, 3 abr. 2003, Caderno Viver, p. 2.

ESCOLAS podem agendar visitas para mostra Frans Post. Disponível em: <http://www.jornaldocommercio/online> Acesso em: 3 abr. 2003.

GALINA, Décio. Duas vezes Brennand: o castelo de Ricardo e a oficina de Francisco, ambos no bairro da Várzea,são ótimas justificativas para dar as costas à orla de Recife. Revista Gol, São Paulo, set. 2005.

INSTITUTO Ricardo Brennand: a obra e o tempoRecife: Instituto Ricardo Brennand, [200-].

INSTITUTO Ricardo Brennand ganha prêmio nacional de turismo. Disponível em: <http://www.jornaldocommercio/online>. Acesso em: 8 out. 2003.

LACERDA, Ângela. Um castelo, um mecenas e um oásis de arte e história. O Estado de São Paulo, São Paulo, 29 set. 2003. Caderno 2, p. 1-4.

MEDEIROS, Amaury. Instituto Ricardo Brennand. Jornal do Commercio, Recife, 2 jan. 2003. Caderno Opinião, p. 15.

UM PROGRAMA voltado para quem gosta de vários tipos de arte. Vejanoite, Recife, p.2 ,29 jan. 2003.

Conjuração Mineira e conjuração Baiana

A Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira foram marcadas por visíveis diferenças políticas.
As proximidades e diferenças entre duas revoltas que marcaram o final do século XVIII, no Brasil.  
    


Ao longo do século XVIII, observamos o desenvolvimento de diversas situações de conflito envolvendo os colonos brasileiros e a administração metropolitana. Nessa época, a ampliação dos impostos, o rigor da fiscalização decorrente da exploração aurífera e a decadência do açúcar foram alguns dos motivos que cercaram a ocorrência dessas revoltas. Para alguns, isso indica o desenvolvimento de um processo que contribuiu para o processo de independência brasileiro.

Mesmo parecendo plausível, devemos assinalar que o reconhecimento de um processo se torna um tanto quanto complicado ao analisarmos a natureza e as diferenças que marcaram cada uma dessas rebeliões coloniais. Entre outros casos, podemos notar que a contraposição entre a Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 oferece ricos dados na compreensão dessas diferenças que vão contra a ideia de um processo em desenvolvimento.

Assim como a grande parte de nossas revoltas coloniais, as revoltas, mineira e baiana, foram alimentadas por membros da elite insatisfeitos com a ação metropolitana em cada uma dessas regiões. No caso de Minas, os mineradores de Vila Rica e outros membros da elite mostravam-se insatisfeitos com a política fiscal e a cobrança da derrama. Por outro lado, a cidade de Salvador era palco de uma grave crise econômica que se arrastava desde a crise do açúcar e a transferência da capital para o Rio de Janeiro.

Além disso, devemos notar que os participantes dessas mesmas revoltas estiveram diretamente influenciados pela ideologia iluminista. Mais uma vez, notamos o caráter elitista de tais movimentos, os quais eram sustentados por uma elite letrada e, em alguns casos, instruída nas universidades europeias. Sendo assim, observamos que a origem social, análoga a esses movimentos, viria a empreender a busca por objetivos próximos em cada um deles.

No entanto, a despeito de um projeto de nação independente, vemos que a Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira não se separaram apenas por um hiato temporal. A falta de comunicação entre os centros de colonização e a ausência de um sentimento nacional anula qualquer possibilidade de se considerar que tais revoltosos se sentiam integrantes de uma nação que merecia a sua independência. Na maioria dos casos, a autonomia era projetada em esfera local.

Entre tantas proximidades, vemos que a questão da escravidão acabou sendo o ponto que veio a estabelecer uma diferença entre essas duas revoltas. No caso mineiro, a limitação do movimento às discussões de uma elite enriquecida acabou fazendo com que a escravidão não entrasse em sua pauta, já que o fim desta prejudicaria boa parte dos inconfidentes. No caso baiano, a divulgação de panfletos acabou disseminando a causa emancipacionista entre setores populares e favoráveis à abolição.

Assim que a Conjuração Baiana ganhava contornos mais radicais e populares, os líderes intelectuais da causa acabaram se afastando do movimento. Talvez, assim como os inconfidentes mineiros, eles temiam os efeitos de uma revolta emancipacionista conduzida pelas camadas menos favorecidas da população. Por fim, vemos que a revolta baiana se diferenciou da conspiração mineira assim que os agentes sociais de cada acontecimento se diferiram em suas origens e interesses.

Por Rainer Sousa
Mestre em História
 



VÍDEOS E MENSAGENS DE AUTO - ESTIMA

Tudo é possível, basta querer, nunca desista de algo que você tem certeza que lhe fará feliz, que vai lhe trazer felicidade. Se você acredita que as coisas podem dar certas e tudo indica que sim, então vá em frente, não desista.

                                                                            

               A força de vontade vem de dentro do nosso coração, e manifestamos por nossas ações...

Reflitam!!                                                                    
                                                                        
                                                                     

A ilha dos sentimentos

Era uma vez uma ilha, onde moravam todos os sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Sabedoria e todos os outros sentimentos. Por fim o amor. Mas, um dia, foi avisado aos moradores que aquela ilha iria afundar. Todos os sentimentos apressaram-se para sair da ilha.

Pegaram seus barcos e partiram. Mas o amor ficou, pois queria ficar mais um pouco com a ilha, antes que ela afundasse. Quando, por fim, estava quase se afogando, o Amor começou a pedir ajuda. Nesse momento estava passando a Riqueza, em um lindo barco. O Amor disse:

- Riqueza, leve-me com você.
- Não posso. Há muito ouro e prata no meu barco. Não há lugar para você.

Ele pediu ajuda a Vaidade, que também vinha passando.

- Vaidade, por favor, me ajude.
- Não posso te ajudar, Amor, você esta todo molhado e poderia estragar meu barco novo.

Então, o amor pediu ajuda a Tristeza.

- Tristeza, leve-me com você.
- Ah! Amor, estou tão triste, que prefiro ir sozinha.

Também passou a Alegria, mas ela estava tão alegre que nem ouviu o amor chamá-la.
Já desesperado, o Amor começou a chorar. Foi quando ouviu uma voz chamar:

- Vem Amor, eu levo você!

Era um velhinho. O Amor ficou tão feliz que esqueceu-se de perguntar o nome do velhinho. Chegando do outro lado da praia, ele perguntou a Sabedoria.

- Sabedoria, quem era aquele velhinho que me trouxe aqui?

A Sabedoria respondeu:

- Era o TEMPO.
- O Tempo? Mas porque só o Tempo me trouxe?
- Porque só o Tempo é capaz de entender o "AMOR"."

terça-feira, 10 de julho de 2012

A HISTÓRIA DO DILÚVIO: DILÚVIO UNIVERSAL OU LOCAL?



Introdução

Quase todas as crenças religiosas da antigüidade possuem um mito relacionado ao dilúvio. Até o século XIX, o dilúvio era considerado como verdadeiro, porém com o avanço tecnológico e científico o homem iniciou um processo de descrença neste ocorrido. Porém, a geologia contemporânea comprova que ocorreu na região do Crescente Fértil um dilúvio que abrangeu, no mínimo, todo o mundo conhecido da época.

O Dilúvio

Não se sabe exatamente qual a origem da História do Dilúvio, porém esta história é representada das mais diversas formas por boa parte das civilizações conhecidas.
"Supõe-se que a idéia de dilúvio seja baseada na lembrança de alguma catástrofe produzida por inundações. Essa noção, porém, surge sempre como um castigo divino à maldade, vícios e devassidões a que se entregavam os homens." (Dicionário de Mitologia greco-romana, São Paulo: Abril Cultural, 1973).
O dilúvio na mitologia greco-romana

A mitologia greco-romana nos conta a história de Deucalião e Pirra, os sobreviventes do dilúvio imposto por Zeus com o propósito de exterminar a raça humana.
Segundo esta tradição, Deucalião reinava sobre a Tessália na Idade do Bronze, época em que o homem estava muito degenerado, entregando-se a vícios e maldades. Zeus, para castiga-los, decidiu destruir a raça humana através de uma dilúvio. Deucalião, porém recebe orientação de seu pai, conhecedor das pretensões de Zeus, e constrói uma embarcação onde fica com a mulher Pirra durante a inundação> Segundo esta história, a Terra inteira é submergida e seus habitantes mortos. Deucalião e Pirra ficam nove dias e nove noites encerrados na embarcação, no décimo dia desembarcam no monte Parnaso. Zeus perdoa os dois sobreviventes lhes concedendo a realização de um pedido, os dois pedem pelo repovoamento da Terra, Zeus ordena-os que joguem por atrás de si os ossos de suas mães, os dois jogaram, então, para de atrás de si pedras, que representam os ossos da mãe Terra, das pedras lançadas por Decalião nascem homens e das pedras lançadas por Pirra nascem mulheres, estes repovoaram a Terra.

O dilúvio na mitologia Maia
A América também possui seu mito sobre o dilúvio, a mitologia Maia descreve na história do Popol Vuh onde é narrada a história de um dilúvio que dizimou a raça humana.
"Segundo o Popol Vuh, o mundo era um angustiante nada, até que os deuses - o Grande Pai e a Grande Mãe, um criador, a outra fazedora de formas - resolveram gerar a vida. A intenção de ambos era serem adorados pela própria criação. Primeiro, fizeram a Terra, depois, os animais e, finalmente, os homens. Estes, inicialmente, foram criados de barro. Como não deu certo, o Grande Pai decidiu retirá-los da madeira. Porém, os novos homens, apesar de ativos, eram vaidosos e frívolos, obrigando o Grande Pai a destruí-los em um dilúvio." (Enciclopédia Encarta, Microsoft Corporation, 2001)

O dilúvio na mitologia Suméria

O mito sumério de Gilgamesh nos conta os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que consumiu com a raça humana.
"Tudo começou na antiga cidade de Shurupak às margens do rio Eufrates nessa cidade viviam os deuses: Anu, deus do céu, Enlil, seu conselheiro, e também o supremo deus Ea. Naqueles dias, a Terra fervilhava, o povo se multiplicava e o mundo a mugir como touro selvagem (...) os deuses irritaram-se com este barulho. Enlil foi logo reclamar na Assembléia dos deuses: 'É um tumulto intolerável. Ninguém mais consegue dormir com essa balbúrdia dos homens'. E foi assim que eles, os deuses, decidiram exterminar a raça humana."(TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Na tradição suméria, o homem foi dizimado por encomodar aos deuses, mas segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de exterminar com os humanos através de um dilúvio.
"Homem de Shurupak, derruba tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e salva tua vida. Renuncia aos bens terrenos e conserva coração puro." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Dos mitos sobre o dilúvio, sem dúvida, a história do encontro entre Utanapistim e Gilgamesh é o que mais se assemelha a história bíblica de Noé e o dilúvio. Até mesmo a questão moral está presente, quando o deus Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro, mas as semelhanças não param por ai.
"O barco que deves construir deve ter a mesma largura e comprimento, o convés coberto, tal como uma abóbora, e leva então para dentro do barco sementes de todas as coisas vivas." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
É muito semelhante a questão da preservação das espécies, citada na história bíblica, onde Utanapistim deve levar no barco sementes de todas as coisas vivas.
Utanapistim reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos.
"Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir um montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma POMBA, que voou para longe, não encontrando local para pouso retornou (...) Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
A história contada por Utanapistim é muito semelhante a descrita na Bíblia. O descontentamento divino frente as maldades e perversões humanas levando a divindade ao arrependimento pela criação dos homens e automaticamente a destruição destes através de um dilúvio. 

A história bíblica do dilúvio

A história bíblica do dilúvio, a história de Noé, nos mostra um Deus descontente com as imprudências humanas, Deus resolve destruir os homens, porém poupa Noé sua esposa e três filhos com as respectivas esposas. A história do dilúvio bíblico conta que Deus ordena a Noé que construa uma arca e que deve convocar um casal de todos os animais viventes para que sobrevivam ao dilúvio.
"De tudo que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo." (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.)
Como nos conta a história bíblica, Noé e sua família ficam quarenta dias e quarenta noites debaixo de chuvas, toda a espécie humana é destruída, sobrando somente os tripulantes da arca. Quando sai da arca, Noé firma uma aliança com Deus, onde este promete que nunca mais haverá outro dilúvio igual.

Os assírios e o dilúvio

O Dicionário da Bíblia John D. Davis, afirma que nos registros assírios que enumeram os antigos reis da Assíria, apontam que estes governavam "após o dilúvio", também afirma que em registros do rei Assurbanipal, este refere-se a inscrições anteriores ao dilúvio. 

A versão científica do dilúvio

Segundo a geologia moderna, o dilúvio realmente ocorreu na região do Crescente Fértil, porém não há comprovação de sua extensão global. Geólogos afirmam com base em estudos da erosão e das marcas geológicas que o dilúvio teria ocorrido em escala local, porém abrangendo todo mundo conhecido da época. Onde haviam civilizações, houve o dilúvio. Mas como explicar que uma cultura tão distante como a Maia tenha incorporado tal história em sua carta de mitos. Teria sido o dilúvio mundial?
"Há evidência muito forte, fora do livro de Gênesis, com respeito à destruição da raça humana, cuja única exceção é uma família. Inúmeras tribos selvagens, espalhadas pelo mundo, conservam a tradição de um dilúvio. Existem possíveis registros arqueológicos, como tantas evidências diretas de um dilúvio." (Bíblia Shedd).
A revista Super Interessante em sua edição de maio de 1995, afirma que não existem dúvidas sobre a ocorrência do dilúvio, porém não se pode definir a extensão precisa deste ocorrido, o que se pode afirmar é que ele abrangeu todo mundo conhecido da época.
Mas sobre histórias mitológicas como a dos Maias, não há estudo que aponte sua relação como o dilúvio dos povos do antigo Fértil Crescente, o que se pode afirmar é que pode ser uma coincidência ou então uma tradição trazida com os primeiros a chegarem a América. Esta última é a versão mais aceita no meio científico.
Sobre o dilúvio, não restam dúvidas, ele ocorreu realmente, porém, quanto a sua extensão, não se pode afirmar nada de concreto, mas segundo a arqueologia e a geologia contemporâneas, este ocorreu somente na região do Fértil Crescente, o que era, então, o mundo conhecido da época.

Referências Bibliográficas
 
Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
Bíblia Sheed, Bíblia de Estudo. São Paulo: ed.Vida Nova, 1997.
Dicionário de Mitologia Greco-Romana. São Paulo: ed. Abril Cultural, 1973.
PACKER, J.I.. O Mundo do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 1982.
KIDNER, Derek. Gênesis. São Paulo: Mundo Cristão, 1979.
ANTUNES FILHO. Gilgamesh. Mairaporã-SP: ed.Veredas, 1999.
TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.
DAVIS, John D.. Dicionário da Bíblia. 22.ed. São Paulo: ed. JUERP, 1985.
LÉVÊQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
KRAMER, Samuel Noah. Os Sumérios. Amadora-Portugal: ed. Livraria Bertrand, 1977.
MONEY, Netta Kemp. Geografia Histórica do Mundo Bíblico. Belo Horizonte-MG: ed. Vida, 1977.
Super Interessante, coleção em cd-rooms dos 15 anos da revista. Ed. Abril, São Paulo, 2003.
Enciclopédia Encarta, Microsoft Corporation, 2001
 Por Marcos Emílio Ekman Faber
Fonte: