terça-feira, 10 de julho de 2012

A HISTÓRIA DO DILÚVIO: DILÚVIO UNIVERSAL OU LOCAL?



Introdução

Quase todas as crenças religiosas da antigüidade possuem um mito relacionado ao dilúvio. Até o século XIX, o dilúvio era considerado como verdadeiro, porém com o avanço tecnológico e científico o homem iniciou um processo de descrença neste ocorrido. Porém, a geologia contemporânea comprova que ocorreu na região do Crescente Fértil um dilúvio que abrangeu, no mínimo, todo o mundo conhecido da época.

O Dilúvio

Não se sabe exatamente qual a origem da História do Dilúvio, porém esta história é representada das mais diversas formas por boa parte das civilizações conhecidas.
"Supõe-se que a idéia de dilúvio seja baseada na lembrança de alguma catástrofe produzida por inundações. Essa noção, porém, surge sempre como um castigo divino à maldade, vícios e devassidões a que se entregavam os homens." (Dicionário de Mitologia greco-romana, São Paulo: Abril Cultural, 1973).
O dilúvio na mitologia greco-romana

A mitologia greco-romana nos conta a história de Deucalião e Pirra, os sobreviventes do dilúvio imposto por Zeus com o propósito de exterminar a raça humana.
Segundo esta tradição, Deucalião reinava sobre a Tessália na Idade do Bronze, época em que o homem estava muito degenerado, entregando-se a vícios e maldades. Zeus, para castiga-los, decidiu destruir a raça humana através de uma dilúvio. Deucalião, porém recebe orientação de seu pai, conhecedor das pretensões de Zeus, e constrói uma embarcação onde fica com a mulher Pirra durante a inundação> Segundo esta história, a Terra inteira é submergida e seus habitantes mortos. Deucalião e Pirra ficam nove dias e nove noites encerrados na embarcação, no décimo dia desembarcam no monte Parnaso. Zeus perdoa os dois sobreviventes lhes concedendo a realização de um pedido, os dois pedem pelo repovoamento da Terra, Zeus ordena-os que joguem por atrás de si os ossos de suas mães, os dois jogaram, então, para de atrás de si pedras, que representam os ossos da mãe Terra, das pedras lançadas por Decalião nascem homens e das pedras lançadas por Pirra nascem mulheres, estes repovoaram a Terra.

O dilúvio na mitologia Maia
A América também possui seu mito sobre o dilúvio, a mitologia Maia descreve na história do Popol Vuh onde é narrada a história de um dilúvio que dizimou a raça humana.
"Segundo o Popol Vuh, o mundo era um angustiante nada, até que os deuses - o Grande Pai e a Grande Mãe, um criador, a outra fazedora de formas - resolveram gerar a vida. A intenção de ambos era serem adorados pela própria criação. Primeiro, fizeram a Terra, depois, os animais e, finalmente, os homens. Estes, inicialmente, foram criados de barro. Como não deu certo, o Grande Pai decidiu retirá-los da madeira. Porém, os novos homens, apesar de ativos, eram vaidosos e frívolos, obrigando o Grande Pai a destruí-los em um dilúvio." (Enciclopédia Encarta, Microsoft Corporation, 2001)

O dilúvio na mitologia Suméria

O mito sumério de Gilgamesh nos conta os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que consumiu com a raça humana.
"Tudo começou na antiga cidade de Shurupak às margens do rio Eufrates nessa cidade viviam os deuses: Anu, deus do céu, Enlil, seu conselheiro, e também o supremo deus Ea. Naqueles dias, a Terra fervilhava, o povo se multiplicava e o mundo a mugir como touro selvagem (...) os deuses irritaram-se com este barulho. Enlil foi logo reclamar na Assembléia dos deuses: 'É um tumulto intolerável. Ninguém mais consegue dormir com essa balbúrdia dos homens'. E foi assim que eles, os deuses, decidiram exterminar a raça humana."(TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Na tradição suméria, o homem foi dizimado por encomodar aos deuses, mas segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de exterminar com os humanos através de um dilúvio.
"Homem de Shurupak, derruba tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e salva tua vida. Renuncia aos bens terrenos e conserva coração puro." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Dos mitos sobre o dilúvio, sem dúvida, a história do encontro entre Utanapistim e Gilgamesh é o que mais se assemelha a história bíblica de Noé e o dilúvio. Até mesmo a questão moral está presente, quando o deus Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro, mas as semelhanças não param por ai.
"O barco que deves construir deve ter a mesma largura e comprimento, o convés coberto, tal como uma abóbora, e leva então para dentro do barco sementes de todas as coisas vivas." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
É muito semelhante a questão da preservação das espécies, citada na história bíblica, onde Utanapistim deve levar no barco sementes de todas as coisas vivas.
Utanapistim reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos.
"Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir um montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma POMBA, que voou para longe, não encontrando local para pouso retornou (...) Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
A história contada por Utanapistim é muito semelhante a descrita na Bíblia. O descontentamento divino frente as maldades e perversões humanas levando a divindade ao arrependimento pela criação dos homens e automaticamente a destruição destes através de um dilúvio. 

A história bíblica do dilúvio

A história bíblica do dilúvio, a história de Noé, nos mostra um Deus descontente com as imprudências humanas, Deus resolve destruir os homens, porém poupa Noé sua esposa e três filhos com as respectivas esposas. A história do dilúvio bíblico conta que Deus ordena a Noé que construa uma arca e que deve convocar um casal de todos os animais viventes para que sobrevivam ao dilúvio.
"De tudo que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo." (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.)
Como nos conta a história bíblica, Noé e sua família ficam quarenta dias e quarenta noites debaixo de chuvas, toda a espécie humana é destruída, sobrando somente os tripulantes da arca. Quando sai da arca, Noé firma uma aliança com Deus, onde este promete que nunca mais haverá outro dilúvio igual.

Os assírios e o dilúvio

O Dicionário da Bíblia John D. Davis, afirma que nos registros assírios que enumeram os antigos reis da Assíria, apontam que estes governavam "após o dilúvio", também afirma que em registros do rei Assurbanipal, este refere-se a inscrições anteriores ao dilúvio. 

A versão científica do dilúvio

Segundo a geologia moderna, o dilúvio realmente ocorreu na região do Crescente Fértil, porém não há comprovação de sua extensão global. Geólogos afirmam com base em estudos da erosão e das marcas geológicas que o dilúvio teria ocorrido em escala local, porém abrangendo todo mundo conhecido da época. Onde haviam civilizações, houve o dilúvio. Mas como explicar que uma cultura tão distante como a Maia tenha incorporado tal história em sua carta de mitos. Teria sido o dilúvio mundial?
"Há evidência muito forte, fora do livro de Gênesis, com respeito à destruição da raça humana, cuja única exceção é uma família. Inúmeras tribos selvagens, espalhadas pelo mundo, conservam a tradição de um dilúvio. Existem possíveis registros arqueológicos, como tantas evidências diretas de um dilúvio." (Bíblia Shedd).
A revista Super Interessante em sua edição de maio de 1995, afirma que não existem dúvidas sobre a ocorrência do dilúvio, porém não se pode definir a extensão precisa deste ocorrido, o que se pode afirmar é que ele abrangeu todo mundo conhecido da época.
Mas sobre histórias mitológicas como a dos Maias, não há estudo que aponte sua relação como o dilúvio dos povos do antigo Fértil Crescente, o que se pode afirmar é que pode ser uma coincidência ou então uma tradição trazida com os primeiros a chegarem a América. Esta última é a versão mais aceita no meio científico.
Sobre o dilúvio, não restam dúvidas, ele ocorreu realmente, porém, quanto a sua extensão, não se pode afirmar nada de concreto, mas segundo a arqueologia e a geologia contemporâneas, este ocorreu somente na região do Fértil Crescente, o que era, então, o mundo conhecido da época.

Referências Bibliográficas
 
Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
Bíblia Sheed, Bíblia de Estudo. São Paulo: ed.Vida Nova, 1997.
Dicionário de Mitologia Greco-Romana. São Paulo: ed. Abril Cultural, 1973.
PACKER, J.I.. O Mundo do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 1982.
KIDNER, Derek. Gênesis. São Paulo: Mundo Cristão, 1979.
ANTUNES FILHO. Gilgamesh. Mairaporã-SP: ed.Veredas, 1999.
TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.
DAVIS, John D.. Dicionário da Bíblia. 22.ed. São Paulo: ed. JUERP, 1985.
LÉVÊQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
KRAMER, Samuel Noah. Os Sumérios. Amadora-Portugal: ed. Livraria Bertrand, 1977.
MONEY, Netta Kemp. Geografia Histórica do Mundo Bíblico. Belo Horizonte-MG: ed. Vida, 1977.
Super Interessante, coleção em cd-rooms dos 15 anos da revista. Ed. Abril, São Paulo, 2003.
Enciclopédia Encarta, Microsoft Corporation, 2001
 Por Marcos Emílio Ekman Faber
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