A cabanagem foi uma das principais revoltas do Período Regencial
A Cabanagem, ou Revolta dos Cabanos do Pará, está entre os principais levantes políticos que aconteceram no Brasil Regencial. Ela se enquadra, assim, no contexto de outras revoltas das quais você já deve ter ouvido falar, tais como: Revolta dos Malês, Revolta Farroupilha, Revolta da Balaiada no Maranhão e Revolta da Sabinada na Bahia.
A questão da autonomia política foi, desde a independência, a grande força motriz motivadora de diversos conflitos e revoltas no Brasil. Na província do Pará, a péssima condição de vida das camadas mais baixas da população e a insatisfação das elites locais representavam a crise de legitimidade sofrida pelos representantes locais do poder imperial. Além disso, a relação conflituosa entre os paraenses e os comerciantes portugueses acentuava outro aspecto da tensão socioeconômica da região.
A província do Grão-Pará, compreendia os estados do Pará e do Amazonas, tinha um pouco mais de 80 mil habitantes (sem incluir a população indígena não-aldeada). De cada cem pessoas, quarenta eram escravos indígenas, negros, mestiços ou tapuios, isto é, indígenas que moravam nas vilas (cabanas).
A população do Grão-Pará vivia a parte das decisões do governo federal, vivendo a margem de rios e sobrevivendo basicamente da pesca, da exploração da madeira e da extração das drogas do sertão: castanha-do-pará, cacau, baunilha e ervas medicinais; a miséria e a fome faziam parte do cotidiano dos moradores. Além das péssimas condições de vida a que estavam sujeitados, os cabanos (os moradores eram conhecidos dessa forma por habitarem em canas as margens dos rios) sofriam com o autoritarismo e exploração dos grandes fazendeiros da região. Abandonados pelo governo brasileiro, a população estava à mercê da própria sorte.
O regime escravocrata ainda persistia no Brasil durante o período regencial, e na província do Grão-Pará não era diferente. A população dessa região trabalhava no regime de escravidão ou em troca de salários bem baixos. As moradias eram feitas utilizando estacas às margens dos rios. A Cabanagem ganhou características de uma rebelião popular, mas não foi organizada apenas pela população mais pobre, a elite também participou do movimento, mas é claro que reivindicando outros direitos.
Com a promulgação da Constituição de 1824, ficou evidente que o imperador não tinha interesse em conceder autonomia política as províncias brasileiras. O autoritarismo impresso nessa Constituição gerou um descontentamento nas elites de todas as regiões brasileiras. A insatisfação por não poder escolher os presidentes de suas províncias, motivou os grandes fazendeiros e comerciantes a se unirem com os cabanos no Grão-Pará e a iniciar uma das revoltas sociais mais importantes do período regencial: a Cabanagem ou Guerra dos Cabanos.
É interessante perceber que um único movimento é capaz de reunir pessoas com reivindicações distintas, mas que o alvo do descontentamento é o mesmo: o governo federal; os cabanos desejavam terras para plantar e o fim do regime escravocrata; os fazendeiros queriam ter o direito de escolher o presidente da província. O movimento dos cabanos contou com a participação da elite agrária e de comerciantes, o desejo dos revoltosos era conquistar mais autonomia política e melhores condições de vida, para eles tudo isso se tornaria real a partir da emancipação e da criação de uma república independente.
A capital da província do Grão-Pará era a cidade de Belém, era através dela que os produtos explorados eram exportados. A elite local era extremamente ligada aos portugueses, Belém era a cidade que mais dependia de Portugal, isso se deve ao fato de pouca coisa ter mudado na região após a declaração de independência brasileira. Em 1835, os cabanos invadiram a então capital e executaram o presidente da província Bernardo Lobo de Souza e as demais autoridades. Com o extermínio do governo local, os cabanos iniciaram o seu primeiro governo, colocando no poder o fazendeiro Félix Clemente Malcher. O novo governo traiu o movimento demonstrando sua fidelidade ao governo português, inclusive reprimindo a revolta que o levou ao poder.
Malcher foi executado e sucedido por Francisco Pedro Vinagre. Repetindo o que aconteceu no primeiro governo cabano, o novo líder também traiu o movimento. Disposto a negociar com o governo central, Vinagre demonstrou até mesmo o interesse em ceder o seu poder a alguém indicado pelos portugueses. O traidor foi sucedido por Eduardo Argelim, que persistiu na ideia de reconquistar Belém. Os rebeldes conseguiram tomar a capital e proclamar uma República em agosto de 1835.
O governo federal reuniu suas tropas para combater os revoltosos e reprimir qualquer foco revolucionário na região, para isso contou com o apoio de tropas europeias. Uma poderosa frente militar foi enviada para a região do Grão-Pará, a província se tornou palco de batalhas sangrentas que persistiram ao longo de cinco anos. A duração da rebelião demonstrou a ousadia dos cabanos que se recusavam a rendição.
No início da Guerra dos Cabanos, a província do Grão-Pará era habitada por cerca de cem mil moradores, com a violência dos combates os rebeldes sucumbiram às tropas do governo, o que reduziu a população a sessenta mil moradores. Para relembrar o acontecimento, um Memorial foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer e erguido em Belém. No ano de 1985 para homenagear o sesquicentenário da Cabanagem, o monumento foi inaugurado. Sua construção representa a força dos cabanos que lutaram bravamente contra a opressão, a desigualdade social e o abandono em que vivem milhares de brasileiros por todo o país. Apesar de sufocada, os ideais da Cabanagem ainda vivem na luta diária do nosso povo em busca de melhores condições de vida.
Belém, nessa época, não passava de uma pequena cidade com 24 mil habitantes, apesar de importante centro comercial por onde era exportado cravo, salsa, fumo, cacau e algodão.
A independência do Brasil despertou grande expectativa no povo da região. Os indígenas e tapuios esperavam ter seus direitos reconhecidos e não serem mais obrigados a trabalhar como escravos nas roças e manufaturas dos aldeamentos; os escravos negros queriam a abolição da escravatura; profissionais liberais nacionalistas e parte do clero lutavam por uma independência mais efetiva que afastasse os portugueses e ingleses do controle político e econômico. O resto da população – constituída de mestiços e homens livres -, entusiasmada com as idéias libertárias, participou do movimento, imprimindo-lhe um conteúdo mais amplo e mais radical.
A grande rebelião popular, que aconteceu em 1833, teve origem num movimento de contestação, ocorrido dez anos antes e que havia sido sufocado com muita violência, conhecido como “rebelião do navio Palhaço”.
O Período Regencial (1831-1840) foi relativamente curto, é uma parte da história brasileira compreendida entre o primeiro e o segundo reinado
Belém,1942
REIS,Arthur Cézar.Síntese de história do Pará.Belém.1942.
SOUSA, Rainer Gonçalves. "Cabanagem
A questão da autonomia política foi, desde a independência, a grande força motriz motivadora de diversos conflitos e revoltas no Brasil. Na província do Pará, a péssima condição de vida das camadas mais baixas da população e a insatisfação das elites locais representavam a crise de legitimidade sofrida pelos representantes locais do poder imperial. Além disso, a relação conflituosa entre os paraenses e os comerciantes portugueses acentuava outro aspecto da tensão socioeconômica da região.
A província do Grão-Pará, compreendia os estados do Pará e do Amazonas, tinha um pouco mais de 80 mil habitantes (sem incluir a população indígena não-aldeada). De cada cem pessoas, quarenta eram escravos indígenas, negros, mestiços ou tapuios, isto é, indígenas que moravam nas vilas (cabanas).
A população do Grão-Pará vivia a parte das decisões do governo federal, vivendo a margem de rios e sobrevivendo basicamente da pesca, da exploração da madeira e da extração das drogas do sertão: castanha-do-pará, cacau, baunilha e ervas medicinais; a miséria e a fome faziam parte do cotidiano dos moradores. Além das péssimas condições de vida a que estavam sujeitados, os cabanos (os moradores eram conhecidos dessa forma por habitarem em canas as margens dos rios) sofriam com o autoritarismo e exploração dos grandes fazendeiros da região. Abandonados pelo governo brasileiro, a população estava à mercê da própria sorte.
O regime escravocrata ainda persistia no Brasil durante o período regencial, e na província do Grão-Pará não era diferente. A população dessa região trabalhava no regime de escravidão ou em troca de salários bem baixos. As moradias eram feitas utilizando estacas às margens dos rios. A Cabanagem ganhou características de uma rebelião popular, mas não foi organizada apenas pela população mais pobre, a elite também participou do movimento, mas é claro que reivindicando outros direitos.
Com a promulgação da Constituição de 1824, ficou evidente que o imperador não tinha interesse em conceder autonomia política as províncias brasileiras. O autoritarismo impresso nessa Constituição gerou um descontentamento nas elites de todas as regiões brasileiras. A insatisfação por não poder escolher os presidentes de suas províncias, motivou os grandes fazendeiros e comerciantes a se unirem com os cabanos no Grão-Pará e a iniciar uma das revoltas sociais mais importantes do período regencial: a Cabanagem ou Guerra dos Cabanos.
É interessante perceber que um único movimento é capaz de reunir pessoas com reivindicações distintas, mas que o alvo do descontentamento é o mesmo: o governo federal; os cabanos desejavam terras para plantar e o fim do regime escravocrata; os fazendeiros queriam ter o direito de escolher o presidente da província. O movimento dos cabanos contou com a participação da elite agrária e de comerciantes, o desejo dos revoltosos era conquistar mais autonomia política e melhores condições de vida, para eles tudo isso se tornaria real a partir da emancipação e da criação de uma república independente.
A capital da província do Grão-Pará era a cidade de Belém, era através dela que os produtos explorados eram exportados. A elite local era extremamente ligada aos portugueses, Belém era a cidade que mais dependia de Portugal, isso se deve ao fato de pouca coisa ter mudado na região após a declaração de independência brasileira. Em 1835, os cabanos invadiram a então capital e executaram o presidente da província Bernardo Lobo de Souza e as demais autoridades. Com o extermínio do governo local, os cabanos iniciaram o seu primeiro governo, colocando no poder o fazendeiro Félix Clemente Malcher. O novo governo traiu o movimento demonstrando sua fidelidade ao governo português, inclusive reprimindo a revolta que o levou ao poder.
Malcher foi executado e sucedido por Francisco Pedro Vinagre. Repetindo o que aconteceu no primeiro governo cabano, o novo líder também traiu o movimento. Disposto a negociar com o governo central, Vinagre demonstrou até mesmo o interesse em ceder o seu poder a alguém indicado pelos portugueses. O traidor foi sucedido por Eduardo Argelim, que persistiu na ideia de reconquistar Belém. Os rebeldes conseguiram tomar a capital e proclamar uma República em agosto de 1835.
O governo federal reuniu suas tropas para combater os revoltosos e reprimir qualquer foco revolucionário na região, para isso contou com o apoio de tropas europeias. Uma poderosa frente militar foi enviada para a região do Grão-Pará, a província se tornou palco de batalhas sangrentas que persistiram ao longo de cinco anos. A duração da rebelião demonstrou a ousadia dos cabanos que se recusavam a rendição.
No início da Guerra dos Cabanos, a província do Grão-Pará era habitada por cerca de cem mil moradores, com a violência dos combates os rebeldes sucumbiram às tropas do governo, o que reduziu a população a sessenta mil moradores. Para relembrar o acontecimento, um Memorial foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer e erguido em Belém. No ano de 1985 para homenagear o sesquicentenário da Cabanagem, o monumento foi inaugurado. Sua construção representa a força dos cabanos que lutaram bravamente contra a opressão, a desigualdade social e o abandono em que vivem milhares de brasileiros por todo o país. Apesar de sufocada, os ideais da Cabanagem ainda vivem na luta diária do nosso povo em busca de melhores condições de vida.
Belém, nessa época, não passava de uma pequena cidade com 24 mil habitantes, apesar de importante centro comercial por onde era exportado cravo, salsa, fumo, cacau e algodão.
A independência do Brasil despertou grande expectativa no povo da região. Os indígenas e tapuios esperavam ter seus direitos reconhecidos e não serem mais obrigados a trabalhar como escravos nas roças e manufaturas dos aldeamentos; os escravos negros queriam a abolição da escravatura; profissionais liberais nacionalistas e parte do clero lutavam por uma independência mais efetiva que afastasse os portugueses e ingleses do controle político e econômico. O resto da população – constituída de mestiços e homens livres -, entusiasmada com as idéias libertárias, participou do movimento, imprimindo-lhe um conteúdo mais amplo e mais radical.
A grande rebelião popular, que aconteceu em 1833, teve origem num movimento de contestação, ocorrido dez anos antes e que havia sido sufocado com muita violência, conhecido como “rebelião do navio Palhaço”.
O Período Regencial (1831-1840) foi relativamente curto, é uma parte da história brasileira compreendida entre o primeiro e o segundo reinado
Outras obras úteis:
CRUZ,Ernesto.Nos bastidores da Cabanagem.
Belém,1942
REIS,Arthur Cézar.Síntese de história do Pará.Belém.1942.
SOUSA, Rainer Gonçalves. "Cabanagem
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