quarta-feira, 13 de junho de 2012

construtores do Brasil Maria Quitéria



                                                                         

Maria Quitéria de Jesus *  - (Feira de Santana, 27 de julho de 1792 — Salvador, 21 de agosto de 1853) foi uma militar brasileira, heroína da Guerra da Independência. Considerada a Joana D'Arc brasileira, é a padroeira do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Biografia
Infância e juventude
Maria Quitéria nasceu no sítio do Licurizeiro (Syagrus coronata), uma pequena propriedade no Arraial de São José das Itapororocas, na comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, atual município de Feira de Santana no estado da Bahia. A data mais aceita pelos pesquisadores para o seu nascimento é a de 1792. Foi a filha primogênita dos brasileiros Gonçalo Alves de Almeida e Quitéria Maria de Jesus.

Em 1803, tendo cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe, assumindo a responsabilidade dos afazeres domésticos e da criação de seus irmãos. Cinco meses após enviuvar, o pai casou-se em segundas núpcias com Eugênia Maria dos Santos, que veio a falecer pouco tempo depois, sem que da união nascessem filhos. A família mudou-se então para a fazenda [serra da Agulha].
Na nova residência, Gonçalo Alves casou-se pela terceira vez, com Maria Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta, afirma-se, nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria. Embora sem uma educação formal, uma vez que à época as escolas eram poucas e restritas aos grandes centros urbanos, Maria Quitéria aprendera a montar, a caçar e a usar armas de fogo, conhecimentos essenciais à época.
As lutas pela Independência
Maria Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em Janeiro de 1822 transferiram-se para Salvador as tropas portuguesas, sob o comando do Governador das Armas Inácio Luís Madeira de Melo, registrando-se em fevereiro o martírio de Soror Joana Angélica, no Convento da Lapa, naquela Capital.

Em 25 de junho, a Câmara Municipal da vila de Cachoeira aclamou o príncipe-regente D. Pedro como "Regente Perpétuo" do Brasil. Por essa razão, em julho, uma canhoneira portuguesa, fundeada na barra do rio Paraguaçu, alvejou Cachoeira, reduto dos independistas baianos. A 6 de setembro, instalou-se na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que defendia o movimento pró-independência da Bahia ativamente, enviando emissários a toda a Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um "Exército Libertador".
O "Soldado Medeiros"
Tendo o velho Gonçalo, viúvo, sem filho varão, se escusado a colaborar, para a sua surpresa, a filha Maria Quitéria, pediu-lhe autorização para se alistar. Tendo o pedido negado pelo pai, fugiu, dirigindo-se a casa de sua meia-irmã, Teresa Maria, casada com José Cordeiro de Medeiros e, com o auxílio de ambos, cortou os cabelos. Vestindo-se como um homem, dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde se alistou sob o nome de Medeiros, no Regimento de Artilharia, onde permaneceu até ser descoberta pelo pai, duas semanas mais tarde.

Defendida pelo Major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro Alves, comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe (popularmente apelidado de "Batalhão dos Periquitos", devido aos punhos e gola de cor verde de seu uniforme), foi incorporada a esta tropa, em virtude de sua facilidade no manejo das armas e de sua reconhecida disciplina militar. Aqui, ao seu uniforme, foi acrescentado um saiote à escocesa.
A 29 de outubro seguiu com o seu Batalhão para participar da defesa da ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapoã, integrando a Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses (dois, segundo alguns autores), escoltando-os, sozinha, ao acampamento.
Em 31 de março, no posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios.
Finalmente, a 2 de julho de 1823, quando o "Exército Libertador" entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de Cadete, envergava uniforme de cor azul, com saiote, além de capacete com penacho.
A heroína da Independência
Por seus atos de bravura em combate, o General Pedro Labatut, enviado por D. Pedro para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete.

No dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo Imperador em pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro, com seguinte pronunciamento:
"Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro".
Além da comenda, foi promovida a Alferes de Linha, posto em que se reformou, tendo aproveitado a ocasião para pedir ao Imperador uma carta solicitando ao pai que a perdoasse por sua desobediência.

Os últimos anos
Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.
Viúva, mudou-se para Feira de Santana em 1835, onde tentou receber a parte que lhe cabia na herança pelo falecimento do pai no ano anterior. Desistindo do inventário, devido à morosidade da Justiça, mudou-se com a filha para Salvador, nas imediações de onde veio a falecer aos 61 anos de idade, quase cega, no anonimato. Desconhece-se o local de seu túmulo.
Testemunhos
O pesquisador Aristides Milton, nas Efemérides Cachoeiranas, considera Maria Quitéria "tão valente quanto honesta senhora".

A inglesa Maria Graham, por sua vez, deixou registrado:
"Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis." (Journal of a voyage to Brazil)
Homenagens
Maria Quitéria é homenageada por uma medalha militar e por uma comenda com o seu nome, na Câmara Municipal de Salvador. Do mesmo modo, a Câmara Municipal de Feira de Santana instituiu a Comenda Maria Quitéria, para distinguir personalidades com reconhecida contribuição à municipalidade, e ergueu-lhe um monumento na cidade, no cruzamento da avenida Maria Quitéria com a Getúlio Vargas.
A sua iconografia mais conhecida é um retrato de corpo inteiro, pintado por Domenico Failutti c. 1920. Presenteado pela Câmara Municipal de Cachoeira, integra atualmente o acervo do Museu Paulista, em São Paulo.
Por Decreto da Presidência da República, datado de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. A sua imagem encontra-se em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares da Arma, por determinação ministerial.
Bibliografia
ALMEIDA, Norma Silveira Castro de; TANAJURA, A. Rodrigues Lima. José Antônio da Silva Castro - o Periquitão. Salvador: EGBA, 2004. ISBN 85-903965-1-7
AMARAL, Braz do. História da Independência da Bahia. Salvador: Livraria Progresso Ed., 1957.
MENDES, Bartolomeu de Jesus. A Festa do Dois de Julho em Caetité - do cívico ao popular. Caetité: Gráfica Castro, 2002.
PALHA, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército-Editora, 1962. p. 47-51.
SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Brasileiras Célebres (ed. fac-similar). Brasília: Senado Federal, 1997.
SOUZA, Bernardino José de. Heroínas baianas.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Salvador: UNESP; São Paulo: EDUFBA, 2001.



terça-feira, 12 de junho de 2012

HISTÓRIA




História (do grego antigo historie, que significa "testemunho", no sentido daquele que vê) é a única ciência que estuda o Homem no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado.

 Por metonímia, o conjunto destes processos e eventos. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo em grego antigo é στορίαι (Historíai).


                                                                                 
                                         História, do pintor grego Nikolaos Gysis (1892)

Documentos e fontes históricas


Os historiadores usam várias fontes de informação para construir a sucessão de processos históricos, como, por exemplo, documentos escritos, jornais, gravações, gravuras, pinturas, fotos, músicas, entrevistas (História oral) e achados arqueológicos.

                                                                                   


Documento escrito. A Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. 13 de maio de 1888.



Fotografia dos caras pintadas em São Paulo durante o movimento estudantil para exigir destituição do presidente Fernando Collor de Mello, 1992.

Artefato arqueológico. Urna funerária ou Igaçaba indígena da cultura cerâmica marajoara, Ilha do Marajó, Pará, Brasil. 1500 a.C.

Não se passa pela vida sem deixar marcas. Um objeto, uma obra, um desenho, uma canção, uma carta, uma hipótese formulada... são traços da passagem do homem. 

"Todo e qualquer vestígio do passado, de qualquer natureza", define o documento histórico. Quantas vezes, porém, não foi tentada a falsificação de documentos históricos? Heróis fictícios, peças com atribuições alteradas de origem, tempo e uso, informações sem fontes... muitas e tantas danações dos que querem moldar a história aos seus caprichos.

 Por isso existe uma ciência especial, a Heurística, só para cuidar da verificação e investigação da autenticidade das fontes históricas.


A era cristã e a divisão da História


A referência de maior aceitação para se contar o tempo, atualmente, é o "nascimento de Cristo". Mas já houve outras referências importantes no Ocidente: os gregos antigos tinham como base cronológica o início dos jogos olímpicos; os romanos, a fundação de Roma. Ainda hoje, os árabes contam seu tempo pela Hégira, a emigração (não fuga) de Maomé de Meca para Medina.
  

Visões sobre a História

"A história é a verdadeira testemunha do tempo, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado". (Cícero, senador romano).


"A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçarmo-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente". (Marc Bloch).


"O homem não vive somente de pão; a História não tinha mesmo pão; ela não se alimentava se não de esqueletos agitados, por uma dança macabra de autômatos. Era necessário descobrir na História uma outra parte. Essa outra coisa, essa outra parte, eram as mentalidades". (Jacques Le Goff).

"A História procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da História; quem olhar para trás, na História de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as mudanças". (Vavy Pacheco Borges).


"A História como registro consiste em três estados, tão habilmente misturados que parecem ser apenas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a interpretação dos factos e do padrão". (Henry Steele Commager).






HISTÓRIA DO BRASIL: o "Descobrimento"



HISTÓRIA DO BRASIL:
o "Descobrimento"
Viagem: de Pedro Álvares Cabral


Pedro Álvares Cabral
O descobrimento do Brasil

A chegada dos portugueses a terras do Brasil em 1500 colocou em confronto culturas notadamente diversas. A européia que tinha em sua base cultural a nobreza, as relações mercantis e o cristianismo. A indígena valorizava a vida comunitária, a relação com a natureza e a pajelança e o xamanismo. 

Logo vieram também os africanos sob a condição de escravos.
Nesses mais de 500 anos de história, formou-se no Brasil uma sociedade original. Para os europeus portugueses e seus descendentes, reproduziu-se no Brasil seus valores e a cristandade.

 Para os ameríndios, a destruição quase completa de sua cultura original e o extermínio de povos inteiros.

 Para os africanos e afro-brasileiros, a escravidão, o racismo e a discriminação.
Valeu a pena? Comodiria o poeta Fernando Pessoa: "tudo vale a pena, se a alma não é pequena."
1500: a chegada dos portugueses.

No final da Idade Média, a partir de 1415, Portugal iniciou uma experiência fundamental para os tempos modernos: as Grandes Navegações. Singrou mares e oceanos desconhecidos dos europeus, até chegar, em 1543, ao outro extremo da Terra, ao Japão.

No inicio dos tempos modernos, a Europa ocidental passava por mudanças internas profundas e importantes. Nas cidades, cresciam as atividades artesanais, comerciais e financeiras. Surgiram novos personagens sociais, como os mercadores, artesãos, funcionários públicos, cambistas e banqueiros, cujos                                                                                                                                          interesses entravam em choque com a nobreza feudal. No âmbito da vida política, alguns reis começavam a impor sua autoridade aos senhores feudais.

Essas mudanças levaram, entre o final do século XV e o começo do século XVI, a uma forte expansão marítima e comercial fomentada pela burguesia e pelas monarquias nacionais européias. Começava a época das grandes navegações.

Nesse processo de transformação do mundo ocidental, destacaram-se a burguesia mercantil e as monarquias nacionais, além de setores da própria nobreza, que lançaram os europeus à conquista do mundo através das grandes navegações.

Para boa parte da burguesia, a expansão marítima era uma necessidade econômica e política. As monarquias nacionais absolutas foram promotoras das Grandes Navegações – das cobranças de impostos à imposição da justiça e ao recrutamento militar foi fundamental para a expansão do capitalismo mercantil e das conquistas marítimas.

A centralização e o fortalecimento do Estado mostraram-se importantes para o desenvolvimento da economia capitalista mercantil. Do século XII ao século XVIII, o capitalismo baseou-se na atividade comercial. Foi a aplicação de investimentos de capitais no comércio de produtos entre mercados regionais, nacionais e internacionais que possibilitava a obtenção do lucro e a acumulação de capital.

Os produtos mais cobiçados eram metais preciosos, ouro ou prata, o chamado Metalismo, com a finalidade de se acumular metais preciosos, chamado de Entesouramento.

Coube aos portugueses iniciar a procura de novas rotas comerciais, atraídos pelo comércio de especiarias e pelas fabulosas riquezas que, segundo as lendas, existiriam nos continentes africano e asiático.

Tais lendas povoavam o imaginário dos europeus desde a época dos relatos de viagens de Marco Pólo à China, no século XIII.

Portugal possuía algumas vantagens que possibilitaram o seu pioneirismo: foi o primeiro país europeu a constituir um Estado nacional, território autônomo cujos súditos se submetiam ao mesmo rei; possuía um único exército e falavam a mesma língua, seguiam a mesma religião e obedeciam às mesmas leis; tinha uma localização geográfica favorável á navegação; tinha experiência na indústria pesqueira no alto mar.

O comércio constituiu o principal estímulo para os portugueses se lançarem aos mar. Buscavam, sobretudo, os produtos asiáticos de luxo, inexistentes na Europa, como especiarias, sedas, jóias, porcelanas.

As especiarias ou “drogas das Índias” eram aromas, perfumes, remédios, bálsamos, temperos, incensos, como a pimenta da Índia, a canela do Ceilão, o cravo das ilhas Molucas, a noz-moscada das ilhas de Banda e o gengibre de Madagascar e da Índia. Eram grandes riquezas, cujo alto lucro comercial instigava a cobiça e a ambição.


                                                                             
                                                                 
Joao de Castro, 1500-1548, explorador portugues, vice-rei da India. Retrato do Codex Lisuarte de Abreu, 1558. Biblioteca Pierpont Morgan, Nova York.

Além das razões de ordem material, havia um componente ideológico entre as nações européias que deram início às Grandes Navegações – Portugal primeiro, depois a Espanha – era o sentimento de que era preciso difundir com urgência a fé católica entre os povos não cristianizados.


 Basta lembrar que Portugal e Espanha se formaram e expandiram seus territórios durante a Guerra de Reconquista (séculos VII ao XV), uma série de conflitos entre cristãos e muçulmanos, na península Ibérica, que, apoiada pela Igreja Católica, reforçou a estreita ligação entre Portugal e Espanha e o Cristianismo.

Fundiam-se assim, num único corpo ideológico, o novo interesse mercantil com a velha mística cruzadista – a procura do lucro com a defesa da fé.


 A partir de então, as expedições portuguesas seriam organizadas como empreendimentos comerciais, militares e religiosos enviadas em nome da “missão” ou “destino” do império luso de expandir a cristandade em outras terras.

As grandes navegações portuguesas consolidou-se como um projeto claramente definido pelo Estado, a partir de 1385 com o triunfo da Revolução de Avis, que pôs no poder em Portugal a dinastia de Avis que influenciou diretamente a expansão marítima portuguesa.


 Combinando a busca de conhecimento com interesses comerciais e políticos, os Avis traçaram uma estratégia de inicialmente conquistar algumas posições no norte da África.


 Mais tarde, passou a ser a descoberta de uma rota marítima para as Índias que contornasse a costa africana.

Para o empreendimento, foram atraídos no exterior, sobretudo nas cidades da península Itálica, pilotos, técnicos especialistas, físicos, geógrafos, cosmógrafos e cartógrafos. Reunidos pelo príncipe dom Henrique no Algarves, a partir de 1415, esses homens constituiriam a suposta Escola de Sagres.
                                                                                 

Instrumento de navegação. Agulha de Marear,Museu da Marinha, Rio de Janeiro.

Astrolábio Nautico. Museu da Marinha, Rio de Janeiro.

Marco inicial nesse movimento expansionista foi a expedição a Ceuta, em 1415, na costa do Marrocos atual, junto ao estreito de Gibraltar, que visava tomar esse entreposto comercial e militar árabe e, por meio dele, fixar uma boa posição portuguesa no norte da áfrica.

Na década de 1420, os portugueses deram inicio à ocupação das ilhas da Madeira e dos Açores, onde introduziriam o trigo, a vinha e a cana-de-açúcar. Em 1434, a expedição de Gil Eanes ultrapassou o temido cabo Borjador, intensificando a exploração da costa africana. Escravos, ouro e marfim eram os alvos dos exploradores, apoiados nas feitorias, entrepostos comerciais fortificados, que eram instalados na costa.

Com a presença espanhola no oceano Atlântico, os portugueses logo passaram a negociar a divisão das futuras conquistas com os espanhóis.


 Depois de recusar proposta do papa Alexandre VI – divisão das terras a serem encontradas por um meridianos traçado a 100 léguas a oeste do Cabo Verde –, Portugal assinou com a Espanha em 1494 o Tratado de Tordesilhas.


 O acordo assegurava aos portugueses a posse das terras existentes a ocidente até 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde.


                                                                                     
                                                                               

Portugal insistiu no “périplo africano”, isto é, no contorno da áfrica rumo ao Oriente. Em 1498, no reinado de dom Manuel, o Venturoso (1495-1521), Vasco da Gama partiu de Lisboa e finalmente chegou a Calicute, na Índia atual.





                                                                                    
A Caravela. Academia das Ciências de Lisboa, Portugal.

Texto e Contexto

Em Os Lusíadas, Luís de Camões toma como assunto central a viagem de Vasco da Gama, exaltando a glória das conquistas realizadas pelo navegador e o ideal de expansão da fé católica:
“As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca d’antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana [ilha do Índico]
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas [não-católicas]
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.”
(CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1931.)

Para consolidar o comércio das especiarias, uma nova expedição foi enviada dois anos depois. Era a frota de Pedro Álvares Cabral.

Até Cabo Verde, a rota foi fielmente seguida. Após o arquipélago, a frota desviou-se para ocidente, no rumo sudoeste. 


Em 22 de abril, os portugueses avistaram um monte, que chamaram Pascoal, e a linha da costa, no sul da atual Bahia. 


O desvio, provavelmente deliberado e não casual, faz supor que, além do roteiro conhecido, a esquadra tivesse a missão não divulgada de comprovar a existência de terras no Atlântico Sul dentro da área prevista em Tordesilhas.

Cabral e seus homens batizaram as novas terras de
 Ilha de Vera Cruz, logo depois o nome foi modificado para Terra de Santa Cruz.


 Para comunicar o feito ao rei dom Manuel, foi enviado a Portugal uma carta de Pero Vaz de Caminha.

Em Portugal na Europa, o feito de Cabral foi considerado um “descobrimento”, ou “achamento”, no vocabulário da época.


 Mas recentemente, a expressão Descobrimento vem sendo criticada, pois ela revela apenas a visão portuguesa e européia – ou visão eurocêntrica – do acontecimento.

Texto e Contexto
A Carta de Caminha

“Esta terra, Senhor (...) nela, até agora não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém, a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados...
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
E que aí não houvesse mais que ter esta pousada para esta navegação de Calicute, isso bastaria. Quanto mais disposição para nela se cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, o acrescentamento da nossa anta fé.”
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, seta-feira, 1° de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.

Antes de Cabral, as terras que hoje fazem parte do Brasil já haviam sido visitadas por navegantes europeus. Já em 1325 lendas e mapas europeus falam da ilha Brasil, associada ao pau-brasil e a virtudes paradisíacas. 

Portugal pode ter chegado ao Brasil no fim do século XV em expedições de arcano (sigilosas), entre elas a de João Coelho da Porta da Cruz (1493). É certo que o espanhol Vicent Pinzón, a 26 de janeiro de 1500, desembarcou na ponta de Mucuripe, no litoral do atual estado do Ceará. 

Colombo no Atlantico rodeado por monstros. Gravura de Theodore de Bry, século XVI. 


    
   
Conquista de Ceuta, 1415, pelo infante português D. Henrique. Azulejo do século XIX.

Até o início das Grandes Navegações, o oceano Atlântico era praticamente desconhecido pelos europeus. Muitos acreditavam tratar-se de um mar povoado por monstros diabólicos. 

Por isso, era chamado de Mar Tenebroso. Muitos eram os medos dos europeus em relação ao desconhecido (tanto o vasto oceano Atlântico quanto o continente americano). 

Com as Grandes Navegações, novos continentes, assim como o oceano Atlântico, passaram a ser conhecidos, tendo aos poucos seus segredos desvendados. Enfrentar todos esses desafios reais e os imaginários foi tarefa pioneira dos portugueses.

Contudo, além do gosto pela aventura, os portugueses estavam à procura de riquezas e de possibilidades comerciais.

Em relação ao Brasil, as novas terras permaneceriam inexploradas por muitos anos, já que os esforços dos portugueses na época se concentravam nas feitorias africanas e no comércio de seus domínios no Oriente.

                                                                                     
Desembarque de Cabral. Tela de Oscar da Silva, século XIX. Museu Paulista, São Paulo.

As primeiras expedições portuguesas percorreram a costa da foz do Amazonas até o estuário do rio da Prata, no extremo sul. De imediato, a principal riqueza encontrada para explorar e comercializar foram as toras de uma árvore, o pau-brasil, madeira já conhecida na Europa, da qual se extraía um pigmento para tinturas em tecido e papel.

A exploração do pau-brasil foi arrendada, em 1502, a Fernão de Noronha, chefe de um grupo de cristãos-novos que se dedicavam ao comércio. 

Sua exploração, feita com base no trabalho dos indígenas, constituiu a primeira atividade econômica da nova colônia portuguesa na América, o Brasil. 

O pau-brasil, assim chamado pelos europeus, crescia naturalmente em quase todo o litoral brasileiro, na mata Atlântica. Com sua exploração, a Mata Atlântico do litoral foi destruída já no primeiro século de conquista.   
                             
                                                                                  
A chegada dos europeus à América. A cruz, a espada e as trocas comerciais presentes na conquista. Theodore de Bry, 1594.
Mapa Terra Brasilis, imagem bela e bucólica do Brasil no primeiro século, onde se observa a fauna, a flora e os indígenas sendo explorados para extração do pau-brasil. Atlas Miller de Lopo Homem, 1515-1519.

A ameaça estrangeira à posse da terra chegou a tal ponto na década de 1520 que o governo português se viu obrigado a enviar para cá expedições militares, chamadas de guarda-costas. Contudo, a solução foi a defesa permanente da costa, com vilas e povoados para iniciar a ocupação das terras e que pudessem impedir a atividades comerciais dos estrangeiros.

Grandes Navegações e Descobrimentos

1255 – No documento Foral de Gaia, faz-se referência a um navio chamado caravela, utilizado em atividades de pesca. É a mais antiga menção conhecida ao navio dos descobrimentos.

1336 – Marinheiros genoveses, a serviço de Portugal, teriam chegado às ilhas Canárias. Lanzarotto Malocello seria um deles.

1415 – Sob o comando do rei D. João I, e com a participação de seus filhos mais velhos, Portugal conquista Ceuta, fato que marca o início da expansão ultramarina.

1435 – Gil Eanes avança pelo litoral africano e ultrapassa o cabo Bojador.

1445 – Seis caravelas desembarcam na “Terra dos Negros” (Senegal).

1445-1448 – Construção da primeira fortificação portuguesa na África (Ilha de Aguim).

1487-1488 – Sob o comando de Bartolomeu Dias, expedição portuguesa atinge os limites austrais da África, ultrapassando o cabo das Tormentas.

1492-1493 – Viagem de Cristovão Colombo à América.

1494 – Tratado de Tordesilhas.

1497-1498 – Viagem de Vasco da Gama, com a qual se inaugura a carreira da Índia.

1499-1500 – Preparativos para a segunda expedição às Índias, sob o comando de Pedro Álvares de Gouveia, que depois da viagem adota o patronímico Cabral.

1507 – O nome América é registrado, pela primeira vez, no mapa de Martin Waldssemüller, para designar – em homenagem a Américo Vespúcio – o continente descoberto por Colombo.

1516-1519 – Expedições guarda-costas portuguesas, para combater espanhóis e franceses.

1519-1521 – Viagem de circunavegação, sob o comando do português Fernão de Magalhães, então a serviço de Castela.

1530-1533 – Expedição de Martim Afonso de Souza, com o objetivo de dar combate aos franceses e iniciar a colonização sistemática do Brasil, tomando posse definitiva do território, desde o Amazonas até o rio da Prata.