Durante
cinco anos – de 1937 a 1942 – o jovem estudou no Colégio Marista, tendo
sido aluno também do Colégio Oswaldo Cruz. Toda a sua educação, cabe
salientar, foi sempre acompanhada por uma preceptora que, entre outras
coisas, lhe ensinou a falar fluentemente as línguas inglesa e alemã.
Em
1949, Ricardo concluiria os cursos de engenharia civil e engenharia
mecânica, ambos na Universidade Federal de Pernambuco. Naquele mesmo
ano, ele casava com Graça Maria Monteiro. O casal teve oito filhos:
Ricardo Filho, Antônio Luís (falecido há 5 anos), Catarina Maria, os
gêmeos José Jaime e Maria de Lourdes, Renata, Patrícia e Paula.
Durante
muitos anos, Ricardo Brennand se dedicou ao ramo de negócios que a sua
família desenvolvera: as indústrias de vidro, aço, cimento, porcelana e
açúcar. Mas, como hobby, ele colecionava uma grande quantidade
de armas, adquirindo-as sempre em todos os lugares viajados (na Europa e
na Ásia), através de leilões, museus, ou mesmo de coleções
particulares.
Em 1990, o empresário venderia as fábricas de cimentoAtol, Paraíba Portland, Cimepar e Goiás e,
com o consentimento dos seus familiares, utilizaria parte dos recursos
para fundar o Instituto Ricardo Brennand (IRB), uma sociedade sem fins
lucrativos, presidida pelo próprio empresário. O seu Conselho
Deliberativo é formado por Nélida Piñon, Joaquim Falcão, Edson Nery da
Fonseca, Affonso Emílio Massot e outros.
Através
de um projeto pessoal que associou muita coragem, competência e
generosidade, o empresário pôde inaugurar, no segundo semestre de 2002,
em terras que no passado pertenceram a João Fernandes Vieira,
um empreendimento que representava o seu grande sonho. O Instituto é
uma bela homenagem prestada pelo empresário ao seu saudoso tio homônimo.
Com isto, Ricardo Brennand criava um pólo turístico cultural local,
nacional e global de valor inestimável.
Situado
na Alameda Antônio Brennand, s/n, no bairro da Várzea, e todo edificado
em estilo medieval gótico, o complexo é formado por três construções
distintas – o castelo, a pinacoteca e a biblioteca – nas mesmas terras
onde o empresário vivera desde sempre. Contém, também, um auditório para
100 pessoas, com uma área de 1.200 m2.
O Governo da Holanda reconhecendo que o IRB utilizava uma tecnologia de
ponta, no tocante aos controles de umidade e temperatura, entre outros
aspectos, colocou o Estado de Pernambuco na rota das grandes mostras
internacionais, e permitiu que a exposição itinerante “Albert Eckhout volta ao Brasil (1644 -2002)” fosse transportada para o Recife, dando ensejo à inauguração da pinacoteca.
O
IRB trouxe ao Recife, do dia 12 de setembro a 24 de novembro de 2002,
a megaexposição do pintor holandês Albert Eckhout (1610 - 1680). Vale
salientar que a liberação das 24 obras do acervo do artista só ocorreu
após uma década de negociações com o Museu Nacional da Dinamarca, em
Copenhague. Eckhout veio ao Novo Mundo acompanhando a comitiva do conde
Maurício de Nassau, um holandês que governou Pernambuco durante sete
anos (1637 - 1644), durante a época da invasão dos flamengos (1630 -
1654). Eckhout foi o primeiro olhar estrangeiro a registrar as riquezas
botânica e humana do Brasil colônia.
Na pinacoteca do IRB (cuja área tem 1.200 m2), há uma exposição permanente de paisagens do artista holandês Frans Post (1612 – 1680), permitindo que o visitante faça um passeio histórico pelo Brasil holandês.
Frans
Post representou um dos integrantes da comitiva holandesa em
Pernambuco, assim como Georg Marcgraff (astrônomo e cartógrafo),
Zacarias Wagner (desenhista), e Peter Post (arquiteto), entre tantas
outras personalidades competentes. Atuando como a memória visual do
conde Maurício de Nassau, Frans Post o acompanhava em todas as campanhas e viagens.
Na
pinacoteca, pode-se apreciar um livro virtual, editado em 1647, cujas
páginas são folheadas mediante a colocação das mãos do usuário sobre os
sensores existentes. IntituladoRerum octenium in Brasilia, o
livro foi elaborado por Gaspar Barleus, englobando 340 páginas, 57
gravuras, 24 mapas e ilustrações de Frans Post. Além disso, estão
expostas algumas obras do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848).
Do
acervo da pinacoteca constam, ainda, mapas, moedas, cachimbos,
documentos originais do século XVII, e um quadro bastante raro da
coleção de Post, intitulado Forte Frederik Hendrik, que retrata
a Ilha de Antônio Vaz, em Pernambuco. Essa obra faz parte da chamada
primeira fase do artista, época em que ele viveu no Brasil, e representa
as primeiras visões de um europeu sobre o Novo Mundo. Sabe-se que,
naquele período, ele pintou um total de 18 telas, mas, destas, só
restaram 7, estando as demais desaparecidas.
Somente
a título de informação, ressalte-se que um quadro de Frans Post,
daquela mesma fase, foi arrematado em 1997, em um leilão em Nova York,
por US$ 4,1 milhões, o que representa o valor mais alto já pago por um
quadro desse pintor, até o presente.
Na
exposição permanente da pinacoteca é possível se apreciar, inclusive, a
maior coleção particular do Brasil de pinturas e paisagens daquele
artista holandês. Encontram-se, por outro lado, as obras dos viajantes
que vieram ao Brasil depois da abertura dos portos, além de outros
expoentes da Academia Imperial. Através daqueles desenhos e gravuras, é
possível se conhecer, hoje, como era o Recife no século XVII,
incluindo-se as suas flora e fauna.
Em setembro de 2003, por sua vez, inaugurou-se o Museu Castelo São João, uma construção em estilo Tudor,
cujo projeto arquitetônico foi inspirado nos castelos da região
toscana, na Itália. Esse castelo possui um calabouço, vitrais antigos
(originários de igrejas e castelos europeus), portas secretas e um altar
em estilo gótico.
O
local está repleto de armas brancas e armaduras medievais completas,
representando o acervo adquirido por Ricardo Brennand durante meio
século de vida. São pinturas, esculturas, vitrais, tapeçarias, desenhos,
gravuras, canivetes, estiletes, clavas, adagas, espadas, lanças,
armaduras medievais (inclusive para cavalos e cães) e uma série de
outras armas para a caça e para a guerra, provenientes de vários séculos
e de origens distintas, além de um mobiliário gótico.
No
castelo, destaca-se um raríssimo conjunto do século XV, em estilo
Maximiniano, de origem germânica, constando de
cavalo-cavaleiro-com-armadura, bem como conjuntos de combate, clavas,
esferas com pontas e outras peças.
Advindo
do século XVI, há uma curiosa armadura para cachorro e vários objetos
interessantes, a exemplo de uma adaga indiana do ano de 1700, uma caneca
de prata com o brasão da Companhia das Índias Ocidentais, além de
espadas-pistola e facas-pistola (lâminas acopladas com armas de fogo).
Pode-se
apreciar, também, valiosas tapeçarias e uma coleção de telas de
artistas renomados, tais como Jean Baptiste Debret, Eliseu Visconti,
Emil Bauch, Eugène Lassaily e Antonio Facchinetti.
Integrando o grande acervo, estão presentes algumas telas pintadas a óleo - O comércio de escravas brancas (de Domenico Russo), O modelo do artista (de Eliseu Visconti) eDançarina do Harém (de Gaston Guedy) - e a peça Anjo Querubim -
uma obra em madeira policromada e dourada, que foi entalhada pelo
Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1750 - 1813). Esse trabalho fazia
parte, originalmente, da nave central da Igreja dos Clérigos, no Rio de
Janeiro.
O IRB conta, inclusive, com inúmeros trabalhos em mármore, réplicas de estátuas elaboradas por famosos escultores europeus (As Três Graças, O Rapto das Sabinas,Fuga de Vesúvio), outras estátuas italianas e esculturas mineiras do século XIX.
Vale
salientar que, um dos pilares mais importante do IRB é a realização de
programas educacionais voltados para os alunos das redes municipal e
estadual de ensino, e para crianças e adolescentes deficientes. Esses
programas visam complementar o ensino regular de História, aproximando o
conhecimento desta disciplina e das artes junto às escolas e à
comunidade, e ensinando os jovens a melhor conhecer e valorizar a
cultura.
Nesse
processo, encontram-se envolvidos os seguintes parceiros: a Secretaria
de Educação e Cultura de Pernambuco; as Secretarias Municipais de
Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista e Camaragibe; a Universidade Federal
de Pernambuco; e a Empresa Municipal de Transportes Urbanos (EMTU).
Dentro
do programa de visitas ao IRB, os estabelecimentos de ensino são
agendadas em grupos de 50 alunos (acompanhados por alguns professores)
que, além de desfrutarem da visita ao local, recebem kits de jogos educativos, baseados na vida e obra de Frans Post. Cabe registrar que os docentes recebem um kit distinto daqueles dos alunos, já que necessitam de instruções para poder orientá-los em seus jogos.
A
biblioteca do IRB vem sendo organizada no primeiro andar da pinacoteca,
com enfoque para o período do Brasil-holandês. Ela contém dezenas de
milhares de títulos, muitos dos quais verdadeiras preciosidades, bem
como uma seção de gravuras e cartografia. O acervo teve o privilégio de
incorporar três outras coleções particulares relevantes: a de um
historiador (José Antônio Gonsalves de Mello), a de um documentalista (Edson Nery da Fonseca) e a de um escritor musicólogo (Padre Jaime Cavalcanti Dinis).
Para
compor a fauna existente em jardins de castelos europeus, o IRB teve o
cuidado de importar várias espécies de aves exóticas, incluindo cisnes
negros e brancos, patos, flamingos, gansos e outros. Todas as espécies
perambulam livremente pelos espaços que lhes foram destinados nas
imediações da localidade.
Três grandes esculturas de rinocerontes, em cor negra, podem ser
apreciadas nos jardins do IRB E estes estão rodeados por trechos da Mata
Atlântica, preservada graças ao enorme carinho do empresário para com a
flora nativa. Os bairros da Cidade Universitária e da Várzea contêm a
sinalização para o acesso ao I.R.B., cuja entrada se dá através da
imponente Alameda Antônio Brennand, que contém dezenas de palmeiras
imperiais.
A obra de Ricardo Brennand representa um gesto de crença e amor, e um
sopro de vida e esperança para o Brasil. Por tanto querer bem à
população brasileira, à sua família, aos seus amigos, à terra que
pertenceu a João Fernandes Vieira, e por tanto desejar que os seus
descendentes nasçam, cresçam e vivam na região, se orgulhando de serem
nordestinos, o empresário disponibilizou e financiou, em vida, uma obra
que protege um precioso patrimônio artístico e cultural.
FONTES CONSULTADAS:
BURCKHARDT, Eduardo. Paisagens do tempo de Nassau. Revista Época, São Paulo, Edição especial 70 -71, p. 1- 2, 23 out. 2003.
DISCRIÇÃO ao estilo inglês: descendência da família remonta à Liverpool de 1820. Diário de Pernambuco, Recife, 3 abr. 2003, Caderno Viver, p. 2.
GALINA,
Décio. Duas vezes Brennand: o castelo de Ricardo e a oficina de
Francisco, ambos no bairro da Várzea,são ótimas justificativas para dar
as costas à orla de Recife. Revista Gol, São Paulo, set. 2005.
INSTITUTO Ricardo Brennand: a obra e o tempo. Recife: Instituto Ricardo Brennand, [200-].
LACERDA, Ângela. Um castelo, um mecenas e um oásis de arte e história. O Estado de São Paulo, São Paulo, 29 set. 2003. Caderno 2, p. 1-4.
MEDEIROS, Amaury. Instituto Ricardo Brennand. Jornal do Commercio, Recife, 2 jan. 2003. Caderno Opinião, p. 15.
UM PROGRAMA voltado para quem gosta de vários tipos de arte. Vejanoite, Recife, p.2 ,29 jan. 2003.