terça-feira, 26 de junho de 2012

fotos antigas de João Pessoa

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sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Conquista da Paraíba


Trabalho apresentado no Simpósio:
Momentos Fundadores da Formação Nacional
IHGB - Rio de Janeiro
(26 a 30 de junho de 2000)
                                                                                
                                                                                    
A celebração dos 500 anos da descoberta oficial do Brasil tem ensejado uma série de trabalhos sobre a formação da nacionalidade brasileira. O próprio Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro está promovendo um Simpósio para o exame e análise dos momentos fundamentais para a nossa formação nacional.

Não se trata de discutir se a descoberta do Brasil foi acidental ou proposital, nem se antes de Pedro Álvares Cabral nossa terra já havia sido visitada. Em cada Estado registraram-se episódios dignos de apreciação, como formadores da nacionalidade. O começo do Brasil - o período colonial - é pleno de ocorrências que marcam a conquista propriamente dita da terra de Santa Cruz, seu desenvolvimento e a organização do seu povo.

O recente lançamento da 2a edição do livro FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL, de Arno e Maria José C. M. Wehling, pela Editora Nova Fronteira, vem muito a propósito dessa apreciação. Ilustres Doutores em História, os autores sintetizam com grande segurança o largo período da nossa formação, usando a metodologia moderna indispensável a melhor análise e interpretação dos acontecimentos desenrolados no Brasil desde o século XVI ao século XVII, focalizando, ao mesmo tempo, a interação entre a nova terra e o mundo político das demais nações.

Como o objetivo do Simpósio patrocinado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é fazer um apanhado sucinto, por regiões brasileiras, de aspectos marcantes da nossa evolução, consenti, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em rever a História da povoação de Nossa Senhora das Neves, primeira denominação dada pelos portugueses à Paraíba, pois nela se contém importantes passagens que podem ser objeto de análise para fixar sua participação na formação nacional.

A presença dos membros das ordens religiosas (jesuítas, franciscanos, beneditinos, carmelitas) na catequese dos indígenas é um dos momentos importantes, da Paraíba, nessa formação; a qualidade do pau-brasil - ibirapitanga -, considerado o melhor entre os explorados no país, que deu o início ao nosso comércio;1 a Inquisição na Paraíba, com a visita do inquisidor Heitor Furtado de Mendoça; a participação dos paraibanos na expulsão dos holandeses, com destaque para o grande estrategista Vidal de Negreiros; são alguns dos episódios marcantes da participação da Paraíba no período colonial.

Outros episódios, durante o Império e a República, dão destaque à Paraíba. Sua participação nas lutas nativistas, principalmente em 1817, fornecendo maior número de mártires do que Pernambuco, onde se iniciou o movimento; a Revolução Praieira, cuja última resistência ocorreu na cidade de Areia, na Paraíba; a revolta 
 
do Quebra-Quilos, iniciada na Paraíba e que se estendeu por Pernambuco e Rio Grande do Norte; a Proclamação da República, com a presença dos paraibanos Aristides Lobo, Maciel Pinheiro, general Almeida Barreto, Coelho Lisboa, entre outros; a Revolução de 1936, que só tomou corpo com a morte do presidente João Pessoa, cabendo à Paraíba o controle do Nordeste e do Norte; outros tantos acontecimentos registrados pelos nossos historiadores dão à Paraíba uma posição de destaque na formação da nossa nacionalidade.
1 "O pau desta Capitania é o mais e o melhor que se sabe". - SUMÁRIO DAS ARMADAS.

Esses são pontos que poderiam figurar como títulos para uma análise da influência da Paraíba na formação da nacionalidade.

Todavia, considero de grande relevância para nossa formação a conquista da Paraíba, propriamente dita. Sem a conquista da Paraíba não teria sido possível a Coroa Portuguesa confirmar sua posse sobre as terras do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Maranhão, facilitando o avanço para o Norte. Sua conquista transformou-se, também, na resposta de Portugal às pretensões da França de Francisco I, que chegou a sonhar em estabelecer uma colônia francesa em nossas terras.

Para não perder a colônia, Portugal repartiu o Brasil em Capitanias Hereditárias, enviou expedições punitivas para evacuar os franceses do litoral e, mais tarde, estimulou a conquista da Paraíba com vistas a poder avançar para o Norte.

A partir de 153O Portugal reconheceu a necessidade de tomar posse efetiva da nova terra, primeiro enviando a expedição punitiva (1926) de Cristóvão Jacques para afastar os franceses, como corolário da fundação de feitorias.

Pandiá Calógeras ressalta esse fato: "Tão longe foram, que por 1530 seria motivo de hesitação responder se o Brasil se tornaria francês ou permaneceria lusitano, tão forte era a pressão exercida pelos primeiros sobre os segundos".2
Aliás, Francisco Adolpho de Varnhagen, em sua HISTÓRIA GERAL DO BRASIL, também se pronunciou sobre essa hesitação de Portugal.

2 FORMAÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL, 5a edição, 1957. Cia. Editora Nacional.

Desde 1570, os índios, insuflados pelos franceses, com quem conviviam nas terras da Paraíba e Rio Grande, incursionavam em Itamaracá e Olinda, ameaçando a florescente Capitania.

E tudo começou com o lendário massacre de Tracunhaém, em 1574. O cristão-novo Diogo Dias, senhor de engenho em Goiana, a 60 Km da futura capital paraibana e a 4O Km de Itamaracá, reteve uma cunhã potiguara, filha do principal Iniguaçu, a qual havia se casado com um mameluco. O principal da tribo não gostou desse seqüestro e, instigado pelos franceses, assaltou o engenho, matando todos os seus moradores. Da família de Diogo Dias escaparam dois filhos, porque não se encontravam no engenho. Envaidecidos dos seus feitos, passaram os índios a fustigarem a ilha de Itamaracá, preocupando os habitantes de Olinda, os quais temiam a qualquer momento um ataque indígena.

Duarte Coelho sempre manteve Portugal ciente dos constantes assédios dos potiguaras, principalmente a Itamaracá, Capitania que estava abandonada pela
ausência do seu donatário. Para Pernambuco, principalmente Olinda, onde era sediado o governo de Duarte Coelho, Itamaracá representava uma atalaia.
Mas, Portugal nessa fase estava na pior. As dissensões, políticas internas, a situação financeira do Reino, a política de sigilo da diplomacia portuguesa, tudo contribuía para um alheamento total à situação de sua colônia.

O historiador paraibano Horácio de Almeida retratando situação da Paraíba nessa fase, comenta:

"Em mais de setenta anos de dominação portuguesa,
o povoamento do norte do país não dera um passo
avante de Itmaracá. A avançada lenta estava agora
em riscos de retroceder, ameaçada de despejo pelos
constantes assaltos dos potiguaras.
A Paraíba, terra quase desconhecida, pertencia à
Capitania de Itamaracá, que definhava na Ilha como
um caso ostensivo de malogro. Não somente a
Paraíba, mas todas as terras que adiante dela se
estendiam para o norte. Só no mapa faziam parte do
Brasil. O que se sabia desse mundo a povoar era
apenas o que informava o reconhecimento marítimo da costa".
3
Até a década de vinte do século XVI, Portugal se desligara da nossa colonização. Não fosse a impertinência dos franceses na costa paraibana e do Rio Grande, contrabandeando o pau-brasil e insuflando os potiguaras, Portugal teria deixado de lado, por mais algum tempo, nossa colonização. Foi o receio de perder a nova colônia que levou a coroa portuguesa a adotar o sistema de capitanias hereditárias, após a sugestão de D. Diogo de Gouveia, Reitor da Universidade de Santa Bárbara, em Paris, para aproveitar a experiência iniciada nas ilhas atlânticas.

Depois de tantos reclamos por parte de Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, sobre as investidas indígenas e da repercussão do massacre de Tracunhaém, D. Sebastião autorizou o governador Luis de Brito e Almeida a ocupar a Paraíba. D Sebastião desmembrou uma faixa de terra da Capitania de Itamaracá, que se tornou a Capitania da Paraíba, a terceira pertencente à Coroa.4 Deu à nova Capitania os limites da Baía da Traição ao rio Abiaí, que depois foi fixado no rio Popoca.
3 HISTÓRIA DA PARAÍBA, vol. 1, 2a edição. João Pessoa, Ed. Universitária, 1978.
4 A propósito dessa decisão do rei D. Sebastião, o historiador paraibano Guilherme d'Avila Lins, sócio do IHGP, em recente Ciclo de Debates promovido pelo Instituto, não contesta as instruções de D. Sebastiao, mas informa que até agora ninguém descobriu o documento que produziu a criação da nova Capitania.

Era nessa faixa que habitavam os potiguaras, responsáveis pelas estripulias que amedrontavam Itamaracá e Olinda, esta última sede da Capitania de Pernambuco.

Luis de Brito e Almeida, não podendo cumprir diretamente as ordens recebidas de D. Sebastião, designou o ouvidor geral Fernão da Silva para a conquista da terra rebelde. Fernão da Silva chegou a tomar posse da Capitania em nome de el-rei, mas foi logo desalojado pelos potiguaras, fugindo para Itamaracá o ouvidor e sua gente, numa desabalada carreira pelas praias paraibanas até Itamaracá. Foi o primeiro fracasso.

O governador Luis de Brito e Almeida resolveu, ele próprio, comandar uma investida nas terras da Paraíba. Nem chegou a iniciar essa investida, pois as 12 naus aprestadas com muita gente, na viagem da Bahia para Pernambuco, foram desbaratadas pelo vento forte que as envolveram perigosamente.

O novo governador, Lourenço da Veiga, incumbiu o ouvidor Cosme Rangel de aprestar uma nova expedição de conquista. Não se tem notícia das medidas nem da execução da nova sortida.
Com o desaparecimento de D. Sebastião, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, no Marrocos, lutando contra os mouros, assume o governo português o Cardeal D. Henrique. Em 1579, o rico comerciante português Frutuoso Barbosa propõe ao Cardeal conquistar e colonizar a Paraíba, na condição de ser seu Governador por dez anos. De posse dessa autorização, Frutuoso Barbosa inicia o aprestamento da expedição, mas por várias razões, somente inicia seu projeto de conquista em 1581. Sua frota ancorou ao largo de Pernambuco, mas antes que desse início seu plano um temporal violento desarvorou a frota, indo seu navio arribar nas Índias de Castela, a atual Cuba. Lá, sua esposa morre.

Mas ele não desiste. Volta a Portugal, onde é confirmado no posto pelo novo soberano: Felipe II, da Espanha (I de Portugal). Em 1582, nova investida. Novo fracasso ante a reação franco-potiguar. Na refrega morre seu filho, parentes e grande número de participantes da expedição, retornando Frutuoso Barbosa a Pernambuco, tendo arcado com grandes prejuízos financeiros.
Com esses fracassos, os índios se tornam cada vez mais soberbos, azucrinando os moradores de Itamaracá.

Em 1584, o governador Teles Barreto resolve atender aos constantes pedidos de socorro de Itamaracá e Pernambuco, e do próprio Frutuoso, e organiza uma nova expedição, desta vez contando com o apoio do general espanhol Diogo Flores de Valdez. Tiveram mais sorte, passando mais tempo na posse da terra, onde foi construído um forte, posteriormente destruído pelo próprio alcaide da cidade, ante a pressão vigorosa dos índios e franceses.

          Em fevereiro de 1585, chegaram à Paraíba os índios tabajaras, vindos do São Francisco. Os tabajaras, cujo principal era Piragibe - Braço de Peixe -, instalaram-se na margem esquerda do rio Paraíba e se aliaram aos potiguaras, que ficavam na margem direita do rio.
Ainda nesse ano, os chefes indígenas se desentendem, surgindo a oportunidade de Martim Leitão oferecer o apoio dos portugueses aos tabajaras, proposta que não foi de logo aceita pelos índios, sempre desconfiados dos portugueses, com quem tiveram, na Bahia, um entrevero violento, tendo os potiguaras massacrado os portugueses que pretendiam preá-los.

Na sexta tentativa, com uma pequena expedição dirigida por João Tavares, Juiz de Órfãos e Escrivão da Câmara de Olinda, foi possível firmar as pazes com os tabajaras, que haviam se desentendidos com os potiguaras e aceitaram a proposta de ajuda a proteção dos portugueses. 

 As pazes foram celebradas às margens do rio Sanhauá no dia 5 de agosto de 1585, dia de Nossa Senhora das Neves, nome que mais tarde serviu para identificar a nova cidade. Só no dia 31 de outubro foi escolhido o local para a edificação da nova povoação, junto ao varadouro das naus, no rio Sanhauá, ao sopé da colina por onde se espraiou a nova povoação. A cidade foi fundada, oficialmente, dia 4 de novembro daquele ano.

Assim que o soberano tomou conhecimento da auspiciosa notícia elevou a povoação à categoria de cidade (Cidade de Nossa Senhora das Neves), que jamais foi vila. Era a terceira cidade do Brasil. A primeira cidade fundada foi Salvador, em 1549; a segunda, Rio de Janeiro, em 1565; e Cidade de Nossa Senhora das Neves, em 1585, na Paraíba.

A conquista da Capitania da Paraíba, cuja sede foi denominada Cidade de Felipéia de Nossa Senhora das Neves, estava oficializada.
Mas, os potiguaras não arredavam pé, sendo necessária a construção duma fortaleza, a de Cabedelo e outras providências foram tomadas para resistir aos ataques da valente nação potiguara.

João Tavares, Escrivão da Comarca e juiz dos Órfãos de Olinda, com o apoio do ouvidor Martim Leitão, governou a nova Capitania de 1585 a 1588.
Foram organizadas expedições contra as aldeias potiguaras, com a participação de gente do governo ("homens de qualidade"), mercenários, soldados e índios flecheiros, incluindo-se aí os tabajaras, agora aliados dos portugueses.

A partir de 1588, até 1591, governou a nova Capitania Frutuoso Barbosa, quando se oficializou a denominação de Cidade Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Foram construídos os fortes de Santa Catarina, em Cabedelo, e o forte de Inhobin, na várzea do Paraíba, sendo incrementada a agricultura. O engenho real São Sebastião foi criado em janeiro de 1587.

Chegaram os primeiros membros das ordens religias: os jesuítas estavam presentes desde os primeiros dias, depois vieram os franciscanos, os beneditinos e os carmelitas, nessa ordem. Vieram para catequizar os índios e educar os filhos dos colonos.

A cidade foi tomando ares de progresso, principalmente no período governado por Feliciano Coelho de Carvalho, entre 1592 e 1600, cujo feito mais importante foi assegurar as pazes com os potiguaras, em 1599, uma das páginas emocionantes da história paraibana, responsável pela consolidação da Capitania da Paraíba. Decorreram 25 anos para que nossa Capitania tivesse um período de paz e pudesse, com tranqüilidade, cuidar do seu progresso, apesar das constantes investidas dos potiguaras.

Mas até a conseguirmos a paz com os potiguaras, houve muito sangue. Finalmente, em nossa Felipéia, a 11 de junho de 1599, foram celebradas as pazes com os potiguaras, com a presença de Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor de Pernambuco; Feliciano Coelho de Carvalho; capitão-mor da Paraíba, e os oficiais da Câmara e os capitães locais; e mais os capitães da ilha de Itamaracá; os jesuitas Gaspar de Samperes e Francisco Pinto, aos quais se deve um grande trabalho em favor dos entendimentos com os índios.
 
 Do lado dos índios estavam os principais: Pau Seco, Pedra Verde, Zorobabé, Ipãguaçu, Camarão Grande e os indígenas tabajaras já cristianizados Piragibe(Braço de Peixe) e seu filho Braço Preto, e outros tuxauas.

Com a pacificação celebrada na Filipéia, tornou-se possível a fundação da Cidade do Rio Grande (hoje, Natal), o que ocorreu no dia 25 de dezembro de 1599, por iniciativa de Manuel Mascarenhas Homem, Capitão-mor da Conquista do Rio Grande, com o apoio do governador da Capitania da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho.

Sem a pacificação com os potiguaras, nem Natal teria sido criada, nem a Capitania da Paraíba teria prosperado, nem os portugueses teriam avançado para o Norte.

A conquista do Rio Grande do Norte também se constituiu em grande epopéia, verdadeira saga com a luta encarniçada contra os índios potiguaras, que foram praticamente massacrados, apesar do empenho catequético do padre Samperes e do padre Pinto. Também o empenho contra as naus francesas, que sempre fustigaram o Rio Grande, foi um destaque.

Depois, a Paraíba contribuiu com a expedição de Pero Coelho de Sousa para a conquista do Ceará - 1603 a 1607. Na realidade, Pero Coelho de Sousa, co-cunhado de Frutuoso Barbosa, antigo comandante de uma galé real, juiz ordinário da Câmara, residente na Paraíba, aventurou-se com uma companhia "de 65 soldados e 200 índios tabajaras e potiguaras, no meio daqueles, o rapaz Martim Soares Moreno, o língua mor Manuel de Miranda e os cabos de tropa Simão Nunes Correia, João Tataperica e João Cide, e, entre os últimos, os principais tabajaras Batatã, Caragatim e Maiopuba, e o potiguara Carãquinguira..."5
5 PEQUENA HISTÓRIA DO CEARÁ. Raimundo Girão. 3a edição, Imprensa Universitária, Fortaleza. 1971. p. 39.

O historiador Raimundo Girão registra que a empresa de Pero Coelho frustrou-se, em parte. E diz: "Se não atingiu o Maranhão, pôde inutilizar o perigoso enquistamento dos franceses no Ceará."6
Mas, esse foi o começo da conquista do Ceará para o colonizador português, que contou com a participação da Paraíba, assim como do Rio Grande do Norte.

Fica bastante claro que o objetivo da participação do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, por intermédio do seu presidente, é valorizar a contribuição da Capitania da Paraíba no avanço da colonização portuguesa para o Norte, estabelecendo um dos momentos básicos da nossa nacionalidade.

Todos os fatos aqui narrados em síntese, dentro dos limites da programação deste Simpósio, espelham a grande epopéia que se desenrolou por ocasião desses avanços, os quais através de vários historiadores, podem ser conferidos, positivando a presença da Paraíba nessas conquistas.
As peripécias, as lutas intensas, as dificuldades encontradas na resistência ao assédio dos índios, sua dizimação no massacre das aldeias, são quadros de intenso estoicismo, cuja narração permitimo-nos dispensar para atender ao objetivo sintético deste Simpósio.

 
Não escondo a certeza de que a Conquista da Capitania da Paraíba teve repercussão na história do avanço luso na colonização das terras além da Baía da Traição.
6 Op. cit. p. 40.

Foi um trunfo na formação da nossa nacionalidade.

* ALGUMAS OBRAS SOBRE A CONQUISTA DA PARAÍBA:

BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos da Grandeza do Brazil. [1a ed.,
                Recife, 1886-1887 (em periódico)].
HAKLUYT, Richard. A special l letter written from Feliciano Ciez de
                Carvalsho the Governour of Parajua in the most Northerne
                part of Brasil 20, August, 1579, to Philip the second King
                of Spaine, answering his desire touching the conquest of
                Rio Grande, with the relation of the besieging ot the Castle of
                Cabodelo by the frenchmen, and of the descoverie of a rich
                silver mine and diverse other important matters.
[1a ed.,
                Inglaterra, 1600]. Trata-se de uma carta em português (de
                20.08.1597, enviada por Feliciano Coelho de Carvalho,
                Governador da Capitania da Paraíba ao Rei Felipe da Espanha
                (I de Portugal), que foi interceptada por corsários ingleses).

ILHA. OFM. Manuel da. Narrativa da Custódia de Santo Antônio do
                Brasil: 1584/1621
. (Escrita em latim). [1a ed., Petrópolis, RJ].

LINS, Guilherme Gomes da Silveira d'Avila. Páginas da História da
                Paraíba. Revisão crítica sobre a identidade
                e localização dos primeiros engenhos de açúcar da Paraíba
.
                [1a ed., João Pessoa, 1999 / 1975].

MACHADO, Jerônimo. Sumário das Armadas. [1a ed., Rio de Janeiro,1948].
MADRID, Manuscrito de. De alguãs cousas mais notaueis do Brasil e de
                alguns Costumes dos índios.
(Crônica atribuída ao padre
                Francisco Soares). [1a ed., Rio de Janeiro, 1996].

MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá Razão do Estado do Brasil -
                1612
. [1a ed., Durham, 1949].

PERAZA, Juan. Relacion cierta y verdadera que trata de la Victoria y toma
                de la Parayva, que el ilustre Diego Flores de Valdés tomó
                com la arma da de su Magestade Real, etc. etc. [1a ed., Sevilla,
                1584]. Em versos.

PRADO, J. F. de Almeida. Pernambuco e as Capitanias do Norte do
                Brasil(1530-1630): História da Formação da Sociedade
                Brasileira
.[1a ed., São Paulo. 1939-1942].

PRADO, J. F. de Almeida. Conquista da Paraíba (Séculos XVI a XVIII).
[1a ed., São Paulo, 1964].

* Deixamos de mencionar aqui inúmeras outras obras de merecimento, incluindo impressões de viajantes, relatórios, etc..

Fonte:
http://www.ihgp.net/aconquistadaparaiba.htm



A igreja de Cosme e Damião. mais antiga do Brasil


                                      
                                                                             
                                                                           
                                                                                   
Destacamos, neste trabalho, a Igreja mais antiga que se tem conhecimento, e que se encontra em pleno funcionamento: ela encontra-se no município de Igarassu no Pernambuco.

Após a vitória dos portugueses sobre os índios Caetés, nativos daquela região, no ano 1535, por ordem do Capitão Afonso Gonçalves, foi mandado erigir, no local da vitória, uma capela votiva consagrada aos Santos Cosme e Damião. Seu estilo é simples e tende para o maneirista.
                                                                         

                                                                               
 
Durante o período da invasão holandesa a  Igreja de São Cosme e Damião foi depredada, mas reconstruída em 1654. Em 1950, passou por uma restauração que a deixou mais próxima das características iniciais.  O monumento foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 25 de maio de 1951. 

 Igarassu (na língua Tupi = Canoa Grande) é  considerado o primeiro núcleo de povoamento do país e  fica a  30 km do Recife, no litoral norte da Região Metropolitana, às margens da foz de um rio ao lado da ilha de Itamaracá. 

Sendo praticamente um porto natural, o local foi muito requisitado pelos portugueses  à época do descobrimento. Suas caravelas ficavam às margens da área onde posteriormente surgiu a vila, que, segundo a tradição, teria sido fundada em 27 de setembro de 1535.

Ao contrário do que muitos imaginam, foi em Igarassu, e não em Olinda, que os portugueses inicialmente se estabeleceram. A localidade de Sítio dos Marcos já contava em 1516 com um dos principais ancoradouros do litoral brasileiro.

Convém destacar que, desde o descobrimento oficial, em 21 de Abril de 1500, até a década de 1530 não houve uma colonização efetiva do território brasileiro. Essa colonização só ocorreu diante da ameaça de outros países europeus "roubarem" da coroa portuguesa o território recém descoberto. Como é sabido por todos, Pernambuco tornou-se a base para a exploração do norte da colônia.

Aos Santos Cosme e Damião, é atribuído  o  milagre  que teria ocorrido no ano de 1685, quando as cidades de Recife, Olinda, Itamaracá e Goiana foram assoladas pela febre amarela e Igarassu escapou ilesa dessa praga.

Outro fato curioso: Igarassu tem um vereador perpétuo: Santo Antônio! O Santo recebe um salário mínimo por mês, que gentilmente é doado por "ele" à manutenção de um orfanato na cidade.

Todo dia 27 de setembro celebra-se o dia dos padroeiros de Igarassu em uma das mais antigas e tradicionais festas populares do País.


Texto de Rostand Medeiros, postado nos blogs:


 



Antropofagia

                                                                    
Foi o "costume bárbaro" que mais impressionou os europeus que aqui chegaram no século XVI... A morte ritualizada e a deglutição eucarística dos cativos representava o ponto culminante de uma cerimônia, cujo objetivo quase único era a vingança.

 A vítima era capturada no campo de batalha e pertencia àquele que primeiro a houvesse tocado; triunfalmente conduzida à aldeia do inimigo, era insultada por mulheres e crianças (tinha de gritar "eu, vossa comida, cheguei!"). 

Após essas agressões, porém, era bem tratada, podendo andar livremente - fugir era uma vergonha impensável. O cativo passava a usar uma corda presa ao pescoço: era o calendário que indicava o dia de sua execução - o qual podia prolongar-se por muitas luas (e até por vários anos).

 Na véspera da execução, ao amanhecer, o prisioneiro era banhado e depilado; mais tarde, o corpo da vítima era pintado de preto, untado com mel e recoberto com plumas e cascas de ovos, iniciando-se uma grande beberagem de cauim - um fermentado de mandioca. Na manhã seguinte, o carrasco avançava pelo pátio dançando e revirando os olhos. 

 Parava em frente ao prisioneiro e perguntava: "Não pertences à nação nossa inimiga? Não mataste e devoraste nossos parentes?" Altiva, a vítima respondia: "Sim, sou muito valente, matei e devorei muitos." Replicava então o executor:"Agora estás em nosso poder, serás morto por mim e devorado por todos." Para a vítima esse era um momento glorioso, já que os índios brasileiros consideravam o estômago do inimigo a sepultura ideal. 

 O carrasco desferia então um golpe de tacape na nuca; velhas recolhiam, numa cuia, o sangue e os miolos - o sangue deveria ser bebido ainda quente. A seguir o cadáver era assado e escaldado, para permitir a raspagem da pele, introduzindo-se um bastão no ânus para impedir a excreção. Os membros eram esquartejados e, depois de feita uma incisão na barriga, as crianças eram convidadas a devorar os intestinos. Língua e miolos eram destinados aos jovens; os adultos ficavam com a pele do crânio e as mulheres com os órgãos sexuais. 

 As mães embebiam os bicos dos seios em sangue e amamentavam os bebês. Os ossos do morto eram preservados: o crânio, fincado em uma estaca, ficava exposto em frente à casa do vencedor; os dentes eram usados como colar e as tíbias tranformavam-se em flautas e apitos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Biografia de Luiz Gonzaga(1912-1989)!




                                                               
                                                               
                                                                 


                                                                     
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, povoado do Araripe à 12km de Exu, filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus (Mãe Santana).

Foi batizado na matriz de Exu no dia 05 de janeiro de 1913, cuja celebração batismal, foi realizada pelo Pe. José Fernandes de Medeiros.

 Desde sua infância o pequeno Gonzaga namorava o fole de oito baixos, instrumento este, executado por “Pai Januário” no qual começou seus primeiros acordes.

“Luiz de Januário” como era conhecido na infância, aos 8 anos de idade substitui um sanfoneiro que falhou no trato em festa tradicional no terreiro de Miguelzinho na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu, a pedido de amigos do pai. 

Naquela noite o pequeno Lula deleitava-se tocando e cantando a noite inteira, e pensava na possibilidade de Dona Santana deixar ele tocar mais vezes. Luiz Gonzaga tocava feliz porque era a primeira noite que tocava com a permissão de “Mãe Santana”. Naquela noite ele recebeu pela primeira vez o cachê de 20$000 rés.


 Luiz Gonzaga recorda as palavras de Dona Santana que pareciam ter uma esperança de tocar com sua permissão: “Luiz! Isso é gente pra tocar em dança? (…) E se  o sono der nele pru lá?”  Luiz Gonzaga ia crescendo, com sua simpatia e esperteza conseguiu agradar Sinhô Aires, passando a ser o garoto de confiança do Cel.


 Sua primeira sanfona era de marca “veado” comprada na loja de Seu Adolfo em Ouricori, Pernambuco, com a fiança do Cel. Manuel Aires de Alencar, o Sinhô Aires, custando 120$000 rés.

(Em 1915 nasce no Iguatu, Ceará, Humberto Cavalcanti Teixeira que mais tarde se tornaria parceiro de Luiz Gonzaga.

Em fevereiro de 1921 nasce em Carnaúba, distrito de Pajeú das Flores, José de Sousa Dantas Filho que posteriormente se torna parceiro de Luiz Gonzaga.
Em 1926 nasce em Gravatá, Pernambuco, Helena das Neves Cavalcanti, futura esposa de Luiz Gonzaga.)

O futuro de Gonzaga estava realmente na sanfona, profissão posteriormente executada em todo Brasil, graças as observações aos dedos ágeis de “Pai Januário”. Antes de Gonzaga completar 16 anos já era conhecido no Araripe e em toda redondeza.


 Aos 17 anos o filho de Januário apaixona-se por Nazarena, filha de um Alencar. O padrasto da jovem, o senhor Raimundo Deolindo sabendo da inclinação do jovem sanfoneiro pela menina-moça, resolve impedir o namoro. Luiz Gonzaga muito magoado com a situação resolve então encará-lo num sábado na feira do Exu, e disse ‘as do fim!’.

 Foi por causa de “Nazinha”, como a chamava, que Gonzaga levou uma surra de Dona Santana, por ocasião de seu atrevimento com o senhor Raimundo Deolindo, fugindo de casa em 1930.

Lula resolve então arranjar uma maneira de fugir de casa, foi quando com a ajuda de Zé de Elvira, com quem armou sua fuga, caminhando a pé cerca de 65Km de Exu ao Crato. Chegando no Crato Luiz Gonzaga vende ao lavrador, o senhor Raimundo Lula, sua sanfona por 80:000 rés. Essa decisão na vida de Luiz Gonzaga foi em julho de 1930, quando chega em Fortaleza e alista-se no 23º Batalhão de Caçadores do Exército, servindo no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Ceará, Piauí, Belo Horizonte, Campo Grande e no Rio de Janeiro.

 O então soldado de n.º 122, ganha fama no Exército e um apelido: “Bico de Aço”, por ser um excelente corneteiro. Deu baixa no Exército em Minas Gerais, no dia 27 de março de 1939 e viajou para o Rio de Janeiro, para esperar o navio que o levaria a Recife, em seguida a Exu.


 Resolveu então a convite de um amigo, foi  ganhar a vida tocando no Mangue, com uma sanfona de 80 baixos, uma Horner branquinha, sua primeira sanfona branca comprada em São Paulo. Vale ressaltar que a partir de então, Luiz Gonzaga só usa sanfona branca até o final de sua vida.

Em 1940 Gonzaga conhece o guitarrista português, Xavier Pinheiros, e forma dupla tocando no Mangue e nas casas noturnas(cabarés), do Rio de Janeiro. Ele começou tocando músicas de Manezinho Araújo, Augusto Calheiros e Antenógenes Silva, começou a apresentar-se nas rádios em programas de Calouros. Em 1941 conhece Januário França, no qual transmite a Gonzaga um convite de Genésio Arruda, para acompanhá-lo numa gravação na RCA Victor. 

Logo em seguida é convidado para gravar um disco solo; grava dois, e nos cinco anos seguintes, Luiz Gonzaga  grava cerca de 30 discos. A partir de 1941, Luiz Gonzaga já tinha o título de MAIOR SANFONEIRO NORDESTINO.
Luiz Gonzaga sofreu muito no Rio de Janeiro, para se firmar artisticamente. Com muita luta e vencendo as ironias de Ari Barroso, em 1942 Luiz Gonzaga começa a fazer sucesso nas emissoras de rádio.

 Em 1944 ele foi despedido da Rádio Tamoio e, logo em seguida foi contratado por Cr$ 1.600.00 pela Rádio Nacional. Recebe neste ano o apelido de “Lua”, por Paulo Gracindo. Em 1945 Luiz Gonzaga conhece o futuro grande parceiro, o advogado Humberto Cavalcanti Teixeira, nascido em Iguatu, Ceará. No dia 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou seu primeiro disco em voz.

No dia 22 de setembro de 1945 nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, fruto do amor de Luiz Gonzaga com Odaléia Guedes dos Santos, cantora e bailarina profissional do coro de Ataulfo Alves. Gonzaga conviveu com Odaléia, cerca de 5 anos. 


Odaléia faleceu de tuberculose em 1952, quando Gonzaguinha tinha 7 anos (vale ressaltar que Gonzaguinha nesta época já morava com os padrinhos Xavier e Dina no Morro de São Carlos)
Em 1946 com Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga compõe e grava a primeira de uma série de 18 parceria:  NO MEU PÉ DE SERRA. 

O sucesso de Gonzaga com esta música começa a ser enorme e ao mesmo tempo seu nome começa a correr pelo mundo: Europa, EUA, Japão, etc. Neste mesmo ano Luiz Gonzaga resolve então rever a família, e chega em casa pela madrugada. Fica frente a frente com Seu Januário e é interrogado: “Quem é o Sinhô? Luiz Gonzaga seu filho! Isso é hora de você chegar em casa corno sem vergonha!?” Deste encontro, Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira, compõem a música RESPEITA JANUÁRIO, em homenagem àquele homem que foi o responsável pela inclinação do “negrinho fiota” para a música. Em 1947 no mês de março, Gonzaga gravou a música ASA BRANCA, que foi inicialmente refutada pelo diretor. 

A música  ASA BRANCA começou a receber diferentes interpretações e gravações em vários países, como Israel e Itália. Em julho de 1947, na Rádio Nacional, Luiz Gonzaga conheceu Helena das Neves Cavalcanti, sua futura esposa.

No dia 16 de junho de 1948 Luiz Gonzaga casa-se com a contadora pernambucana Helena das Neves Cavalcanti, natural de Gravatá – PE, (segundo a cronologia de Assis Ângelo, Luiz Gonzaga já era estéril, mas sobre sua esterilidade fica muito oculto por ocasião de Gonzaga não dá ênfase a esta questão).


 Luiz Gonzaga resolve então fazer um passeio para apresentar a esposa a “Pai Januário”, que não pôde ir ao Rio de Janeiro para o casamento do filho. Neste dia 05 de abril de 1949, Luiz Gonzaga soube a caminho, que no dia anterior tinha começado em Exu um conflito político entre as famílias Alencar, Sampaio e Saraiva.

Em 1949 Gonzaga conhece em Recife o médico José Dantas de Sousa Filho. Com o novo parceiro, Gonzaga grava no dia 27 de outubro, o baião VEM MORENA e o FORRÓ DE MANÉ VITO. E o Brasil se deliciava com a boa música do “negrinho fiota”, que saiu lá das bandas do Exu para conquistar o coração dos brasileiros. 


No dia 01 de novembro de 1949, Seu Januário, Dona Santana, Geni, Muniz, Chiquinha, Socorro e Aloísio seguiram para o Rio de Janeiro, no caminhão comprado por Luiz Gonzaga.

Em 1950 o Lua recebe dos paulistas o título de “REI DO BAIÃO”  que o consagra até nossos dias. Neste mesmo ano “Lua” grava também a toada ASSUM PRETO e os baiões QUI NEM JILÓ e PARAÍBA, Gonzaga neste período está no auge de sua carreira. 


A música PARAÍBA foi gravada por uma cantora japonesa Keiko Ikuta, e também pela Emilinha Borba. Em 1951 Luiz Gonzaga coroou a cantora Carmélia Alves como a “RAINHA DO BAIÃO” na Rádio Nacional, no programa “NO MUNDO DO BAIÃO” de Humberto Teixeira e Zé Dantas. No ano de 1952 Luiz Gonzaga tentou projetar para todo o Brasil, nos festejos juninos  o talento musical da família através das rádios Tupi e Tamoio tendo como atração, OS SETE GONZAGAS: Seu Januário, Luiz Gonzaga, Severino Januário, José Januário (Zé Gonzaga), Chiquinha Gonzaga, Socorro e Aloísio. Em 1953 grava ABC DO SERTÃO, VOZES DA SECA e a A VIDA DO VIAJANTE.

Neste mesmo ano Luiz Gonzaga assume plenamente sua identidade nordestina, começando a usar o gibão de couro. No dia 09 de julho de 1954 mataram em Serrita Raimundo Jacó, primo de Luiz Gonzaga. Em 1959 Dona Marieta, mãe de Dona Helena, veio a falecer no Rio de Janeiro. O Rei do Baião não parava, andava por todo o País cantando e decantando o Nordeste. No  amanhecer do dia 11 de junho de 1960, Dona Santana, mãe de Luiz Gonzaga, falecia no Rio de Janeiro, com a doença de chagas.

A partir de 1960 Luiz Gonzaga começa a ser esquecido dos meios de comunicação, e faz então um desabafo a Dominguinhos: “EU VOU PARAR DE CANTAR BAIÃO, POIS NINGUÉM MAIS DÁ A MÍNIMA ATENÇÃO PRA MINHA MÚSICA. VOU COMPRAR UM TRANSISCORDE PARA VOCÊ, PRA GENTE FAZER BAILES. EU TOCO CONTRABAIXO, ENQUANTO VOCÊ TOCA ESSE INSTRUMENTO ELETRÔNICO QUE SAIU AGORA”, ( isso foi só um desabafo, pois Gonzaga continuou compondo baião até o final de sua vida). Neste ínterim Luiz Gonzaga estava muito dividido, pois Seu Januário morava sozinho no Araripe, após a morte de Dona Santana. Neste ano o Rei do Baião vinha constantemente ao Araripe para está junto de “Pai Januário”. No dia 05 de novembro de 1960 Seu Januário casa-se com Dona Maria Raimunda de Jesus, cuja celebração foi realizada por Padre Mariano. Aos 72 anos o “Vovô do Baião” demonstrava sua fé e o respeito a Igreja, testemunhando seu segundo matrimônio.

 Em 1961 Gonzaguinha já estava com 16 anos, passou então a morar com o pai. Em 1961, Luiz Gonzaga entra para a maçonaria. Ele compõe com Lourival Passos a música ALVORADA DA PAZ, em homenagem a Jânio Quadros que renunciou, sete meses após assumir a Presidência da República. No dia 12 de março de 1962, nasce um bebê que é adotado por Seu Januário e Dona Maria Raimunda com 03 dias de nascido. Seu Januário fez questão de registrar o menino como filho legítimo, com o nome de João Batista Januário. João Batista continua morando em Exu, honrando o nome da Família Januário.

Em 1962 a parceria da dupla (Gonzaga e Zé Dantas), se desfaz por ocasião do falecimento de Zé Dantas. Em 1963, o REI DO BAIÃO gravou A MORTE DO VAQUEIRO, uma homenagem a seu primo Raimundo Jacó “morto covardemente”. Neste mesmo ano Luiz Gonzaga foi surpreendido com o roubo que fizeram de sua sanfona e conhece o poeta cearense PATATIVA DO ASSARÉ, de quem grava em 1964 a música A TRISTE PARTIDA. Em 1964 Luiz Gonzaga faz uma homenagem a Sanfona Branca roubada, com a música SANFONA DO POVO. Em 1966 Sinval Sá, lança o livro O SANFONEIRO DO RIACHO DA BRÍGIDA, VIDA E ANDANÇAS DE LUIZ GONZAGA – REI DO BAIÃO, pela edições  A FORTALEZA. No ano de 1968, o compositor e versionista Carlos Imperial espalhou no Rio de Janeiro que THE BEATLES acabara de gravar a música ASA BRANCA, mas foi só brincadeira, THE BEATLES não gravaram e o sucesso de Gonzaga começou a voltar na década de 70. 

Em 1970 Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira entram na Coleção História da MPB, editada pela Abril Cultural. Em 1971 Luiz Gonzaga recebeu o título de “IMORTAL DA MÚSICA BRASILEIRA”, pela TV TUPÍ do Rio de Janeiro. Em 1972 Luiz Gonzaga recebe o título de Cidadão de Caruaru. Foram os papas do tropicalismo Gilberto Gil e Caetano Veloso, que proclamaram solenemente que a moderna canção popular brasileira deitava raízes também na arte antemporal de Luiz Gonzaga. No dia 24 de março de 1972 no Teatro Carioca Tereza Raquel – Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga faz uma apresentação com o título: “LUIZ GONZAGA VOLTA PRA CURTIR”, realizando-se assim, sua volta triunfal.

 Naquela noite Luiz Gonzaga faz uma síntese falando de toda a sua carreira musical. Naquela oportunidade relatou sua estima pelo o estado do Ceará, dizendo: “É por isso que eu costumo dizer que uma banda minha é pernambucana e a outra banda  é cearense!”

No ano de 1973, o Rei do Baião resolve deixar a RCA Victor e passa a gravar na Emi-Odeon. Ainda em 1973 Luiz Gonzaga recebe o título de Cidadão Paulista das mãos do governador de São Paulo. Em 1975, o Rei do Baião conheceu Maria Edelzuíta Rabelo, e correspondia com ela, com o pseudônimo de Marcelo Luiz. Em 1976 Luiz Gonzaga recebe em Fortaleza o título de Cidadão Cearense. Nos dias 13 e 20 de agosto de 1976, a TV GLOBO fez um exibição com o título de “ESPECIAL LUIZ GONZAGA”, tendo a participação de Seu Januário.

 Em 1977 Luiz Gonzaga entrou na Versão Brasileira da Enciclopédia Universal Britânica. Seu Januário faleceu num dos duplex do PARQUE ASA BRANCA em Exu no dia 11 de junho de 1978. Para sua alegria, no ano de 1980 Luiz Gonzaga canta em Fortaleza para o Papa João Paulo II, que lhe agradeceu ao pegar em sua mão dizendo: “OBRIGADO, CANTADOR!”. Luiz Gonzaga fica envaidecido. Em 1981 o velho Lua recebe os dois únicos discos de ouro de toda sua carreira ( vale ressaltar que é segundo Assis Ângelo e Gildson Oliveira, segundo Dominique Dreyfus Luiz Gonzaga ganhou mais discos de ouro).

 Neste mesmo ano, Gonzaga fica feliz quando consegue pacificar Exu. Foi ao encontro do Presidente da República em exercício para lhe pedir intervenção e disse: “Dr. Aureliano, faça um esforço para levar a paz à minha terra!”. Tempos depois feliz com a paz conseguida para sua terra, em entrevista Luiz Gonzaga diz ao jornalista Assis Ângelo: “NINGUÉM DAVA JEITO EM EXU. EU PEGUEI AURELIANO CHAVES NUMA BOA E 15 DIAS DEPOIS ELE MANDOU INTERVIR (NA CIDADE). A INTERVENÇÃO SE ENCAIXOU QUE NEM UMA LUVA, E NUNCA MAIS HOUVE CRIME POLÍTICO LÁ”.

Em 1982 Luiz Gonzaga vai tocar em Paris a convite de Nazaré Pereira. Permaneceu em Paris dez dias, conhecendo vários pontos importantes. Em 1984 Luiz Gonzaga recebeu o PRÉMIO SHELL. Em 1985 Luiz Gonzaga é agraciado com o troféu NIPPER DE OURO, uma homenagem internacional da RCA a um artista dela. Em 1986 Gonzagão vai pela segunda vez à França, participando no dia 06 de julho de um espetáculo  que reúne cerca de 15 mil pessoas no Halle de la Villete. Luiz Gonzaga foi ladeado por Alceu Valença, Fafá de Belém, Morais Moreira e Armandinho, entre outros artistas brasileiros que integraram o “Couleurs Brésil”.

 Foi neste passeio que a jornalista francesa, DOMINIQUE DREYFUS, fala com Gonzagão na possibilidade de com ele, fazer um livro autobiográfico. Ainda em 1986 José de Jesus Ferreira lança o livro LUIZ GONZAGA O REI DO BAIÃO: SUA VIDA, SEUS AMIGOS, E SUAS CANÇÕES.

Em junho de 1987, a escritora e jornalista DOMINIQUE DREYFUS chega ao Brasil, passando 02 meses no PARQUE ASA BRANCA em Exu. O Rei do Baião desde pequeno trazia em seus lábios um sorriso sincero e, sempre quando podia, gostava de brincar com os outros, oportunidade que aproveitava para saber como estava o sertão. Luiz Gonzaga conheceu e tocou em todos os municípios brasileiros com mais 400 habitantes, inclusive, tocou em Sobral – CE quatro vezes. 

Tocou pela última vez nesta cidade, terra de Dom José Tupinambá da Frota, no dia 28 de novembro de 1987. Quando Gonzagão chegava nessas cidades do interior para fazer seus shows, era anunciado por seu motorista com o seguinte anúncio: “Atenção, atenção! Vem visitar vocês Sua Majestade o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a maior expressão popular brasileira. Hoje aqui em praça pública!” A carroceria de seu caminhão servia de palco em seus shows, por este Brasil afora.

Em 1988 Mundicarmo Maria Rocha Ferreti lança o livro BAIÃO DE DOIS: ZÉ DANTAS E LUIZ GONZAGA, fruto de uma tese de mestrado. Em 1988 Luiz Gonzaga rompe novamente o contrato com a RCA. Em junho do corrente ano, Luiz Gonzaga entra com o pedido de desquite na justiça pernambucana, por já não se entender com Dona Helena. Ainda em 1988 Luiz Gonzaga passa a morar com Maria Edelzuíta Rabelo.

 A senhora Edelzuíta Rabelo nos fala através do livro Luiz Gonzaga: O Matuto que conquistou o mundo, o seguinte: “Amei Lula sem nada pedir ou esperar, mas sabendo que me bastava estar diante do homem mais extraordinário que já conheci, que me fez renascer e me ensinou grandes lições.”

A última entrevista de Luiz Gonzaga concedida a imprensa, foi para o jornalista Gildson Oliveira através de Ivan Ferraz no dia 02 de junho de 1989. Recife foi o local escolhido por Luiz Gonzaga para passar seus últimos momentos de vida. O último show realizado por Luiz Gonzaga foi no dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, onde recebeu homenagens de vários artistas do país. Antes de finalizar o show, o Rei do Baião proferiu estas palavras:

“ Boa Noite minha gente! (…) Minha gente, não preciso dizer que estou enfermo. Venho receber essa Homenagem. Estou feliz, graças a Deus, por ter conseguido chegar aqui. E estou até melhor um pouquinho. Quem sabe, né?
“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor.

 Este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas, como Gonzaguinha, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Alceu Valença. Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor.
Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor.

Gostaria que lembrassem que sou filho de Januário e dona Santana. Gostaria que lembrassem muito de mm; que esse sanfoneiro amou muito seu povo, o Sertão. Decantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes. Decantou os valentes, os covardes e também o amor. (…) Muito obrigado.”

Na quarta feira, 21 de junho de 1989, às 10:00h, o velho Lua foi levado às pressas ao Hospital Santa Joana, permanecendo 42 dias internado, onde veio a falecer. Palavras de Luiz Gonzaga na UTI do hospital: “VOCÊS NÃO ME LEVEM A MAL. SINTO MUITAS DORES E GOSTO DE ABOIAR QUANDO DEVERIA GEMER.” Luiz Gonzaga  travava naquele hospital uma luta imensa contra a morte, e o Brasil todo ficava cada vez mais preocupado com o estado de saúde de seu maior defensor. Luiz Gonzaga não resistiu, o Brasil e o mundo ficou enlutado com o seu último suspiro. O Asa Branca da Paz voava para a eternidade deixando um grande exemplo de vida a ser seguido.

O Rei do Baião faleceu no dia 02 de agosto de 1989, às 5:15min da manhã no Hospital Santa Joana, em Recife. Foi na Veneza Brasileira que Luiz Gonzaga dava seu último suspiro.  Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Recife nos dias 02 e 03 até às 9:45min da manhã, foi velado também em Juazeiro do Norte. CE, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro às 17h, local onde repousa os restos mortais de Pe. Cícero Romão Batista, apesar  de o corpo do Rei ter chegado no aeroporto de Juazeiro Norte às 15:20min do dia 03 de agosto. Palavras de Gonzaguinha ainda  no aeroporto de Juazeiro: “TUDO BEM, VAMOS ENTRAR NA CIDADE. SE O POVO QUER, QUE PODEMOS FAZER?”

O corpo do Rei do Baião chegou a sua terra natal, sua querida Exu no dia 03 a noite. Foi velado  na Igreja Matriz de Exu, durante a noite do dia 03 e todo o dia 04, saindo para o sepultamento no Cemitério São Raimundo às 15:45min. Das centenas de coroas de flores que estavam espalhadas na igreja Bom Jesus dos Aflitos em Exu, oferecidas por fãs de Luiz Gonzaga, estava esta que o repórter Gildson Oliveira transcreveu a seguinte mensagem:

“Amado Lula: o silêncio acende a alma… O País canta sua voz… Os pássaros se entristecem com a partida da Asa Branca, mas fica em nossos corações a sua história. E a nossa festa é esta. Quem crê em Cristo, mesmo que esteja morto viverá.” 

O corpo de Luiz Gonzaga foi levado no carro corpo de bombeiros, passando por diversas ruas da cidade rumo ao Cemitério São Raimundo, local onde aconteceram as últimas manifestações de carinho, àquele que só foi alegria. O caixão desceu a sepultura depois que Gonzaguinha, Dominguinhos, Alcimar Monteiro e mais de 20 mil pessoas cantarem a música ASA BRANCA às 16:50min. Luiz Gonzaga foi embalado no seio da terra na sexta feira, no mesmo dia da semana, que ele nasceu. Uma outra coincidência é que ele morreu no amanhecer do dia, assim como ele nasceu no amanhecer do dia 13 de dezembro de 1912.

Em 1990 foi lançado pela Editora Martin Claret o livro LUIZ GONZAGA, VOZES DO BRASIL. O filho Gonzaguinha depois de ter passado 15 dias em Exu falando aos amigos sobre a preservação do Parque Asa Branca, veio a falecer subitamente por ocasião de um acidente automobilístico na manhã do dia 29 de abril de 1991, morrendo no mesmo dia. Em 1991 o jornalista Gildson Oliveira lançou o livro LUIZ GONZAGA, O MATUTO QUE CONQUISTOU O MUNDO. Sua esposa, Dona Helena Gonzaga, conhecida por “MADAME BAIÃO”, faleceu na manhã do dia 04 de fevereiro de 1993 na Casa Grande do Parque Asa Branca.

Em 1994 o cordelista Pedro Bandeira lança uma 2ª edição ampliada do livro LUIZ GONZAGA, NA LITERATURA DE CORDEL. Em 1997 a Francesa Dominique Dreyfus lança o livro VIDA DO VIAJANTE: A SAGA DE LUIZ GONZAGA. Ainda em 1997 o professor Uéliton Mendes da Silva lança o livro LUIZ GONZAGA, DISCOGRAFIA DO REI DO BAIÃO. No ano 2000  a  professora Sulamita Vieira, lança o livro SERTÃO EM MOVIMENTO – a dinâmica da produção cultural, fruto de sua tese de doutorado. Ainda no corrente ano a professora Elba Braga Ramalho lançou o livro LUIZ GONZAGA: A Síntese Poética e Musical do Sertão.

 Fruto de sua  tese de doutorado na University of Liverpool, na Inglaterra. Em dezembro 2001 eu, este pequeno devoto do Rei do Baião, escrevi um opúsculo em homenagem ao Rei do Baião, intitulado: “Luiz Gonzaga, o Asa Branca da Paz”. Graças a Deus consegui a apresentar a Chiquinha Gonzaga, irmão do Rei do Baião, e recebi dela a aprovação do trabalho. 

ESCRITO POR: Pe Fábio Mota
(Colecionador e pesquisador de Luiz Gonzaga)

Publicada no livro: MOTA, José Fábio da.”Luiz Gonzaga, o Asa Branca da Paz”.Sobral – CE, 2001. 

Fonte:
http://fabiomota1977.wordpress.com/2005/12/15/biografia-de-luiz-gonzaga1912-1989/