Budismo
Moderno
Tome, Dr., esta tesoura, e ...corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
===============================
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância
Sofro, desde a epigênesis da infância
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
(AUGUSTO DOS ANJOS. Eu e outros poemas)
Augusto dos Anjos
Quem
foi
Tome, Dr., esta tesoura, e ...corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
===============================
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância
Sofro, desde a epigênesis da infância
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
(AUGUSTO DOS ANJOS. Eu e outros poemas)
Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos foi um poeta
brasileiro pré-modernista que viveu de 1884 a 1914. Sua obra “Eu e
Outras Poesias”, foi publicada dois anos antes de sua morte.
Suas poesias trazem marcantes
sentimentos de pessimismo e desânimo, além de inclinação para a morte.
Com relação à estrutura, pode-se dizer que suas poesias apresentam rigor
na forma e rico conteúdo metafórico.
Morreu ainda jovem (em 1914) devido a
uma enfermidade pulmonar, deixando para trás suas carreiras de promotor
público (formou-se em
Direito em 1906) e de professor, além de sua única e marcante obra.
Principais
obras de Augusto dos Anjos
Saudade (poema) - 1900
Eu e Outras Poesias (único livro de poemas) - 1912
Psicologia de um vencido (soneto)
Versos íntimos
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