Introdução
Quase todas as crenças religiosas da
antigüidade possuem um mito relacionado ao dilúvio. Até o século XIX, o dilúvio
era considerado como verdadeiro, porém com o avanço tecnológico e científico o
homem iniciou um processo de descrença neste ocorrido. Porém, a geologia
contemporânea comprova que ocorreu na região do Crescente Fértil um dilúvio que
abrangeu, no mínimo, todo o mundo conhecido da época.
O Dilúvio
Não se sabe exatamente qual a origem da
História do Dilúvio, porém esta história é representada das mais diversas
formas por boa parte das civilizações conhecidas.
"Supõe-se que a idéia de dilúvio
seja baseada na lembrança de alguma catástrofe produzida por inundações. Essa
noção, porém, surge sempre como um castigo divino à maldade, vícios e
devassidões a que se entregavam os homens." (Dicionário de Mitologia
greco-romana, São Paulo: Abril Cultural, 1973).
O dilúvio na mitologia greco-romana
A mitologia greco-romana nos conta a
história de Deucalião e Pirra, os sobreviventes do dilúvio imposto por Zeus com
o propósito de exterminar a raça humana.
Segundo esta tradição, Deucalião
reinava sobre a Tessália na Idade do Bronze, época em que o homem estava muito
degenerado, entregando-se a vícios e maldades. Zeus, para castiga-los, decidiu
destruir a raça humana através de uma dilúvio. Deucalião, porém recebe
orientação de seu pai, conhecedor das pretensões de Zeus, e constrói uma
embarcação onde fica com a mulher Pirra durante a inundação> Segundo esta
história, a Terra inteira é submergida e seus habitantes mortos. Deucalião e
Pirra ficam nove dias e nove noites encerrados na embarcação, no décimo dia
desembarcam no monte Parnaso. Zeus perdoa os dois sobreviventes lhes concedendo
a realização de um pedido, os dois pedem pelo repovoamento da Terra, Zeus
ordena-os que joguem por atrás de si os ossos de suas mães, os dois jogaram,
então, para de atrás de si pedras, que representam os ossos da mãe Terra, das
pedras lançadas por Decalião nascem homens e das pedras lançadas por Pirra
nascem mulheres, estes repovoaram a Terra.
O dilúvio na mitologia Maia
A América também possui seu mito sobre
o dilúvio, a mitologia Maia descreve na história do Popol Vuh onde é narrada a
história de um dilúvio que dizimou a raça humana.
"Segundo o Popol Vuh, o mundo era
um angustiante nada, até que os deuses - o Grande Pai e a Grande Mãe, um
criador, a outra fazedora de formas - resolveram gerar a vida. A intenção de
ambos era serem adorados pela própria criação. Primeiro, fizeram a Terra,
depois, os animais e, finalmente, os homens. Estes, inicialmente, foram criados
de barro. Como não deu certo, o Grande Pai decidiu retirá-los da madeira.
Porém, os novos homens, apesar de ativos, eram vaidosos e frívolos, obrigando o
Grande Pai a destruí-los em um dilúvio." (Enciclopédia Encarta, Microsoft
Corporation, 2001)
O dilúvio na mitologia Suméria
O mito sumério de Gilgamesh nos conta
os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de
aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas
imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram
tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade
ao sobreviver ao dilúvio que consumiu com a raça humana.
"Tudo começou na antiga cidade de
Shurupak às margens do rio Eufrates nessa cidade viviam os deuses: Anu, deus do
céu, Enlil, seu conselheiro, e também o supremo deus Ea. Naqueles dias, a Terra
fervilhava, o povo se multiplicava e o mundo a mugir como touro selvagem (...)
os deuses irritaram-se com este barulho. Enlil foi logo reclamar na Assembléia
dos deuses: 'É um tumulto intolerável. Ninguém mais consegue dormir com essa
balbúrdia dos homens'. E foi assim que eles, os deuses, decidiram exterminar a
raça humana."(TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars
Poetica, 1992.)
Na tradição suméria, o homem foi
dizimado por encomodar aos deuses, mas segundo este mito, o deus Ea, por meio
de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de
exterminar com os humanos através de um dilúvio.
"Homem de Shurupak, derruba tua
casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e salva tua vida. Renuncia aos
bens terrenos e conserva coração puro." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de
Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
Dos mitos sobre o dilúvio, sem dúvida,
a história do encontro entre Utanapistim e Gilgamesh é o que mais se assemelha
a história bíblica de Noé e o dilúvio. Até mesmo a questão moral está presente,
quando o deus Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve
o coração puro, mas as semelhanças não param por ai.
"O barco que deves construir deve
ter a mesma largura e comprimento, o convés coberto, tal como uma abóbora, e leva
então para dentro do barco sementes de todas as coisas vivas." (TAMEN,
Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
É muito semelhante a questão da
preservação das espécies, citada na história bíblica, onde Utanapistim deve
levar no barco sementes de todas as coisas vivas.
Utanapistim reúne sua família e
constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por sete dias
debaixo do dilúvio que consome com os humanos.
"Eu percebi que havia grande
silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao
lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da
janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por
terra, somente consegui descobrir um montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e
ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma POMBA, que voou para
longe, não encontrando local para pouso retornou (...) Então soltei um corvo,
este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro.
Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
A história contada por Utanapistim é
muito semelhante a descrita na Bíblia. O descontentamento divino frente as
maldades e perversões humanas levando a divindade ao arrependimento pela
criação dos homens e automaticamente a destruição destes através de um dilúvio.
A história bíblica do dilúvio
A história bíblica do dilúvio, a
história de Noé, nos mostra um Deus descontente com as imprudências humanas,
Deus resolve destruir os homens, porém poupa Noé sua esposa e três filhos com
as respectivas esposas. A história do dilúvio bíblico conta que Deus ordena a
Noé que construa uma arca e que deve convocar um casal de todos os animais
viventes para que sobrevivam ao dilúvio.
"De tudo que vive, de toda carne,
dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares
vivos contigo." (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade
Bíblica do Brasil.)
Como nos conta a história bíblica, Noé
e sua família ficam quarenta dias e quarenta noites debaixo de chuvas, toda a
espécie humana é destruída, sobrando somente os tripulantes da arca. Quando sai
da arca, Noé firma uma aliança com Deus, onde este promete que nunca mais
haverá outro dilúvio igual.
Os assírios e o dilúvio
O Dicionário da Bíblia John D. Davis,
afirma que nos registros assírios que enumeram os antigos reis da Assíria,
apontam que estes governavam "após o dilúvio", também afirma que em
registros do rei Assurbanipal, este refere-se a inscrições anteriores ao dilúvio.
A versão científica do dilúvio
Segundo a geologia moderna, o dilúvio
realmente ocorreu na região do Crescente Fértil, porém não há comprovação de
sua extensão global. Geólogos afirmam com base em estudos da erosão e das
marcas geológicas que o dilúvio teria ocorrido em escala local, porém
abrangendo todo mundo conhecido da época. Onde haviam civilizações, houve o
dilúvio. Mas como explicar que uma cultura tão distante como a Maia tenha
incorporado tal história em sua carta de mitos. Teria sido o dilúvio mundial?
"Há evidência muito forte, fora do
livro de Gênesis, com respeito à destruição da raça humana, cuja única exceção
é uma família. Inúmeras tribos selvagens, espalhadas pelo mundo, conservam a
tradição de um dilúvio. Existem possíveis registros arqueológicos, como tantas
evidências diretas de um dilúvio." (Bíblia Shedd).
A revista Super Interessante em sua
edição de maio de 1995, afirma que não existem dúvidas sobre a ocorrência do
dilúvio, porém não se pode definir a extensão precisa deste ocorrido, o que se
pode afirmar é que ele abrangeu todo mundo conhecido da época.
Mas sobre histórias mitológicas como a
dos Maias, não há estudo que aponte sua relação como o dilúvio dos povos do
antigo Fértil Crescente, o que se pode afirmar é que pode ser uma coincidência
ou então uma tradição trazida com os primeiros a chegarem a América. Esta
última é a versão mais aceita no meio científico.
Sobre o dilúvio, não restam dúvidas,
ele ocorreu realmente, porém, quanto a sua extensão, não se pode afirmar nada
de concreto, mas segundo a arqueologia e a geologia contemporâneas, este
ocorreu somente na região do Fértil Crescente, o que era, então, o mundo
conhecido da época.
Referências Bibliográficas
Bíblia
Sagrada, Almeida
Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
Bíblia
Sheed, Bíblia
de Estudo. São Paulo: ed.Vida Nova, 1997.
Dicionário
de Mitologia Greco-Romana. São Paulo: ed. Abril Cultural, 1973.
PACKER,
J.I.. O Mundo do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 1982.
KIDNER,
Derek. Gênesis. São Paulo: Mundo Cristão, 1979.
ANTUNES
FILHO. Gilgamesh. Mairaporã-SP: ed.Veredas, 1999.
TAMEN,
Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.
DAVIS,
John D.. Dicionário da Bíblia. 22.ed. São Paulo: ed. JUERP, 1985.
LÉVÊQUE,
Pierre. As Primeiras Civilizações. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
KRAMER,
Samuel Noah. Os Sumérios. Amadora-Portugal: ed. Livraria
Bertrand, 1977.
MONEY, Netta Kemp. Geografia Histórica do Mundo Bíblico. Belo Horizonte-MG: ed. Vida, 1977.
Super
Interessante, coleção
em cd-rooms dos 15 anos da revista. Ed. Abril, São Paulo, 2003.
Enciclopédia
Encarta,
Microsoft Corporation, 2001
Por Marcos Emílio Ekman Faber
Por Marcos Emílio Ekman Faber
Fonte:
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