A Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira foram marcadas por visíveis diferenças políticas.
As proximidades e diferenças entre duas revoltas que marcaram o final do século XVIII, no Brasil. |
Ao longo do século XVIII, observamos o desenvolvimento de diversas
situações de conflito envolvendo os colonos brasileiros e a
administração metropolitana. Nessa época, a ampliação dos impostos, o
rigor da fiscalização decorrente da exploração aurífera e a decadência
do açúcar foram alguns dos motivos que cercaram a ocorrência dessas
revoltas. Para alguns, isso indica o desenvolvimento de um processo que
contribuiu para o processo de independência brasileiro.
Mesmo parecendo plausível, devemos assinalar que o reconhecimento de
um processo se torna um tanto quanto complicado ao analisarmos a
natureza e as diferenças que marcaram cada uma dessas rebeliões
coloniais. Entre outros casos, podemos notar que a contraposição entre a
Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 oferece
ricos dados na compreensão dessas diferenças que vão contra a ideia de
um processo em desenvolvimento.
Assim como a grande parte de nossas revoltas coloniais, as revoltas,
mineira e baiana, foram alimentadas por membros da elite insatisfeitos
com a ação metropolitana em cada uma dessas regiões. No caso de Minas,
os mineradores de Vila Rica e outros membros da elite mostravam-se
insatisfeitos com a política fiscal e a cobrança da derrama. Por outro
lado, a cidade de Salvador era palco de uma grave crise econômica que se
arrastava desde a crise do açúcar e a transferência da capital para o
Rio de Janeiro.
Além disso, devemos notar que os participantes dessas mesmas revoltas
estiveram diretamente influenciados pela ideologia iluminista. Mais uma
vez, notamos o caráter elitista de tais movimentos, os quais eram
sustentados por uma elite letrada e, em alguns casos, instruída nas
universidades europeias. Sendo assim, observamos que a origem social,
análoga a esses movimentos, viria a empreender a busca por objetivos
próximos em cada um deles.
No entanto, a despeito de um projeto de nação independente, vemos que
a Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira não se separaram apenas
por um hiato temporal. A falta de comunicação entre os centros de
colonização e a ausência de um sentimento nacional anula qualquer
possibilidade de se considerar que tais revoltosos se sentiam
integrantes de uma nação que merecia a sua independência. Na maioria dos
casos, a autonomia era projetada em esfera local.
Entre tantas proximidades, vemos que a questão da escravidão acabou
sendo o ponto que veio a estabelecer uma diferença entre essas duas
revoltas. No caso mineiro, a limitação do movimento às discussões de uma
elite enriquecida acabou fazendo com que a escravidão não entrasse em
sua pauta, já que o fim desta prejudicaria boa parte dos inconfidentes.
No caso baiano, a divulgação de panfletos acabou disseminando a causa
emancipacionista entre setores populares e favoráveis à abolição.
Assim que a Conjuração Baiana ganhava contornos mais radicais e
populares, os líderes intelectuais da causa acabaram se afastando do
movimento. Talvez, assim como os inconfidentes mineiros, eles temiam os
efeitos de uma revolta emancipacionista conduzida pelas camadas menos
favorecidas da população. Por fim, vemos que a revolta baiana se
diferenciou da conspiração mineira assim que os agentes sociais de cada
acontecimento se diferiram em suas origens e interesses.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Mestre em História
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