Foi o "costume bárbaro" que mais impressionou os europeus que aqui chegaram no século XVI... A morte ritualizada e a deglutição eucarística dos cativos representava o ponto culminante de uma cerimônia, cujo objetivo quase único era a vingança.
A vítima
era capturada no campo de batalha e pertencia àquele que primeiro a houvesse
tocado; triunfalmente conduzida à aldeia do inimigo, era insultada por mulheres
e crianças (tinha de gritar "eu, vossa comida, cheguei!").
Após essas agressões, porém, era bem tratada,
podendo andar livremente - fugir era uma vergonha impensável. O cativo passava
a usar uma corda presa ao pescoço: era o calendário que indicava o dia de sua
execução - o qual podia prolongar-se por muitas luas (e até por vários anos).
Na véspera da execução, ao amanhecer, o
prisioneiro era banhado e depilado; mais tarde, o corpo da vítima era pintado
de preto, untado com mel e recoberto com plumas e cascas de ovos, iniciando-se
uma grande beberagem de cauim - um fermentado de mandioca. Na manhã seguinte, o
carrasco avançava pelo pátio dançando e revirando os olhos.
Parava em frente ao prisioneiro e perguntava:
"Não pertences à nação nossa inimiga? Não mataste e devoraste nossos
parentes?" Altiva, a vítima respondia: "Sim, sou muito valente, matei
e devorei muitos." Replicava então o executor:"Agora estás em nosso
poder, serás morto por mim e devorado por todos." Para a vítima esse era
um momento glorioso, já que os índios brasileiros consideravam o estômago do
inimigo a sepultura ideal.
O carrasco desferia então um golpe de tacape na
nuca; velhas recolhiam, numa cuia, o sangue e os miolos - o sangue deveria ser
bebido ainda quente. A seguir o cadáver era assado e escaldado, para permitir a
raspagem da pele, introduzindo-se um bastão no ânus para impedir a excreção. Os
membros eram esquartejados e, depois de feita uma incisão na barriga, as
crianças eram convidadas a devorar os intestinos. Língua e miolos eram
destinados aos jovens; os adultos ficavam com a pele do crânio e as mulheres
com os órgãos sexuais.
As mães embebiam os bicos dos seios em sangue e
amamentavam os bebês. Os ossos do morto eram preservados: o crânio, fincado em
uma estaca, ficava exposto em frente à casa do vencedor; os dentes eram usados
como colar e as tíbias tranformavam-se em flautas e apitos.
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