Maria Quitéria de Jesus * - (Feira de Santana, 27 de julho de
1792 — Salvador, 21 de agosto de 1853) foi uma militar brasileira, heroína da
Guerra da Independência. Considerada a Joana D'Arc brasileira, é a padroeira do
Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Biografia
Infância e juventude
Maria Quitéria nasceu no sítio do Licurizeiro (Syagrus coronata), uma pequena
propriedade no Arraial de São José das Itapororocas, na comarca de Nossa
Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, atual município de Feira de Santana
no estado da Bahia. A data mais aceita pelos pesquisadores para o seu
nascimento é a de 1792. Foi a filha primogênita dos brasileiros Gonçalo Alves
de Almeida e Quitéria Maria de Jesus.
Em 1803, tendo cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe,
assumindo a responsabilidade dos afazeres domésticos e da criação de seus
irmãos. Cinco meses após enviuvar, o pai casou-se em segundas núpcias com
Eugênia Maria dos Santos, que veio a falecer pouco tempo depois, sem que da união
nascessem filhos. A família mudou-se então para a fazenda [serra da Agulha].
Na nova residência, Gonçalo Alves casou-se pela terceira vez, com Maria
Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta, afirma-se,
nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria. Embora sem uma
educação formal, uma vez que à época as escolas eram poucas e restritas aos
grandes centros urbanos, Maria Quitéria aprendera a montar, a caçar e a usar
armas de fogo, conhecimentos essenciais à época.
As lutas pela Independência
Maria Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na
Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em Janeiro de
1822 transferiram-se para Salvador as tropas portuguesas, sob o comando do Governador
das Armas Inácio Luís Madeira de Melo, registrando-se em fevereiro o martírio
de Soror Joana Angélica, no Convento da Lapa, naquela Capital.
Em 25 de junho, a Câmara Municipal da vila de Cachoeira aclamou o
príncipe-regente D. Pedro como "Regente Perpétuo" do Brasil. Por essa
razão, em julho, uma canhoneira portuguesa, fundeada na barra do rio Paraguaçu,
alvejou Cachoeira, reduto dos independistas baianos. A 6 de setembro,
instalou-se na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que defendia o
movimento pró-independência da Bahia ativamente, enviando emissários a toda a
Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um
"Exército Libertador".
O "Soldado Medeiros"
Tendo o velho Gonçalo, viúvo, sem filho varão, se escusado a colaborar, para a
sua surpresa, a filha Maria Quitéria, pediu-lhe autorização para se alistar.
Tendo o pedido negado pelo pai, fugiu, dirigindo-se a casa de sua meia-irmã,
Teresa Maria, casada com José Cordeiro de Medeiros e, com o auxílio de ambos, cortou
os cabelos. Vestindo-se como um homem, dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde se
alistou sob o nome de Medeiros, no Regimento de Artilharia, onde permaneceu até
ser descoberta pelo pai, duas semanas mais tarde.
Defendida pelo Major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro
Alves, comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe (popularmente
apelidado de "Batalhão dos Periquitos", devido aos punhos e gola de
cor verde de seu uniforme), foi incorporada a esta tropa, em virtude de sua facilidade
no manejo das armas e de sua reconhecida disciplina militar. Aqui, ao seu
uniforme, foi acrescentado um saiote à escocesa.
A 29 de outubro seguiu com o seu Batalhão para participar da defesa da
ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapoã, integrando a
Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do
combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários
prisioneiros portugueses (dois, segundo alguns autores), escoltando-os,
sozinha, ao acampamento.
Em 31 de março, no posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho
Interino da Província, uma espada e seus acessórios.
Finalmente, a 2 de julho de 1823, quando o "Exército
Libertador" entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi
saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe
o direito de portar espada. Na condição de Cadete, envergava uniforme de cor
azul, com saiote, além de capacete com penacho.
A heroína da Independência
Por seus atos de bravura em combate, o General Pedro Labatut, enviado por D.
Pedro para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete.
No dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo Imperador em
pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de
Cavaleiro, com seguinte pronunciamento:
"Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que
assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo,
prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da
Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem
Imperial do Cruzeiro".
Além da comenda, foi promovida a Alferes de Linha, posto em que se reformou,
tendo aproveitado a ocasião para pedir ao Imperador uma carta solicitando ao
pai que a perdoasse por sua desobediência.
Os últimos anos
Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de
Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.
Viúva, mudou-se para Feira de Santana em 1835, onde tentou receber a
parte que lhe cabia na herança pelo falecimento do pai no ano anterior.
Desistindo do inventário, devido à morosidade da Justiça, mudou-se com a filha
para Salvador, nas imediações de onde veio a falecer aos 61 anos de idade,
quase cega, no anonimato. Desconhece-se o local de seu túmulo.
Testemunhos
O pesquisador Aristides Milton, nas Efemérides Cachoeiranas, considera Maria
Quitéria "tão valente quanto honesta senhora".
A inglesa Maria Graham, por sua vez, deixou registrado:
"Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e
percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade
notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e
amáveis." (Journal of a voyage to Brazil)
Homenagens
Maria Quitéria é homenageada por uma medalha militar e por uma comenda com o
seu nome, na Câmara Municipal de Salvador. Do mesmo modo, a Câmara Municipal de
Feira de Santana instituiu a Comenda Maria Quitéria, para distinguir personalidades
com reconhecida contribuição à municipalidade, e ergueu-lhe um monumento na
cidade, no cruzamento da avenida Maria Quitéria com a Getúlio Vargas.
Por Decreto da Presidência da República, datado de 28 de junho de 1996,
Maria Quitéria foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais
do Exército Brasileiro. A sua imagem encontra-se em todos os quartéis,
estabelecimentos e repartições militares da Arma, por determinação ministerial.
Bibliografia
ALMEIDA, Norma Silveira Castro de; TANAJURA, A. Rodrigues Lima. José Antônio da
Silva Castro - o Periquitão. Salvador: EGBA, 2004. ISBN 85-903965-1-7
AMARAL, Braz do. História da Independência da Bahia. Salvador: Livraria
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MENDES, Bartolomeu de Jesus. A Festa do Dois de Julho em Caetité - do cívico ao
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PALHA, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército-Editora, 1962. p. 47-51.
SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Brasileiras Célebres (ed. fac-similar).
Brasília: Senado Federal, 1997.
SOUZA, Bernardino José de. Heroínas baianas.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Salvador: UNESP; São Paulo:
EDUFBA, 2001.
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